Euclides Rossignoli
Tem coisas que eu nem gosto de contar porque parece mentira. Mas eu vou contar.
Era o ano de 1966 ou 1967. Meu amigo Roberto Pellegrino, o italiano, morava aqui em Ourinhos, mas namorava a Maria Inês — com quem veio a se casar —, que também morou aqui, mas havia mudado para Campinas, de modo que, de vez em quando, o Roberto tinha que ir a Campinas para namorar.
Uma vez, lá em Campinas, como parte do namoro, o italiano e a Maria Inês resolveram ir ao cinema. E foram. Era o Cine Carlos Gomes. Famoso. Importante.
Chegaram, compraram ingressos e entraram. Viram dois lugares bem localizados, foram lá e sentaram. O Roberto achou que estava um pouco quente e tirou o paletó. Não passou muito tempo, veio lanterninha e dirigiu-se ao italiano:
— O senhor, por favor, queira vestir o paletó. Não é permitido ficar sem paletó.
O Roberto já se dispunha a atender, quando viu ali perto um sujeito sem paletó pelo qual o lanterninha passara sem se incomodar. Falou:
— Mas olha ali aquele senhor, também sem paletó!
Aí o funcionário fulminou-o com o seguinte argumento:
— É, mas aquele rapaz já veio sem paletó. O senhor, não. O senhor veio de paletó. O senhor não pode ficar sem paletó. Não é permitido.
Foi assim.
Anos 60 do século passado. O Cine Ourinhos, único cinema da cidade na época, foi todo reformado. A plateia ganhou cadeiras novas. O balcão ganhou poltronas e se tornou chique. Nele, estabeleceram os proprietários, os homens só podiam entrar trajando paletó.
No início ocorreram alguns desencontros e mal-entendidos. Houve quem quisesse entrar no balcão sem paletó e quem imaginasse precisar ir de paletó para ingressar na plateia. Era novidade também para as bilheteiras e porteiros.
Uma bela noite, o professor Luiz Cordoni resolveu ir ao cinema. Foi, comprou ingresso para a plateia e se apresentou ao porteiro para entrar.
— O senhor não pode entrar.
— Por que não? Para a plateia, que eu saiba, não precisa paletó!
— É, mas o senhor está de suspensório.
De fato, o professor Luiz Cordoni usava suspensório.
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Gama, o texto é tão nostálgico, faz relembrar os bons tempos que não voltam mais.
A música As time goes by é um clássico do cinema mundial.
Bom final de semana.
Abraçaço.
Antonio, reparou que foi preciso o Euclides para sabermos um tantico da vida do nosso imenso Roberto, como costumo chamá-lo? Não sei o porquê, mas sempre o imagino com 1.90m e de paletó xadrez, elegantíssimo… Não poderia tê-lo tirado mesmo.
Como é gostoso ler o professor…