A incompetência dos santos

 

           Annibal Augusto Gama

Annibal

 

 

 

 

 

 

Quando desaba uma tempestade furiosa, com raios e trovões, invocam-se Santa Bárbara e São Jerônimo. Não se invoca, por exemplo, para esses casos, Santa Teresinha, porque não é da sua área. E sou de crer que os próprios santos, segundo a jurisdição celeste, se invocados para o que foge à sua especialidade, dão-se por incompetentes. Enviam o pedido, ou a súplica, para o santo ou a santa cuja competência é reconhecida. E pode ser que a exceção de incompetência seja também arguida; mas por quem?

Santo Antônio é tido como o santo casamenteiro. Não se dirigem  a ele senão aqueles ou aquelas que querem casar-se e não encontraram parceiro ou parceira. E se ele não os atende, bota-se a sua imagem de cabeça para baixo.

Uma rádio de Ribeirão Preto, todos os dias, repete a oração a São Jorge. A oração até que é muito bonita, mas sabe-se que São Jorge foi cassado pela Igreja Católica, que sustenta que ele nunca existiu. Creio que este expurgo foi uma grossa tolice. São Jorge continua, com a sua lança, e montado em seu cavalo branco, a combater o dragão, na Lua. O povo nunca deixou de acreditar nele, na sua bravura.

No sincretismo religioso que domina a nossa crença, Nossa Senhora da Conceição é celebrada, e as baianas do candomblé a tem como Iemanjá, e vão até o mar atirar-lhe coroas de flores, para festejá-la.

Mas quantas feições tem a Virgem Maria, desde a Nossa Senhora Aparecida? 

Grande coisa seria alguém descobrir um santo até então desconhecido por todos. Pois eles devem existir, embora não se saiba deles 

A religião faz parte da nossa intimidade, da nossa infância. As regras para ela nunca deveriam ser absolutas. E assim como o Soldado Desconhecido, sepultado no Arco do Triunfo, em Paris, haverá uma multidão de santos desconhecidos.

Por isso, há também o Dia de Todos os Santos.

A cada minuto, entra uma alma no céu. Eu até acho que o inferno é que está despovoado, ou que, se existe, não funciona, como quer Murilo Mendes.

Deus não condena. Nós é que nos condenamos a nós mesmos. Mas pode ser que um dia também nos perdoemos.

 

“Sebastian” (Gilberto Gil / Milton Nascimento), com os dois

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3 comentários

  1. André
    14/04/14 at 19:37

    Gama, há quanto tempo eu não ouvia essa música de dois gênios. Me fez voltar no tempo e relembrar o passado.
    A crônica do seu pai é genial.
    Abraçaço.

  2. Lilian Tanajura
    16/04/14 at 12:19

    Caríssimo Dr.Gama Pai: na condição de muito amada “filha de Oxum”, não posso me calar diante do engano. No sincretismo religioso, Yemanjá, a senhora dos mares, é associada à Nossa Senhora da Glória ou Nossa Senhora dos Navegantes. Nossa Senhora da Conceição é Oxum, a senhora das águas doces, rios e cachoeiras. Como vê, “somos” totalmente diferentes… 

  3. 16/04/14 at 21:49

    Mestre, quando dirigir pelas ruas de Ribeirão, ou alhures, e rodar feito peru bêbado à procura de um espaço para estacionar, ei-la: Nossa Senhora da Boa Vaga.
    Invocai-a três vezes. É tchun!

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