Gabriel é um mensageiro divino, anunciador de novos tempos.
Coube-lhe, segundo os cristãos, anunciar as vindas de João Batista e do Messias, que celebraria a nova aliança com os homens.
Foi ele também o encarregado de revelar o Corão ao Profeta, conforme creem os mulçumanos.
Para os que professam outra fé, um outro Gabriel veio anunciar um mundo novo, uma realidade mágica envolta numa auréola de sonhos e encantos que transfiguraram o universo literário.
Os que habitam nesse universo paralelo podem viver cem anos de solidão, mas não podem viver sem palavras. É com palavras que dão sentido ao que são, ao que acontece, ao que sentem. São viventes tecidos de palavras, o seu modo de viver se dá na palavra e como palavra.
Por isso, conforme registra o discípulo Alberto Manguel em uma de suas epístolas, quando os habitantes da Macondo revelada por Gabriel foram atacados por uma espécie de amnésia progressiva, para não esquecer do que o mundo significava para eles, fizeram rótulos e os penduraram em animais e objetos: “Isto é uma árvore”, “Isto é uma casa”, “Isto é uma vaca, e dela se obtém o leite, que, misturado com café, nos dá café com leite”.
Viver para contá-la. Depois de muito nos contar e alumbrar, Gabriel se foi de mansinho, no seu outono de patriarca, crônica da uma morte anunciada.
Mas não haverá solidão. Por ter estado entre nós e deixado sua palavra, jamais estaremos sós.
“Dança da Solidão” (Paulinho da Viola), com ele e Marisa Monte
Gama.!!! que texto bonito. Gostaria de ter escrito. Nós todos temos alguns “anos de solidão” Gabriel vai e nos oferece 100 e de quebra nos disponibiliza uma literatura que vai nos acompanhar por uma vida. Beleza o seu texto e não poderia ser diferente.Parabéns
O texto é lindo, mas eu jamais leria um livro com o nome de Cem Anos de Solidão. Ainda mais sabendo que se trata da estória de uma família. Lendo o resumo do livro, imaginei que ele possa ter servido de inspiração para Incidente em Antares, de Veríssimo. O mais próximo que cheguei de Garcia Marquez foi assistindo ao filme O Amor nos Tempos do Cólera. Pesadíssimo, mas bom, excelente com a interpretação de Javier Barden, que até aparece nu por alguns instantes. Duvido que os Cem Anos (é tempo pra caramba!) consiga ser mais escuro e pesado do que O Amor nos Tempos do Cólera. O fato é que ambos me garantem uma boa distância de Gabriel.
Antonio, tão perfeitas as palavras, o sentimento…
“Cem Anos de Solidão” é um marco em minhas referências literárias.
Gabo para sempre conosco.
Nem pedi permissão. Linkei o Estrela, ainda agorinha, no Bloghetto.
Beijocas!
Gama, essa foi uma belíssima homenagem a Gabriel Garcia Marques – ele morreu fisicamente, mas sua obra é imortal.
A música é um clássico. Encontro de dois grandes: Paulinho e Marisa.
Abraçaço.
Estava me sentindo um pouco mal por não fazer (ou pelo menos tentar, ou aparentar, que fosse) parte da confraria dos admiradores do celebrado (e agora imortal, mesmo) Gabriel Garcia Marquez. Mas no domingo fui redimida por alguém que muito admiro: Diogo Mainardi. Solicitado por Lucas Mendes que fizesse uma homenagem a Garcia Marquez, Diogo respondeu que seria melhor que isso fosse pedido a Shakira. Lucas quis saber a opinião de Diogo sobre a obra de G.Marquez; ele disse que respeita muito, mas não gosta das hipérboles freqüentemente usadas por ele, reconhecendo, entretanto, que tal recurso, na época, foi muito impactante. Mas a honra da homenagem ele preferia transferir para Shakira. Agora, além da repulsa ao culto da depressão, também tenho as hipérboles a me separarem de Gabriel. Nada mal para quem nunca leu sequer uma linha escrita por ele. Mas… preciso enfatizar que o texto escrito pelo Dr.Gama em homenagem a Gabriel é belíssimo, inclusive convocando os anjos para que recebessem mais um entre eles. Além da admiração que o Dr.Gama efetivamente possa ter pela obra de Garcia Marquez, atribuo a beleza do texto à emoção do momento, e à própria paixão do escritor Gama pelas palavras, que se derramam como chuva de pérolas no papel, mansamente…