Selma Barcellos
Depois de alguma insistência, Rubem Braga resolveu aceitar o título de “Cachoeirense Ausente de 1951”, homenagem criada anos antes pelo irmão Newton para saudar os filhos ilustres da terra.
Rabugento que só, avisou às irmãs que não queria fazer discurso na praça, cumprimentar desconhecidos, nem ir ao Baile da Cidade. Não teve jeito. Fez os três.
A descontração só viria mais tarde, quando pôde enfim bebericar seu uisquinho com os amigos que levara ─ Vinicius, Millôr, Sabino, Otto Lara e Ceschiatti. No dia seguinte, apenas um compromisso oficial: inaugurar o aeroporto da cidade, tantas vezes reinaugurado e abandonado.
Hospedaram-se no melhor hotel de Cachoeiro de Itapemirim, nas proximidades da estação ferroviária, o que deixou os amigos desesperados com as manobras barulhentas das locomotivas madrugada adentro. Até que Millôr ─ ou teria sido Sabino? ou Vinicius?, ninguém sabe ao certo ─ , bateu no quarto de Braga:
─ Rubem, a que horas este hotel chega a Vitória?
Garotos formidáveis.
Mas que mania essa de ligar nossos brilhos literários e artísticos a aeroportos. Será que Millôr, a exemplo de Tom, vai virar um daqueles com forro desabando e urubus fazendo social com os passageiros?
Ele até sugeriu algo como “reconheço que nunca fiz nada para posteridade. Mas a posteridade bem que poderia fazer alguma coisa por mim. Por exemplo – me arranjar algum desses empréstimos a fundo perdido.” Não foi atendido
Braga, um apaixonado por jardins, virou nome de orquídea. Linda, vermelho-púrpura.
E Millorzinho, hein?
Rubem Braga no seu mítico quintal aéreo do apartamento em Ipanema
Sempre faltando um…
Antonio, no fim das contas, Millôr está feliz. No Largo com o nome dele, um banco panorâmico e sua silhueta vazada admirando o pôr do sol do Arpoador. Escapou do pavor do Quintana, que dizia: “Um erro em bronze é um erro eterno.” Melhor seria virar nome de flor rara, como nosso Braga, mas…
Em que pensava o mestre ali no banquinho de sua fazenda suspensa? Onde a estátua da Bruma amada? Em outro ângulo, talvez.
Selma, Tonzinho é que sofre com aquele aeroporto que não merece o seu nome, nem o “Samba do Avião”.
A alma dele chora…
Mestre André, quando passar por aqui mande-me por e-mail o endereço onde posso lhe deixar o livro de poemas que Adalberto enviou para você, autografado.
Abraçaço.
Gama, já enviei o e-mail com o endereço para entrega do livro. Por favor, depois me confirme se você recebeu.
Abraçaço.
Selma, eu adoro Millor Fernandes, acho seus textos de uma inteligência e eloquência únicas. (Detalhe: seu nome seria Milton, mas por erro ou descuido do escrivão, não sei, virou esse nome que o tornou único na literatura brasileira.)
Quanto ao Rubem Braga, também é perfeito, um cachoeirense ilustre – tal como o Poeta Rei Roberto Carlos.
Concordo com o Gama quanto ao aeroporto que leva o nome do Maestro Soberano.
Brilhante crônica essa de sua autoria (como se isso fosse novidade).
Beijoca!
“Aqui fala a Difusora de Cachoeira do Itapemirim, falando daqui para o mundo’. Era assim que na Rádio de Cachoeira., seu locutor abria seu programa diário. Verdade, Cachoeira acabou falando para o mundo e são muitos os cachoeirenses ilustres. Mas Rubem foi um especial. Falar do cronista é difícil e fácil…mas o bom mesmo é lê-lo.
Quando era ferroviário, em Vitória, apareceu na minha sala, Banal, estagiário de engenharia e eu seria seu “chefe”. evidente que ficou meu amigo. Banal era sobrinho de Rubem. um dia num bar em Vitória conheci seu irmão Afonso, músico, dois jovens maravilhas e muito chegados ao tio. O Irmão de Rubem tinha morrido recente e Afonso pegou o último “eletro” do pai colocou sobre uma pauta musical, colocou notas e nasceu uma bela canção. Lembro com se fosse hoje e falo de 1970/71, ouvindo a canção na casa de um amigo comum, Grijó, um belo baterista. Esse nunca mais soube. Assim é a vida..
Banal e Afonso eram dois jovens gênios. O Caminho de Afonso não sei, mas de Banal sei. O encontrei algumas vezes no Bracarense. Foi um belo, ou é , engenheiro do BNDES.
A crônica de Selma, dispensa comentários. Em poucas palavras falou tudo do mestre.
Agora vou discordar do meu amigo Gama. O aeroporto merece o nome de Tom, não é por passar por um momento especial e triste que o nome de Tom não o abrilhante e a todos que chegam ou saem.
O triste , existe uma lei, que nossas aeronaves, até as estrangeiras, obrigando a tocar o Samba do Avião na hora de pousar, não o tocam. Gama tem aeroportos pelo mundo pior do que o nosso Tom.
Um exemplo: nosso Museu de Arte Moderna ganhou uma matéria jornalística recente sendo esculhambado. Estive lá duas vezes essa semana por dever de ofício. Não vi nada a não ser pequenos pontos de falta de manutenção. Já vi o MOMA em NY pior.
Mas o tempo é do melhor e o melhor é o Rubem e a Mostra no Espaço Tom é maravilha. Mas já teve em São Paulo no Museu da Palavra.
Amigo, Gama temos uma imprensa autofágica. E já existe aqui no Rio um movimento forte e de pessoas sérias para denunciar esse denuncismo vazio e inexpressivo que nos impõem. Hoje mesmo no almoço do mês no Clube de Engenharia em um dos discurso, um engenheiro (edson) falou: Uma mídia que nos disponibiliza, Big B. tem moral em falar do nosso Museu, onde acontece uma das maiores e melhores mostras de esculturas já vista …
Uma sugestão colocar a carta de Rubem para Vinicius…obra prima…