A morte veste Prada

 

         Selma Barcellos

Selma (perfil)

 

 

 

 

 

 

 

  

“Todo dia leio cuidadosamente os avisos fúnebres dos jornais: às vezes a gente tem surpresas agradabilíssimas.”  

“A morte é dramática, o enterro é cômico, e os parentes, ridículos.”  

(Millôr Fernandes)

 

 

Surpresa é a notícia de que cresce no mercado o segmento ‘funeral de luxo personalizado’, tendência originada – pasmem! – nos EUA. Segundo os empresários, sucesso absoluto. Nenhum ‘homenageado’ voltou para reclamar. Quanto ao ridículo/cômico, ou nada disso, prossigam com a leitura.

Mansões, sobretudo em São Paulo, disponibilizam lounges fúnebres com decoração temática que alude a Paris e Nova York, bufês variados, manobristas, carro importado com LED para o transporte do féretro, trilha sonora – Enya, My Way, imprescindíveis – e doces, os bem-velados, distribuídos na saída, pequenos mimos para que os ‘convidados’ fiquem, digamos, satisfeitos (o morto, este sim, é um homem realizado).

Se a família preferir o evento em casa, para tudo há solução (menos para a dita cuja). Basta chamar o Funeral Home ou velório delivery. Até porque não existe segurança nos cemitérios à noite.

Uma promoter de funerais com glamour conta que tapete persa, música ao vivo e helicóptero lançando pétalas já foram atendidos. Lamenta apenas não ter podido realizar o último desejo de um cliente que queria pés de cana e limão sobre seu túmulo para “fazer caipirinhas eternamente”.

“Fico besta como morrem os personagens de Shakespeare, nem os passarinhos morrem com mais naturalidade, com mais simplicidade. Vede, o personagem faz um teatrozinho, é ferido (ninguém morre de cama, é tragédia!) e… morre. Morre assim nesta única palavra, dies. É ou não é formidável? Morrem numa palavra.”  (Otto Lara Resende)

Porém, em se tratando de oratória fúnebre, o bardo inglês é um mustSó não deixem a promoter saber.

 

 

 

4 comentários

  1. sonia kahawach
    14/05/14 at 17:47

    Selma, que delicia sua crônica, mesmo que falando sobre a morte que tanto tento nem pensar rsrsrs
    Realmente ri um bocado imaginando as cenas. E os bem-velados….. impagável!
    Deliciosa de ler e imaginar. Parabéns sempre. Beijos

  2. 14/05/14 at 18:38

    I did it my way, Sonia.

    Beijocas mil!

  3. André
    14/05/14 at 21:54

    Selma, de todas as geniais crônicas que você escreve – esta, em especial, é toda dotada de um humor muito inteligente e refinado -, a de hoje é mais uma. Parabéns.
    Beijoca!

  4. 14/05/14 at 23:08

    André, você não disse que foi de uma reflexão fecunda… 🙂
    Beijocas!

Deixe um comentário

Yay! You have decided to leave a comment. That is fantastic! Please keep in mind that comments are moderated. Thanks for dropping by!