Dona Eloá e seu marido elefante

 

             Annibal Augusto Gama

Annibal

 

 

 

 

 

 

Ele era um elefante no tamanho e na gordura, mas sua mulher, Dona Eloá não era. Ao contrário, pequenina e magrinha.

Como é que eles se arranjavam na cama, não sei, mas suponho que ele devia esmagá-la com o seu peso. Também ignoro como ele conseguira Dona Eloá. Acho que talvez não fosse antes tão gordo, mas devia já ser grande, um metro e noventa de altura.

Dona Eloá era a delicadeza em pessoa, e veio me consultar. Queria que eu o aconselhasse a fazer aquela cirurgia que tira metade do estômago, e um regime alimentar frugal.

Dona Eloá, eu lhe disse, não posso fazer nada se ele mesmo não vier me procurar, estes assuntos são muito pessoais. Então eu fico doente, isto é, finjo que estou doente, de cama, e lhe telefono. O senhor vai à minha casa, ele estará lá, e o senhor o aconselha.

De fato, dois dias depois me telefonou, e fui lá. Foi ele que me recebeu na porta, e atravancava a passagem. O senhor é o médico para quem minha mulher telefonou? Entre, ela está na cama, e o senhor a examina e receita. Entrar como, se ele atravancava a passagem, na porta?

Afinal, ele se desvencilhou e entrei. Fui para o quarto e simulei examinar Dona Eloá. Uma febrícula, ela esta enfraquecida, mas vou fazer-lhe uma receita, e ela logo ficará boa. Receitei-lhe umas pílulas inócuas.

Quanto é, doutor? Olhei para ele e lhe ponderei. O senhor é e que precisa tratar-se. Com todo este peso, o coração não aguenta. Três papadas sobre o queixo, a barriga enorme. Me sinto muito bem. O senhor é que pensa, ninguém pode estar bem com todo esse peso.

Dois dias depois, ele surgiu no meu consultório. Minha mulher já está bem, e aceitei a sugestão dela em vir consultá-lo. Levei-o para a balança, e ele quase a arrebentou. Pesava mais de duzentos quilos.

O senhor precisa fazer uma cirurgia, tirar metade deste estômago, e depois entrar num regime alimentar, para não tornar a engordar. Eu, doutor?! Está doido? Não vou para a mesa de operação de jeito nenhum. Na minha gordura é que está o meu êxito na vida. E a sua mulher, não pensa na sua mulher? Ora, damo-nos muito bem. Não o convenci, e só pude recomendar-lhe um regime dietético. Ele olhou o que eu havia escrito, e riu. Isto aqui eu como em dois minutos, e preciso logo de outra refeição substancial.

Pobre Dona Eloá, não havia solução para o elefante do marido dela. Dona Eloá, telefonei para ela, o seu marido é recalcitrante, não posso fazer nada. Vá vivendo com ele, como puder. Então, doutor, trate também de me fazer engordar. Outro regime alimentar. Ela engordou sessenta quilos, e os dois elefantes, agora, pastam no mesmo pasto.

Há sempre um elefante para uma elefantinha.

 

elefantes 3

 

 

 

4 comentários

  1. sonia kahawach
    02/06/14 at 12:01

    Pra tudo há uma solução. E se não pode vencer o forte, iguale-se a ele, não é?

  2. 02/06/14 at 19:23

    Quer dizer que Eloá virou aliá?

    Abuso desse elefante recalcitrante.

  3. André
    02/06/14 at 20:15

    Crônica perfeita (como se isso fosse novidade).

  4. Talita Batista
    03/06/14 at 21:50

    Narrativa bem feita, detalhada, mas não gostei de seu conteúdo por ser realista demais.

Deixe um comentário

Yay! You have decided to leave a comment. That is fantastic! Please keep in mind that comments are moderated. Thanks for dropping by!