Annibal Augusto Gama
Não sei onde ouvi ou li esta palavra, nem tinha à mão, na hora, um dicionário, mas ela ficou me martelando na cabeça. Parecia o nome de alguma doença inconfessável. Até que dei com o Prof. Lopes, um sábio, na porta da Farmácia Modelo, e lhe perguntei o que era ou queria dizer o tal de suarabácti,
O professor olhou para o céu, e depois me bateu a mão no ombro:
─ Cáspite! Faz mais de vinte anos que não ouço ninguém falar em suarabácti! Onde é que você encontrou a palavra?
Provavelmente, os antibióticos haviam acabado com o suarabácti, como acabaram com a gonorréia.
Mas não era nada do que eu supunha, e o professor explicou:
─ Suarabácti, meu caro amigo, é uma alteração fonética que consiste na intercalação de uma vogal para desmanchar um grupo consonantal. Diz-se também “anaptixe”. Por exemplo; “adevogado”, por advogado, “peneu”, por pneu, “taramela”, por tramela.
Ora, ora…
Agradeci ao professor e fui saindo. E ele permaneceu rindo, na porta da farmácia.
Fui para o Bar e Bilhar do Nilo, entrei, e experimentei no Elesbão, que é um cretino:
─ Você não tem vergonha na cara, seu pervertido? Fazer suarabácti no bordel da Ambrosina…
Todos olharam reprovativamente para o Elesbão, e ele pegou o taco, ameaçadoramente.
─ Repita o que está dizendo que lhe parto a cara!
─ Pois pergunte antes ao Professor Lopes, foi ele quem me disse, na porta da Farmácia Modelo.
Ele estava com as mangas da camisa arregaçadas, e eu tirei o paletó.
─ Bom será que não lhe caia a língua, depois do suarabácti. Se eu fosse você, ia logo tomar uma dose cavalar de antibiótico, porque a coisa é grave e contagiosa. E não me encoste, antes de se tratar.
Todos se afastaram do Elesbão, e ele empalideceu.
─ Vou já falar com o Doutor Magalhães, e depois volto para lhe quebrar a cara.
─ Não é preciso, seu bestalhão, porque eu já tenho o antibiótico no bolso. Suarabácti é meter uma vogal num grupo consonantal, para desfazê-lo. “Adevogado”, por advogado, “peneu”, por pneu.
Todos caíram na gargalhada. Ainda assim, o Elesbão correu atrás de mim, com o taco na mão, até a porta do bar.
─ Engraçadinho! Moleque! Vá gozar a mãe!
Quando ele se acalmou, retornei ao bar e perguntei ao pessoal:
─ Como é, gente, vamos ou não vamos jogar uma partida de sinuca?
De noite, na Ambrosina, sugeri à Loreta:
─ Vamos fazer um suarabácti?
Ela se ergueu da cadeira, os olhos fuzilando.
─ Quem é que você pensa que eu sou? Seu descarado, seu tarado! Não me encoste a mão, e saia já daqui!
Foi um custo convencê-la que ela mesma praticava o suarabácti todos os dias.
A coisa se espalhou, e todos vinham perguntar-me que estória era aquela do suarabácti. Mas alguns ainda continuam duvidando.
O Prof. Lopes me disse:
─ Pelo menos, você divulgou o suarabácti. Mas tenha cuidado, não exagere, não deturpe a língua, que é preciosa.
Gama, eu não conhecia as palavras suarabácti e anaptixe e dei boas risadas com elas, agora eu já posso também incorporá-las ao meu vocabulário. Acho que há um vício de linguagem mais ou menos assim, não lembro se é o barbarismo ou o solecismo. Mas eu procuro sempre manter um rigor estilístico com a “última flor do Lácio, inculta e bela”.
Abraçaço.
Ah, Dr. Annibal, cinco dedinhos de prosa com o senhor…
Crônica sem “adiversão” . A diversão.
Beijocas de fã!
Simplesmente genial!!! Como o desconhecido está tão próximo de nós. O bestalhão aqui, que um dia teve um chefe chamado Elesbão. deu boas gargalhadas.
Elesbão, bestalhão Suarabacti. Duas velhas amigas esquecidas e uma nova “aprendida”
Pela genialidade do texto, tiro meu chapéu e agradeço.