Selma Barcellos
Reúnem-se regularmente. Almoços sem hora para acabar. Amigos irmãos. Beijam-se na chegada e na saída. No cardápio, caipirinhas, abobrinhas, queixas da patroa, das tungadas do governo, da próstata, atualização do obituário, piadas (repetidas à exaustão) e “olha a gostosa que entrou”, “mas é bom demais ser avô”, “tô tomando ginkgo, a memória tá outra”…
Já aconteceu daquele que não bebe – o “transporre” – tocar a campainha, conduzir o ruinzinho até o sofá da sala, sob o olhar fulminante da mulher, e sair batido. Ou preencher, a pedido de outro alegrinho, seu cheque do rateio e, de troça, anotar uma quantia absurda no canhoto, sem data nem local, para desespero da criatura amnésica ao se deparar com a cifra dias depois.
Toca o celular e meu marido me pede que fale com um deles.
_ Oi, Brito, tudo bem?
_ Tudo ótimo! Selma, lembra do MARIO?
_ Claro, aquele que te… Brincadeira, Brito. Peraí. Mario… Mario… da Rita? Os que moraram no mesmo bloco da gente em Brasília?
_ Não, o MARIO de Mediar, Ansiar, Remediar, Incendiar e Odiar! Estão aqui caindo na minha pele, apostando que é “intermedia”. Fala aí, professora, não é “intermedeia”?
_ Quanto vale a aposta? Quero 10%.
Ouvi as gargalhadas. Meninos no pátio do recreio. Companheiros de uma vida.
Por eles um anjo intermedeia.
P.S.: Mal o marido chegou, chamei-o para ler o post. Emocionado, tirou do bolso o bilhete acima.
Em três atos
(ou, com o bilhete, quatro)
uma peça de teatro
que define a amizade.
Densidade e sutileza
misturadas…
– Que beleza!!!
Brenno, você e Antonio também definem amizade… Coisa mais linda.
Selma, eu adoro me divertir com os amigos, sair com eles, jogar conversa fora, tomar uma cerveja geladíssima. O Mário da crônica é a formula minemônica para decorar os verbos irregulares que terminam em -iar.
Ótimo texto, como sempre.
Beijoca!
Como aquelas fórmulas facilitavam a aprendizagem, André…
Os “The Friends” foram todos alunos aplicados, conheço-os bem, mas, a partir do terceiro uisquinho, ninguém conjuga mais nada ali.
Selma, se ontem falávamos de pérolas no seu Bloghetto, os seus textos de hoje aqui na nossa Estrela são como o brilhante daquela canção do Tonzinho, “que partindo a luz / explode em sete cores / revelando então os sete mil amores” que os amigos guardam em si.
Sete mil beijocas.
Pérolas lunares enfeitaram o Bloghetto ontem… Maria, Bell, Carol, Júlia e ela, lá vem ela, a Manuela.
Ficou ótimo assim, Antonio, em três atos. Adorei.
Sete mil mais sete mil beijocas.
maravilha. Essa história é um canto e me encantei com ela.
Paulinho, você sabe tudo de fazer amigos. PhD.