Os “The Friends”

 

     Selma Barcellos

Selma 2

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Reúnem-se regularmente. Almoços sem hora para acabar. Amigos irmãos. Beijam-se na chegada e na saída. No cardápio, caipirinhas, abobrinhas, queixas da patroa, das tungadas do governo, da próstata, atualização do obituário, piadas (repetidas à exaustão) e “olha a gostosa que entrou”, “mas é bom demais ser avô”, “tô tomando ginkgo, a memória tá outra”…

Já aconteceu daquele que não bebe – o “transporre” – tocar a campainha, conduzir o ruinzinho até o sofá da sala, sob o olhar fulminante da mulher, e sair batido. Ou preencher, a pedido de outro alegrinho, seu cheque do rateio e, de troça, anotar uma quantia absurda no canhoto, sem data nem local, para desespero da criatura amnésica ao se deparar com a cifra dias depois.

Toca o celular e meu marido me pede que fale com um deles.

_ Oi, Brito, tudo bem?

_ Tudo ótimo! Selma, lembra do MARIO?

_ Claro, aquele que te… Brincadeira, Brito. Peraí. Mario… Mario… da Rita?  Os que moraram no mesmo bloco da gente em Brasília?

_ Não, o MARIO de Mediar, Ansiar, Remediar, Incendiar e Odiar! Estão aqui caindo na minha pele, apostando que é “intermedia”. Fala aí, professora, não é “intermedeia”?

_ Quanto vale a aposta? Quero 10%.

Ouvi as gargalhadas. Meninos no pátio do recreio. Companheiros de uma vida.

Por eles um anjo intermedeia.

 

P.S.: Mal o marido chegou, chamei-o para ler o post. Emocionado, tirou do bolso o bilhete acima.

 

 

8 comentários

  1. Brenno
    26/06/13 at 12:00

    Em três atos
    (ou, com o bilhete, quatro)
    uma peça de teatro
    que define a amizade.
    Densidade e sutileza
    misturadas…
    – Que beleza!!!

  2. André
    26/06/13 at 14:54

    Selma, eu adoro me divertir com os amigos, sair com eles, jogar conversa fora, tomar uma cerveja geladíssima. O Mário da crônica é a formula minemônica para decorar os verbos irregulares que terminam em -iar.
    Ótimo texto, como sempre.
    Beijoca!

    • 26/06/13 at 21:29

      Como aquelas fórmulas facilitavam a aprendizagem, André…
      Os “The Friends” foram todos alunos aplicados, conheço-os bem, mas, a partir do terceiro uisquinho, ninguém conjuga mais nada ali.

  3. 26/06/13 at 18:29

    Selma, se ontem falávamos de pérolas no seu Bloghetto, os seus textos de hoje aqui na nossa Estrela são como o brilhante daquela canção do Tonzinho, “que partindo a luz / explode em sete cores / revelando então os sete mil amores” que os amigos guardam em si.
     
    Sete mil beijocas.
     

  4. 26/06/13 at 21:35

    Pérolas lunares enfeitaram o Bloghetto ontem… Maria, Bell, Carol, Júlia e ela, lá vem ela, a Manuela.
    Ficou ótimo assim, Antonio, em três atos. Adorei.
     
    Sete mil mais sete mil beijocas.
     
     

  5. paulinho lima
    27/06/13 at 1:27

    maravilha. Essa história é um canto e me encantei com ela.

  6. 29/06/13 at 11:54

    Paulinho, você sabe tudo de fazer amigos. PhD.

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