Selma Barcellos
For God’s sake, é abril, mas não invento. O Reino Unido de Elizabeth II, a Fofa (amo-a de chapeuzinho roxo), aderiu à tal Festa do Feromônio, recentemente, em East London. Foi o primeiro encontro do tipo.
Dá-se assim: você dorme sem perfume ou desodorante por três noites seguidas com a mesma camiseta de algodão, guarda a peça num saco plástico bem vedado e leva a embalagem para a festa. Ao adentrar o recinto, recebe um rótulo azul ou rosa a ser colado no saquinho, um número (só você conhece sua senha), e tem a preciosidade espalhada numa mesa do pub. Os fregueses cheiram a camiseta, escolhem a preferida e são fotografados com a peça eleita. A imagem é projetada na parede e se você gostar de quem gostou do seu cheiro, pode começar a paquera.
Vejam, concidadãos. Nada contra o objetivo da empreitada. Profeta Millôr já dizia que se Deus fosse contra a paquera não teria feito o pescoço com tal mobilidade. Mas, o pescoço, não o nariz, assim, onde não foi chamado. Façam-me o favor.
Ainda na semana passada, nosso “Rio de Sempre” abordava o tema com legítima nostalgia, perguntava pelo olhar 43, a piscadela, o fiu-fiu, os piropos delicados… A blogueira, dessas que têm saudade até do futuro, em se tratando de cheirinho, perguntava pelo Vetiver deles, pelo Muguet delas… Estes, sim, colavam na roupa da sloper da alma.
O que escreveria mestre Braga sobre tais esquisitices, hein? Ele, o ‘velho urso’ de olhar sem cerimônia, que, um dia, a caminho de um final feliz, viu nascer-lhe uma flor na lapela.
Coisa mais linda, li há pouco, o galanteio do Paulo Rónai para Nora, ao receber a primeira ilustração que ela fizera para um livro dele: “Você não pode contribuir em todos os aspectos da minha vida?” Aaaah, teve jogo… Por décadas.
Sejamos sinceros, a notícia que vos trouxe não muda os rumos da humanidade. Sequer merecerá uma pesquisa do Ipea. Mas vale como registro de tempos bizarros. Pouca sutileza, escasso romantismo, raras delicadezas. Muita gente só, vendo a festa da janela… Trancada do lado de fora da vida.
Cada dia mais linda, você, hem… Adorei o tema, especialmente porque notícias assim nunca leio. E como não gosto dos outros tipos de notícia, acabo não lendo nada, não ouvindo nada, porque a realidade, descrita nos jornais, me irrita profundamente. Sou uma exilada em minha própria pátria (esta última palavra só deve, ainda, constar no vocabulário porque faz parte do Hino Nacional). Não sei como é na terra de Sua (fofa) Majestade, mas aqui no Brasil dificilmente se poderia confiar numa camiseta do tipo, porque, com toda certeza, adulterariam o cheiro. Imagino duas situações: os caras que iriam , de brincadeira, deixar o cheiro mais nojento possível e os que manipulariam o cheiro. No caso das mulheres, “todas” as camisetas teriam o cheiro adulterado, para melhor, claro, porque, segundo dizem, homem tornou-se algo raríssimo de se encontrar, conforme até pode ser atestado pela propaganda com o artista Malvino Salvador que, muito bravamente, tenta arrastar outros do gênero masculino para o tipo “macho”. Como vê, não sou eu que sou pessimista, a própria mídia já percebeu, e tenta, talvez num último recurso, preservar o tipo macho, antes que todos nos esqueçamos como é, ou como foi, ou como teria sido. Também achei muito doce a estória com a pergunta do “você poderia contribuir em todos os aspectos da minha vida?”. Mulher alguma resistiria a uma cantada como esta, pois, certamente, veio do fundo do coração, de tão original que é. Deve ter rolado muito jogo e, nesse caso, começou muito bem, possivelmente com dias de sonho, daqueles que nos transfornam para a vida toda…
Lilian, creio que por lá, com um povo tido como o de maior nível de educação do mundo, tudo tenha acontecido dentro dos moldes propostos. Mas que é bizarro, é. Não conseguiria me ver em tal situação, nem à guisa de brincadeira.
Também me encantou a elegância amorosa do escritor Paulo Rónai para sua Nora. Viveram um casamento felicíssimo, e ela é uma graça de mulher em seus inacreditáveis 90 anos.
Beijocas!
Selma, eu percebi que a foto que ilustra seus magníficos posts de quarta-feira foi alterada. Adorei a mudança. Foi uma boa renovada.
Crônica excelente e de uma reflexão fecunda. Parabéns.
Beijoca!
Levantei do banquinho, André!
Beijocas!