Este fado bestial também é indicação da Selminha.
[youtube]https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=aGMiaRCuQUM[/youtube]
Este fado bestial também é indicação da Selminha.
[youtube]https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=aGMiaRCuQUM[/youtube]
Num churrasco na casa do tio-avô Antônio Hilário (meu cunhado), Manuela se encantou com duas pequenas laranjeiras e um limoeiro carregados de frutos no fundo do belo quintal.
Como ela insistia em colher as laranjinhas e os limõezinhos ao seu alcance, ainda verdes, Babu quis lhe explicar e ensinar o tal de manejo sustentável.
Mostrei-lhe a laranjeira maior, cujo tronco se repartia, e lhe disse:
― Manu, veja só: esta aqui é a mamãe, e este aqui é o papai (referindo-me a cada uma das ramificações do tronco). As laranjinhas são as filhinhas, e elas estão muito pequenininhas. Precisam ficar com a mamãe e o papai para crescer. Então você não pode tirar elas daí…
Ela acompanhou minha “aula” atentadamente. Aproximou-se da árvore e de repente, com um sorriso zombeteiro, indicou com o dedinho certo ponto da anatomia do caule, recoberto de musgo:
― Esta aqui que é a mamãe, Babu!
Ao olhar com mais atenção, entendi o porquê da afirmação categórica.
Tratei de tirar a foto abaixo para registrar a comprovação científica.
Vivendo e aprendendo, Babu!
Bell pede que se leia a crônica dela abaixo ao som desta canção
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=-g83_ZRGM48[/youtube]
“Você vai amar esse lugar: lá tem um boteco que você toma uma cerveja gelada na sombra de uma árvore imensa e pode pular no rio imediatamente” – Foi assim que Gill (minha melhor amiga) me descreveu Caraíva certa de que toparia mais uma viagem. Em 2012 viajei muito! Fui para o Rio de Janeiro algumas vezes, para Buenos Aires tantas outras, trabalhei no Sul do país, conheci Vitória, passei um fim de semana incrivelmente relaxante em Ubatuba, vivi aventuras sozinha em Londres, Edimburgo e Dublin e decidi que deveria fechar meu ano neste lugar na Bahia, que sempre me acolheu.
Cervejinha com Marcella e pôr-do-sol no Boteco do Pará, em Caraíva
Há alguns anos não ligo mais tanto para o Réveillon. Antes, eu achava inadmissível passar a virada em um lugar que não fosse incrível. Com o passar do tempo esse furor passou e vi que viajar nesta época do ano é sinônimo de gastar muito dinheiro e passar perrengue. Por isso passei as últimas viradas na casa dos meus pais, na pacatíssima Ribeirão Preto. Desta vez, decidi que precisava de mar.
Caraíva, o paraíso
Caraíva fica no extremo sul da Bahia e tem 1.000 habitantes fixos. O acesso de avião é por Porto Seguro. De lá, se pega um carro fretado, enfrentam-se duas horas numa estrada de terra tensa e se chega a um rio. Depois de pegar a canoa, é deixar a vida do outro lado da margem. E eu deixei. Em Caraíva quase não há sinal de celular, não tem 3G, a luz chegou há pouco mais de 3 anos e não suporta a quantidade de turistas. Portanto, toda a vila tem luz baixa, bem baixa. Não há postes com energia nas ruas, anda-se com lanternas. As pousadas que têm ar-condicionado e ventilador de teto não conseguem cumprir o prometido. Eles imploram para você não usar o secador de cabelo e tomar banho frio. As ruas são todas de areia e sua batata da perna fica mais forte do que pedra. Uma vez lá, seu principal aliado é um par de havaianas. Mas tudo isso vale a pena.
Este é o cenário ao chegar em Caraíva. Canoas te esperam para fazer a travessia. A vila de Caraíva está do outro lado da margem. A vida fica deste.
Vivendo um dia de Tieta na frente da igreja de Caraíva: areia por todos os lados
Em Caraíva os turistas não aplaudem o pôr-do-sol e sim a chegada da lua. O sol se põe no rio. A lua, chega linda, gigante e incandescente pelo mar. De laranja se torna branca e abre uma trilha de luz pelas águas. É tão impressionante que a minha amiga Marcella dizia que seu sonho era seguir aquela trilha de luz. Com a ausência de luz elétrica, as estrelas ficam impressionantemente baixas. Dá para quase tocar o céu. Assistir a esse espetáculo diariamente é algo inesquecível.
Lua nascendo no mar de Caraíva.
A praia de Caraíva é linda e tem o melhor dos mundos: um rio que se encontra com o mar. Logo cedo, a maré está baixa e o rio fica com uns bancos de areia que você pode caminhar por dentro das águas. Aos poucos, o mar toma conta do rio que vai ficando salgado. Todo mundo fica o dia todo flutuando lá e o mar até perde um pouco da sua beleza diante da paz que o rio traz.
A praia: rio e mar
Cheia de verde, Caraíva parece ter sido esculpida por um jardineiro bem experiente. Plantas se misturam a árvores frutíferas e flores. Muitas flores explodem cores pelas ruas. Caraíva enche os olhos de cor e luz, dia e noite.
O verde colorido de Caraíva
Minha flor preferida coloria todos os lugares.
Se não bastasse toda a natureza, as pessoas de lá são ainda mais belas e puras. Os habitantes locais se esforçam para atender os turistas estressados (na maioria cariocas e paulistas). Eles não nos atendem mal. Aliás, são super solícitos. No entanto, têm seu ritmo próprio. Não chegue para comer com fome. A comida vai vir, mas vai demorar. Por lá é tudo meio assim: “Até tinha, mas não tem”, “É meio difícil”, tudo com um sorriso no rosto de desbancar qualquer estressadinho.
Até esperando a comida, você sorri!
Gill e Capiau
As crianças são um capítulo a parte. Lindas, ajudam os pais, respeitam a natureza, dizem “por favor” e “obrigado” e andam livres e soltas pela vila se transformando em um exemplo de liberdade para qualquer um.
Crianças livres jogando uma sinuca improvisada em um caixote com bolinhas de gude a margem do rio
Pagamos bem caro por uma pousada incrível, a “Casinhas da Bahia” que tinha um jardim espetacular com uma espreguiçadeira e uma ducha gelada em um tronco de árvore que ficará para sempre na minha memória. Gill, Marcella, Vina e eu sabíamos que passaríamos por alguns perrengues mas nos demos o luxo de reservar com muita antecedência a pousada e o voo. Mesmo assim foi caro. Mas, tem como o paraíso ser barato?
O meu lugar na pousada
Em Caraíva eu deixei toda a minha vida programada em pausa e tentei escutar meu corpo e meus sentimentos. Acordava a noite porque estava calor. Saía do quarto de madrugada, tomava uma ducha e lá fora e deitava na espreguiçadeira até ter sono de novo. Comi quando tive fome. Bebi quando estava a fim. Fui a praia quando quis. Não tinha relógio, nem compromisso, nem celular. Li muito. Tive mil insights. Observei ainda mais.
Vina e eu fazendo nosso caminho diário para a praia
Conversei com meus amigos sobre assuntos tolos que a gente nunca conversa. Gill virou Amora, Marcella virou Yayá, Vina virou Gabriela e eu virei Béo. Experimentamos um passeio de bugue incrível que nos levou para Corumbau, uma outra praia paradisíaca nas proximidade. Vivenciamos a sensação de flutuar no mar com um Stand up Paddle.
Bugue para Corumbau depois de dias sem ouvir o barulho de um motor
Praia de Corumbau
Sem o Google do lado discutíamos horas sobre porque o vagalume brilha, quantos metros tem a onda do tsunami, porque o preto esquenta mais e claro, sobre o Monte Pascoal. Na ída para Caraíva é possível ver o monte que figura nos livros de história. Nossa curiosidade infantil pelo monte foi lembrada durante toda a viagem. Caraíva deve ter sido um dos primeiros lugarejos onde os portugueses chegaram. Mesmo mais de 500 anos depois, por lá ainda vivem índios e a natureza é lindamente intocada. Os portugueses acharam Caraíva. Por sua vez, Caraíva me ajudou a me descobrir mais e eu a descobri.
Eu refletindo Caraíva
Bell Gama
Dezembro de 2012 e Janeiro de 2013
PS: Texto dedicado aos meus queridos Gill, Marcella e Vina, que se aventuraram em mais uma descoberta comigo. Obrigada a Felipe Pereira (Capiau), Larissa e Fernanda que também dividiram essa viagem com a gente!
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=5_mKW0KIKas[/youtube]
Leila Pinheiro, “Acaso” (Ivan Lins/Abel Silva)
Sob uma estrela pequenina
Wisława Szymborska
Me desculpe o acaso por chamá-lo necessidade.
Me desculpe a necessidade se ainda me engano.
Que a felicidade não se ofenda por tomá-la como minha.
Que os mortos me perdoem por luzirem fracamente na memória.
Me desculpe o tempo pelo tanto de mundo ignorado por segundo.
Me desculpe o amor antigo por sentir o novo como primeiro.
Me perdoem, guerras distantes, por trazer flores para casa.
Me perdoem, feridas abertas, por espetar o dedo.
Me desculpem os que clamam das profundezas pelo disco de minuetos.
Me desculpe a gente nas estações pelo sono das cinco da manhã.
Sinto muito, esperança açulada, se às vezes me rio.
Sinto muito, desertos, se não lhes levo uma colher de água.
E você, falcão, há anos o mesmo, na mesma gaiola,
fitando sem movimento sempre o mesmo ponto,
me absolva, mesmo se você for um pássaro empalhado.
Me desculpe a árvore cortada pelas quatro pernas da mesa.
Me desculpem as grandes perguntas pelas respostas pequenas.
Verdade, não me dê excessiva atenção.
Seriedade, me mostre magnanimidade.
Ature, segredo do ser, se eu puxo os fios de suas vestes.
Não me acuse, alma, por tê-la raramente.
Me desculpe tudo, por não poder estar em toda parte.
Me desculpem todos, por não saber ser cada um e cada uma.
Sei que, enquanto viver, nada me justifica
já que barro o caminho para mim mesma.
Não me julgue má, fala, por tomar emprestado palavras patéticas
e depois me esforçar para fazê-las parecer leves.
(tradução de Regina Przybycien)
O infausto ano de 2012 foi marcado por grandes tragédias, como o tsunami corintiano no Japão, a derrocada dos verdes que se poluíram no Campeonato Brasileiro ― o evento mais importante do país, após o Carnaval ―, a condenação injusta e arbitrária dos réus do inexistente Mensalão, a reeleição do tirano Obama nos EUA, a famigerada “Primavera Árabe”, que provocou a queda de sublimes líderes que com tanto esforço e em pouquíssimo tempo de governo conduziam à grandeza aqueles pobres países, sem dizer da incomensurável decepção com o fiasco do fim do mundo em 21 de dezembro último e o frustrante adiamento para o longínquo ano de 2016 (imagina, depois da Copa!) da entrada em vigor do revigorante (Des)Acordo (T)Ortográfico.
No nosso deserto de homens e ideias, depois de Millôr Fernandes (esperava-se o dilúvio), Ivan Lessa, Chico Anysio, morreram de forma absolutamente incompreensível, na flor da idade e na plenitude da lucidez, outros ícones brasileiros como Oscar Niemeyer e Dona Canô, e até mesmo os jovens e promissores poetas Décio Pignatari e Lêdo Ivo!
Diante desse cenário dantesco, pouco se podia esperar e muito havia a temer da noite de réveillon.
Eis o resumo de alguns dos fatos lamentáveis apurados pelos nossos solertes repórteres de plantão.
Por volta da meia-noite, o pedreiro Pedro, depois de beber alguns copos de cerveja e de vinho “Chapinha” com amigos e parentes, empunhou a faca que havia afiado à tarde e avançou na direção de seu sogro, o idoso Fortunato, sentado à cabeceira. Entregou-lhe a arma branca para que ele destrinchasse o peru, morto de véspera depois de ingerir cachaça, enquanto os convivas, indiferentes ao ato insano, estouravam as rolhas de plástico de diversas garrafas de cidra e cantavam “Adeus ano velho, feliz ano novo…”.
Pouco antes, o estudante João Paulo, na companhia da namorada Maria da Graça, foi flagrado por mais uma “Operação Lei Seca” quando dirigia em baixa velocidade o veículo Gol, de propriedade da Paróquia de São Genaro. Submetido ao teste do bafômetro, confirmou-se que não havia ingerido bebida alcoólica, como afirmava. Depois de ser cumprimentado efusivamente pelos policiais, exibiu-lhes sua habilitação e os documentos do carro, esclarecendo que estava conduzindo o automotor que não lhe pertencia porque o Padre Carmelo, que se achava no banco traseiro, com o cinto de segurança atado, havia exagerado um pouco na dose de vinho no momento da Consagração na missa que acabara de rezar e lhe pedira para dirigir. O vigário, que ia cear e celebrar o noivado do jovem casal na residência dos pais de moça, confirmou integralmente a versão do rapaz.
Por último, na velha e ilustre casa do Dr. Pelópidas Azeredo Filho, sita na Rua das Acácias, o espoucar dos fogos de artifício acordou sua bisneta Manuela e irritou o cachorro da família que atende por “Neguinho”, denominação politicamente incorreta que lhe deram por causa da cor do seu pelo. Depois de sair na varanda e ladrar, protestando contra a barulheira, ainda maior com o soar dos sinos e das buzinas dos automóveis, o cão voltou para o interior da residência, saltou sobre Manuela e se pôs a lambê-la. Em seguida, a menina e o cachorro passaram a brincar e correr pelos cômodos, sem que os familiares nada fizessem.
Esperamos e desejamos a todos os leitores que o ano de 2013 que se inicia, apesar dos seus algarismos finais preocupantes (menos para o Zagallo), seja bem melhor do que o funesto 2012.
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=qHjlfHqRAs8[/youtube]