“A vida que eu sonhei
no tempo que eu era só
Nada mais do que menino
Menino pensando só”
“Todo menino é um rei” (Nelson Rufino / Zé Luiz), com Roberto Ribeiro
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=iQlXmb86psI[/youtube]
“A vida que eu sonhei
no tempo que eu era só
Nada mais do que menino
Menino pensando só”
“Todo menino é um rei” (Nelson Rufino / Zé Luiz), com Roberto Ribeiro
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=iQlXmb86psI[/youtube]
RECORDO AINDA…
VIII
Mário Quintana
(Para Dyonelio Machado)
Recordo ainda… e nada mais me importa…
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta…
Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança…
Estrada afora após segui… Mas, ai,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iluda o velho que aqui vai:
Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino… acreditai…
Que envelheceu, um dia, de repente!
Para aquela que me trouxe de volta a criança de mim.
Edição e narração de José Márcio Castro Alves
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=TIM2J7MRKC0&feature=BFa&list=ULpjo7ew_ySEE]
As quatro estações
Eis que afinal, mansamente,
o outono se entranha com seus tons
de marrons, beges, vermelhos breves,
que não são do outono em Paris,
mas daquele em que me fiz.
A primavera longeva da infância,
com sua ânsia de florescer,
sua volúpia multicor e inebriante, estiolou,
e se acomodou no pequeno jardim
num canto esconso de mim.
O verão suarento da juventude,
com seus rompantes sóis,
ardores, falsas dores, ruídos rudes,
parecia que nunca se acabava
e a agitação ofegante do dia invadia a noite e a madrugada.
Os dias são tépidos agora
e se encurtam na longa noite
que esfria e prenuncia
o inverno álgido que virá
com sua verdade de pedra:
a primavera que houvera outrora,
outra nunca mais haverá.
CHANSON D`AUTOMNE
Paul Verlaine
Les sanglots longs
Des violons
De l’automne
Blessent mon coeur
D’une langueur
Monotone.
Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l’heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.
Et je m’en vais
Au vent mauvais
Qui m’emporte
Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=Wtx6o7o3-W0[/youtube]
Quando tinha uns cinco anos, ouvia meu pai declamar em voz alta este poema de Verlaine e, mesmo sem compreender bem, a sonoridade e a cadência me deixavam absolutamente enlevado.
“Isso é poesia”, me disse ele um dia após tentar me explicar o que as palavras significavam.
“Como é possível fazer isso com as palavras?”, pensava comigo.
Mal sabia que um dia estaria num outono em Paris, e traria comigo a poesia.
Não me lembra agora se li em algum lugar ou se me contaram, sei que me ficou na cabeça a ideia.
O pai de Gwyneth Paltrow levou-a ainda adolescente para lhe apresentar Paris, dizendo: “Queria que o primeiro homem que te levasse a Paris fosse alguém que nunca te decepcionasse”.
Carolina e Isabella conheceram Paris sem mim. E não se decepcionaram, felizmente.
Júlia veio comigo pela primeira vez. Espero que não a decepcione nunca, para que Paris lhe seja sempre uma festa, como tem sido nestes dias.
Manuela, aos três, também veio pela primeira vez.
Não veio apenas com Babu, mas veio também com Babu, que pela primeira vez vê Paris encantando-se pelos olhos dela.
De alumbramento em alumbramento, nenhum vão momento.
Como destacar apenas um?
Talvez pela minha fixação pelas palavras, escolho a descoberta de outras línguas, que não a dela.
Veio preparada para dizer as duas palavrinhas mágicas em Paris, “bonjour” e “merci”, mas num parquinho se encontra, e confronta, com outras crianças, que falam francês, inglês, japonês e alemão.
Desperta para tantas outros idiomas, mas não se aperta.
Inventa o próprio o idioma, cheio de sonoridades.
A palavra mais repetida, e divertida, desse javanês manuelino é “záyom”, que serve como uma espécie de argumento de autoridade ou comando definitivo.
A menininha lhe diz em inglês, “jump” ou “no” e ela retruca com um inquestionável e fulminante “záyom”!
Na Pont des Arts, ela ficou maravilhada com os cadeados encadeados para que as pessoas que se amam nunca se separem.
Todos colocamos um, e é ela quem joga as chaves de cada um nas águas do Sena.
Depois, sorridente, me diz: “Babu, agora mamãe, papai, você, todo mundo nunca mais vai morrer”.
Como não morrer?
Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são.
Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.
“Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até ao fim do mundo”. Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu. Na realidade, o fim do mundo, como o principio, é o nosso conceito do mundo. É em nós que as paisagens tem paisagem. Por isso, se as imagino, as crio; se as crio, são; se são, vejo-as como às outras. Para que viajar? Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na China, nos Pólos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e gênero das minhas sensações?
A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos.
(Fernando Pessoa)
Uma pequena pausa, enquanto me vou ao encontro de mim mesmo em outras paisagens.
Prometo notícias daquelas paragens e retomamos a órbita desta nossa Estrela no dia 15 de outubro.
Até lá, ou a qualquer momento em edição extraordinária.
Continuem a viajar por aqui de vez em quando.
Au revoir!
“Preso a canções, entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar longe do meu lugar
Eu caçador de mim”
“Caçador de Mim” (Sérgio Magrão / Luiz Carlos Sá), com Milton Nascimento
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=Ibewi5eyTOM[/youtube]
“Velas içadas” (Ivan Lins / Vitor Martins), com Ivan
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=YRZDXmYvG6E[/youtube]