Adalberto de Oliveira Souza
CONTRADIÇÃO
interior
calor
bolor
exterior
calor
oloroso
interior/exterior
eu e vocês
eu e tudo
nós
se alguma coisa escapa
outra aparece.
Adalberto de Oliveira Souza
LITANIE
Il faut continuer
pas à pas,
il faut renverser
de tous les côtés,
Il faut réviser
ligne par ligne,
il faut résister
à tous les moments,
il faut tergiverser
de toutes les manières,
il faut se contrôler
soi-même,
il faut comprendre
beaucoup,
il faut réitérer
ce que l`on croit,
il faut croiser
les regards,
il faut maîtriser
notre conduite,
il faut retenir
ce qu`on a appris,
il faut dépasser
les obstacles,
il faut oser continuer,
il faut revenir
au point de départ,
il faut s`attacher
à ce qu`on aime,
il faut oublier
ce qu`on aime pas,
il faut récupérer
ce qu`on a perdu,
il faut rendre
la vérité
il faut atteindre
la liberté
il faut revoir
les ans passés,
il faut prévoir
l`avenir douteux,
il faut se perdre
pour se retrouver
il faut rechercher
pour trouver quelque chose,
il faut s`extenuer
pour se reposer
il faut…
il faut…
il faut…
LADAINHA
É preciso continuar
passo a passo,
é preciso demolir
de todos os lados,
é preciso revisar
linha por linha,
é preciso resistir
em todos os momentos,
é preciso tergirversar
de todas as maneiras,
é preciso controlar-se
a si mesmo,
é preciso compreender
muito,
é preciso reiterar
o que a gente crê,
é preciso cruzar
os olhares,
é preciso dominar
nossa conduta,
é preciso reter
o que apreendemos,
é preciso ultrapassar
os obstáculos,
é preciso ousar
continuar,
é preciso voltar
ao ponto de partida,
é preciso se ater
ao que se ama,
é preciso esquecer
o que não se ama,
é preciso recuperar
o que se perdeu,
é preciso contar
a verdade,
é preciso atingir
a liberdade,
é preciso rever
os anos passados,
é preciso prever
o futuro duvidoso,
é preciso perder-se
para se encontrar
é preciso pesquisar
para encontrar alguma coisa,
é preciso extenuar-se
para se repousar,
é preciso…
é preciso…
é preciso…
Adalberto de Oliveira Souza
COTIDIANO
Biltres,
velhacos,
pilantras,
salafrários,
pusilânimes,
safardanas,
infames,
safados,
ordinários,
abjetos,
desprezíveis,
vis,
patifes,
canalhas.
Aos poucos,
corrompemos o dia.
Não deixamos de respirar,
de romper a pele
com as unhas.
QUOTIDIEN
Bélîtres,
coquins,
pleutres,
gredins,
gueux,
malotrus,
infames,
abjects,
bas,
avilis,
méprisables,
fripons,
vauriens,
salopards.
Petit à petit,
nous gâtons le jour,
nous n’arrêtons pas
de respirer,
nous déchirons notre peau
avec les ongles.
Adalberto de Oliveira Souza
LE POÈME
Dans cette opportunité,
il ne suffit pas d’un mot,
il faut creuser
pas un puits
plutôt le thorax,
l’abdomen
jusqu’aux viscères,
les extraire tous et
les offrir aux enchères.
Perdre,
gagner un espace
et le remplir.
Sans absolution,
sans pacte.
O POEMA
Nesta oportunidade,
não basta uma palavra,
é preciso cavar
não um poço
o tórax,
o abdômen,
as vísceras até,
extraí-las
todas e
ofertá-las em leilão.
Perder,
ganhar um espaço
e preenchê-lo.
Sem absolvição,
sem pacto.
Adalberto de Oliveira Souza
obsession(s)
Nicolas Sauvage
est-ce mon corps qui déborde
est-ce
mes pensées qui dépassent
trop de jour dans trop de nuit est-ce
une insomnie qui
dépasse déborde des yeux
une épaule cette pensée qui s’échappe et s’impose
une pensée
comme nos pas qui résonnent légèrement lourds
sur une passerelle d’embarquement
déjà que j’ai du mal à t’étreindre en entier
comment pourrais-je embrasser ce panorama
une île dans sa totalité comment
pourrais-je aborder
la lumière sous le feuillage
la lumière qui résonne à travers
le Jardin des Tuileries
juin 2005
obsessão/obsessões
Tradução de Adalberto de Oliveira Souza
será meu corpo que extravasa
serão
meus pensamentos que excedem
dia demais dentro de muita noite
será uma insônia que
excede excede olhos
um ombro este pensamento que foge e se impõe
um pensamento
como nossos passos que ressoam ligeiramente pesados
sobre uma passarela de embarque
já que tenho dificuldade em te abraçar por inteiro
como poderia abraçar este panorama
uma ilha em sua totalidade como
poderia chegar perto
da luz sob a folhagem
da luz que ecoa através
do Jardim das Tulherias
outubro 2013
Adalberto de Oliveira Souza
PROMENADE À PARIS
à Nicolas Sauvage
boulevards,
avenues,
rues,
passerelles,
une allée, allez-y,
une ruelle,
une impasse.
des culs-de-sac
des ponts,
des carrefours,
des routes,
des autoroutes,
des sentiers,
des sentiers battus,
et inconnus.
des chemins.
et il y a tellement
d`autres chemins
à parcourir.
PASSEIO EM PARIS
avenidas arborizadas,
avenidas,
ruas,
passarelas,
uma alameda, vamos,
uma ruela,
uma travessa,
becos sem saída.
pontes,
encruzilhadas,
estradas,
auto-estradas,
atalhos,
sendas conhecidas.
caminhos.
e há tantos
outros caminhos
a percorrer.
Adalberto de Oliveira Souza
APOCALIPSE
Enfileirados nos estrados
do solar rarefeito
a eito jazem
apocaliticamente.
Aprisionados
por suas entranhas
morreram todos.
Envolve o ar
a sanha incontida
e louca
deixada ainda.
Odor de sangue e suor,
incenso, nefelibata.
A captação da graça
do inefável virá,
afável afago
recessivo.
Em riso desabrido
Direi a ti.
O porvir!