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Diálogos (quase) impossíveis

 

 

 

Manuela ainda não completou três anos, mas já faz alguns meses que está na fase das princesas.

Passa os dias na fantasia de uma delas, Branca de Neve (cujo lindo e colorido vestido é o meu preferido), Cinderela, Bela Adormecida, a Bela da Fera (que ela adora). Agora anda encantada com Rapunzel, por causa do filme “Enrolados” a que assiste continuamente. Aliás, a Rapunzel pequenina do desenho, ao nascer, se parece muito com ela (pelo menos aos babões da família, parece).

 

Manu e Rapunzel 3

 

Isso significa que Babu se tornou o camareiro da princesa do dia, embora ela sempre insista em me dar outros papéis mais nobres.

Vestida de Branca de Neve, me indagou que personagem eu seria.

Mestre, lhe propus.

Não, Babu! Você não é anãozinho, não tem barba branca…

Disse-lhe que colocava uma barba de mentirinha e ficava de joelhos (pois é assim que sempre me ponho diante dela), mas ela não concordou.

Ela entra nas personagens, come um pedaço da maçã envenenada, ou espeta o dedo na roca, boceja e adormece teatralmente. Edipozinho básico já rolando, se o pai está por perto, é ele o Príncipe que tem de beijá-la para ela despertar. Quando ele não está, Babu quebra o galho.

Ao me dizer, na distribuição dos papéis, que o pai, como sempre, seria o Príncipe, respondi-lhe:

― Não senhora! Papai é o pai da princesa. O seu príncipe ainda vai chegar. De cavalo branco…

Devolveu-me na lata:

― Cavalo branco não, Babu! De carro… Vermelho…

Princesa sim, mas do século XXI!

Quem sabe uma Ferrari Testarrosa?

 

Manu Rapunzel 2 Rapunzel na torre, à espera do Príncipe

 

 

 

Árvore da vida

 

 

foto (2)

 

 

Num churrasco na casa do tio-avô Antônio Hilário (meu cunhado), Manuela se encantou com duas pequenas laranjeiras e um limoeiro carregados de frutos no fundo do belo quintal.

Como ela insistia em colher as laranjinhas e os limõezinhos ao seu alcance, ainda verdes, Babu quis lhe explicar e ensinar o tal de manejo sustentável.

Mostrei-lhe a laranjeira maior, cujo tronco se repartia, e lhe disse:

― Manu, veja só: esta aqui é a mamãe, e este aqui é o papai (referindo-me a cada uma das ramificações do tronco). As laranjinhas são as filhinhas, e elas estão muito pequenininhas. Precisam ficar com a mamãe e o papai para crescer. Então você não pode tirar elas daí…

Ela acompanhou minha “aula” atentadamente. Aproximou-se da árvore e de repente, com um sorriso zombeteiro, indicou com o dedinho certo ponto da anatomia do caule, recoberto de musgo:

― Esta aqui que é a mamãe, Babu!

Ao olhar com mais atenção, entendi o porquê da afirmação categórica.

Tratei de tirar a foto abaixo para registrar a comprovação científica.

Vivendo e aprendendo, Babu!

 

 

árvore Manu

 

 

 

 

 

 

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Como se desenha um sorriso

 

 


 Manu sorrindo 1Manu sorrindo

 

                                                               Manuela

                                                               assistindo ao desenho

                                                               distraída

                                                               redesenha a vida

                                                               no sorriso dela.

 

 

Quem guenta?

  

 

Estou em São Paulo desde ontem, a trabalho.

O tempo é pouco, a correria, muita, mas não resisto.

Mensagem que recebi da Carolina:

 

“Pai olha a última da sua neta. Depois de levar bronca por ter bagunçado a casa me disse: Mamãe não quero mais morar nessa casa! Quero morar sozinha!!! Eu guento???”

 

E ela só tem dois anos e meio…

 

 

 

 

O sexo dos anjos

 

 

 

 

 

 

          Quando papai não está (o que ocorre pelo menos dois dias por semana), Babu vai buscar Manu na escola.

          No final do dia, ela é sempre a mais desgrenhada da turminha. Tintas variadas colorem seus dedos, respingam nas bochechas e no pescoço. Restos de massinha grudados na roupa e nos sapatos, o cabelo sem os laços e as fitas com que chega impecável no início da aula. Outro dia o cabelo, que ela diz ser “amarelo”, estava com uma mecha verde. Uma das professoras, sorridente, logo me tranquilizou 

          — É guache, só lavar que sai.

          No trajeto até sua casa, que se alonga em razão da hora do rush, sentada na cadeirinha ela matraqueia sem parar, conta-me o que fez e o que vai fazer, cantarola musiquinhas diversas.

          — Canta comigo, Babu!

          Depois de uma breve pausa, comunica radiante:

          — Babu, Manu tem “perereca”, mamãe tem “perereca”; papai tem “pipi”.

          Opa, não é cedo demais para isso? Ela só tem dois anos e meio!

          Mas se ela mexe no iPad muito melhor do que eu, não deveria me surpreender.

          Mantenho a naturalidade:

          — Isso mesmo! E o Babu, o que ele tem?

          Meditativa, murmura:

          — O Babu… O Babu… O Babu…

          E fulmina:

          — Que que você tem, Babu?

          Contenho o riso, e tento explicar:

          — O Babu não é igual o papai? Então…

          — A Maria Clara tem “perereca”; o Antônio tem “pipi”, replica.

          — Pois é. O Babu também se chama Antônio, contorno.

          — Não, Babu! O Antônio é meu amigo da escolinha…

          E logo muda de assunto, com a mesma sem-cerimônia que havia começado.

          Tomando nosso uísque da sexta-feira no “Bar do Chorinho”, relato o diálogo ao meu amigo Brenno.

          Ele se engasga com a bebida e quase cai da cadeira de tanto rir. 

          Quando se recompõe, me sai com esta:

          — Para ela Babu não tem sexo, idade, nome… “Babu” é uma entidade!

          Quem haverá de me aguentar esta “entidade” doravante?

 

 

 

Crocs, Crocs…

 

 

 

            — Babu, Babu, presente!!!

            Acordo com os gritos de Manuela — como trinados de um bando de passarinhos ao alvorecer — enchendo meu quarto da sua alegria.

            Não que seja tão cedo assim. Depois de vinte anos saltando da cama às seis horas da matina para as aulas na faculdade de Direito, tenho me dado o direito de dormir até mais tarde, agora que me tornei um professor em recesso (creio que permanente). Ainda porque, com ou sem aulas, jamais consigo me deitar antes da meia-noite, e muita vez mais tarde ainda.

            Ela nem espera que eu me levante, sobe com esforço na cama, atrapalhada com uma sacola quase do tamanho dela, a repetir excitada:

            — Presente, Babu, presente!!!

            O aniversário de dois anos dela, dia 4 de março, está próximo e sou eu quem ganha o presente, não bastasse o presente maior da presença dela.

            Acesa a luz e com ela saltitante ao meu redor, abro a sacola, desfaço o embrulho e… Crocs, Crocs

            — Igual Manuela, me diz orgulhosa, exibindo-me o pezinho. Põe, põe!

            Claro que calço, e vejo que os tais de Crocs são mesmo deliciosamente confortáveis.

            Sequer sabia que adultos também usavam, até que no carnaval vi o jovem pai de um amiguinho da Manuela com um, e comentei com minha filha Carolina que deveriam ser ótimos.

            Agora que calcei, ela me diz para tirar, descalça os dela e quer que troquemos. Enfia os meus e sai arrastando os pés pelo corredor:

            — Vem, Babu…

            Ela me trata como se tivéssemos a mesma idade e o mesmo tamanho.

            Talvez tenha razão.