Bell pede que se leia a crônica dela abaixo ao som desta canção
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=-g83_ZRGM48[/youtube]
Bell pede que se leia a crônica dela abaixo ao som desta canção
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=-g83_ZRGM48[/youtube]
“Você vai amar esse lugar: lá tem um boteco que você toma uma cerveja gelada na sombra de uma árvore imensa e pode pular no rio imediatamente” – Foi assim que Gill (minha melhor amiga) me descreveu Caraíva certa de que toparia mais uma viagem. Em 2012 viajei muito! Fui para o Rio de Janeiro algumas vezes, para Buenos Aires tantas outras, trabalhei no Sul do país, conheci Vitória, passei um fim de semana incrivelmente relaxante em Ubatuba, vivi aventuras sozinha em Londres, Edimburgo e Dublin e decidi que deveria fechar meu ano neste lugar na Bahia, que sempre me acolheu.
Cervejinha com Marcella e pôr-do-sol no Boteco do Pará, em Caraíva
Há alguns anos não ligo mais tanto para o Réveillon. Antes, eu achava inadmissível passar a virada em um lugar que não fosse incrível. Com o passar do tempo esse furor passou e vi que viajar nesta época do ano é sinônimo de gastar muito dinheiro e passar perrengue. Por isso passei as últimas viradas na casa dos meus pais, na pacatíssima Ribeirão Preto. Desta vez, decidi que precisava de mar.
Caraíva, o paraíso
Caraíva fica no extremo sul da Bahia e tem 1.000 habitantes fixos. O acesso de avião é por Porto Seguro. De lá, se pega um carro fretado, enfrentam-se duas horas numa estrada de terra tensa e se chega a um rio. Depois de pegar a canoa, é deixar a vida do outro lado da margem. E eu deixei. Em Caraíva quase não há sinal de celular, não tem 3G, a luz chegou há pouco mais de 3 anos e não suporta a quantidade de turistas. Portanto, toda a vila tem luz baixa, bem baixa. Não há postes com energia nas ruas, anda-se com lanternas. As pousadas que têm ar-condicionado e ventilador de teto não conseguem cumprir o prometido. Eles imploram para você não usar o secador de cabelo e tomar banho frio. As ruas são todas de areia e sua batata da perna fica mais forte do que pedra. Uma vez lá, seu principal aliado é um par de havaianas. Mas tudo isso vale a pena.
Este é o cenário ao chegar em Caraíva. Canoas te esperam para fazer a travessia. A vila de Caraíva está do outro lado da margem. A vida fica deste.
Vivendo um dia de Tieta na frente da igreja de Caraíva: areia por todos os lados
Em Caraíva os turistas não aplaudem o pôr-do-sol e sim a chegada da lua. O sol se põe no rio. A lua, chega linda, gigante e incandescente pelo mar. De laranja se torna branca e abre uma trilha de luz pelas águas. É tão impressionante que a minha amiga Marcella dizia que seu sonho era seguir aquela trilha de luz. Com a ausência de luz elétrica, as estrelas ficam impressionantemente baixas. Dá para quase tocar o céu. Assistir a esse espetáculo diariamente é algo inesquecível.
Lua nascendo no mar de Caraíva.
A praia de Caraíva é linda e tem o melhor dos mundos: um rio que se encontra com o mar. Logo cedo, a maré está baixa e o rio fica com uns bancos de areia que você pode caminhar por dentro das águas. Aos poucos, o mar toma conta do rio que vai ficando salgado. Todo mundo fica o dia todo flutuando lá e o mar até perde um pouco da sua beleza diante da paz que o rio traz.
A praia: rio e mar
Cheia de verde, Caraíva parece ter sido esculpida por um jardineiro bem experiente. Plantas se misturam a árvores frutíferas e flores. Muitas flores explodem cores pelas ruas. Caraíva enche os olhos de cor e luz, dia e noite.
O verde colorido de Caraíva
Minha flor preferida coloria todos os lugares.
Se não bastasse toda a natureza, as pessoas de lá são ainda mais belas e puras. Os habitantes locais se esforçam para atender os turistas estressados (na maioria cariocas e paulistas). Eles não nos atendem mal. Aliás, são super solícitos. No entanto, têm seu ritmo próprio. Não chegue para comer com fome. A comida vai vir, mas vai demorar. Por lá é tudo meio assim: “Até tinha, mas não tem”, “É meio difícil”, tudo com um sorriso no rosto de desbancar qualquer estressadinho.
Até esperando a comida, você sorri!
Gill e Capiau
As crianças são um capítulo a parte. Lindas, ajudam os pais, respeitam a natureza, dizem “por favor” e “obrigado” e andam livres e soltas pela vila se transformando em um exemplo de liberdade para qualquer um.
Crianças livres jogando uma sinuca improvisada em um caixote com bolinhas de gude a margem do rio
Pagamos bem caro por uma pousada incrível, a “Casinhas da Bahia” que tinha um jardim espetacular com uma espreguiçadeira e uma ducha gelada em um tronco de árvore que ficará para sempre na minha memória. Gill, Marcella, Vina e eu sabíamos que passaríamos por alguns perrengues mas nos demos o luxo de reservar com muita antecedência a pousada e o voo. Mesmo assim foi caro. Mas, tem como o paraíso ser barato?
O meu lugar na pousada
Em Caraíva eu deixei toda a minha vida programada em pausa e tentei escutar meu corpo e meus sentimentos. Acordava a noite porque estava calor. Saía do quarto de madrugada, tomava uma ducha e lá fora e deitava na espreguiçadeira até ter sono de novo. Comi quando tive fome. Bebi quando estava a fim. Fui a praia quando quis. Não tinha relógio, nem compromisso, nem celular. Li muito. Tive mil insights. Observei ainda mais.
Vina e eu fazendo nosso caminho diário para a praia
Conversei com meus amigos sobre assuntos tolos que a gente nunca conversa. Gill virou Amora, Marcella virou Yayá, Vina virou Gabriela e eu virei Béo. Experimentamos um passeio de bugue incrível que nos levou para Corumbau, uma outra praia paradisíaca nas proximidade. Vivenciamos a sensação de flutuar no mar com um Stand up Paddle.
Bugue para Corumbau depois de dias sem ouvir o barulho de um motor
Praia de Corumbau
Sem o Google do lado discutíamos horas sobre porque o vagalume brilha, quantos metros tem a onda do tsunami, porque o preto esquenta mais e claro, sobre o Monte Pascoal. Na ída para Caraíva é possível ver o monte que figura nos livros de história. Nossa curiosidade infantil pelo monte foi lembrada durante toda a viagem. Caraíva deve ter sido um dos primeiros lugarejos onde os portugueses chegaram. Mesmo mais de 500 anos depois, por lá ainda vivem índios e a natureza é lindamente intocada. Os portugueses acharam Caraíva. Por sua vez, Caraíva me ajudou a me descobrir mais e eu a descobri.
Eu refletindo Caraíva
Bell Gama
Dezembro de 2012 e Janeiro de 2013
PS: Texto dedicado aos meus queridos Gill, Marcella e Vina, que se aventuraram em mais uma descoberta comigo. Obrigada a Felipe Pereira (Capiau), Larissa e Fernanda que também dividiram essa viagem com a gente!
Para a Isabella
no tom do Jobim
cujo dom falta
ao Tom de mim
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=u308BJivcNM[/youtube]
Amanhã Bell, nossa estrela, estreia idade nova.
Continua com solitária, apesar da legião de amigos e fãs.
Viva ela!
Estava com solitária. Mas nunca comi carne de porco. Pelo menos não crua, daquelas que professor de biologia fala que faz ter solitária. Era taenia solium ou taenia saginata? Não sei. Também não comi terra. Tenho pavor das histórias das crianças que comem terra, comem tijolo… já ouvi até de gente que come sabonete. Não sou uma delas. Na minha casa nem tem jardim. Aliás, tem. Mas é um jardim para ser visto, não para se lambuzar de terra. Minha mãe nunca permitiu isso. Aliás, não entendi porque nunca ninguém percebeu que eu tinha solitária. Tenho repulsa dela. Tenho vergonha. Acho que nunca mostrei. Acho que nunca falei.
Interpretação simples, disse minha terapeuta. Era a primeira vez que um sonho tão óbvio como esse se manifestava. Por outro lado, nunca tinha tido um sonho tão figurativo. Sempre senti a solitária dentro de mim, mas nunca quis falar dos meus vermes. Agora eles povoavam meu sonho e faziam lembrar o vazio que se instaurava dentro de mim. Não bastava a revolta adolescente, os amores inventados e as deprês de fim de tarde. Agora, o vazio todo tinha uma forma que habitava dentro de mim e consumia vorazmente tudo que me servia de alimento, diet, light ou não.
Saí do consultório com a cabeça em parafuso. Passei na livraria. Encontrei meu diagnóstico. Na página 12 do Dr. Llosa estava “ Traduzindo em imagem, direi que você acaba de fazer algo que, dizem, algumas senhoras do século XIX, preocupadas com a gordura e resolvidas a recuperar uma silhueta de sílfide, faziam: engolir uma solitária. Já lhe aconteceu alguém que carregasse nas entranhas esse abominável parasita?”
Parabéns, Dr. Llosa! Acaba de encontrar. E agora? Linhas à frente ele concluía: “ A vocação literária não é um passatempo, um esporte, um lazer refinado que se pratica nas horas vagas. É uma dedicação exclusiva e excludente, uma prioridade `a frente da qual nada pode passar, uma servidão livremente escolhida que transforma suas vítimas (suas ditosas vítimas) em escravos”.
Nunca tinha encontrado minha vocação ou fugia dela. Passei inúmeras seções terapêuticas falando de emprego, de trabalho até que ela disse: então porque não abandona este emprego? O pior foi quando disse: mas quais são os seus planos? E eu fiquei por dez minutos dizendo as minhas possibilidades de ascensão na empresa quando ela interveio: Acho que não entendeu a pergunta, não perguntei qual o seu plano de carreira. Perguntei: o que você quer fazer da sua vida?
Pergunta difícil… que há anos procurava responder. Sei lá, faço tudo bem, respondia sempre. E ia levando, alimentando a solitária com tudo o que podia ser alimento: baladas, chocolate, homens, viagens… até igreja evangélica eu tentei. Nada satisfazia a maldita!
Agora eu já sabia. A solitária estava ali. Era minha. Carregaria-a sempre comigo. Tinha que parar de ter repulsa e conviver. Ou melhor, achar a melhor maneira de acalmá-la com alimento.
Devorei Llosa.
Devorei Rubens Paiva.
Devorei Flaubert.
Devorei Clarice.
Devorei Machado.
Devorei Guimarães Rosa.
Devorei Kafka.
Devorei Goethe.
Devorei Camus.
Devorei Garcia Márquez.
Estou devorando Balzac.
E continuo com um apetite desgraçado. Incrédula por nunca ter provado Cervantes, Borges, Cortázar, Dostoiévski, Manuel Bandeira, e tantos outros.
Finalmente, agora as letras alimentam minha revolta solitária.
Isabella Moreira Gama
04/04/2008
Bell e as flores em garrafinhas ao fundo
Ele religiosamente acorda todos os dias às 4h da manhã. Depois do café com leite, dirige seu carrinho velho rumo ao Ceasa. Compra flores. Nunca são para ele. São para mim.
Não sabe que me mudei para cá por causa dele. Quando passei na ruazinha da sinagoga e vi que ele estava lá vendendo flores sabia que seria um bom lugar para morar. Em uma rua onde há um vendedor de flores todos os dias não há de acontecer nenhum mal.
Mudança na caixa, esperanças renovadas, novos hábitos. Decidi: na minha casa há de ter flores todos os dias – até duvidei da minha capacidade de manter a promessa já que não consigo ter um só dia como o outro. Mas com a ajuda da irmã mais nova, a gente vem cumprindo a tarefa há quase dois anos ininterruptamente. Semanalmente ele nos entrega 6 rosas. Cobra 5.
Outro dia, à tarde, recebo a ligação da irmã mais nova:
– “Estou na rua. Estão tentando prender o florista. Disseram que é crime. Tentei impedir. O policial é um estúpido”.
Não sou de briga. Mas ao ouvir a voz da minha irmã que acabara de sair do trabalho no hospital revoltada com a confusão, virei onça. Papai, sempre papai, estava presente.
– “ Que crime? Isso não é crime! É no máximo infração administrativa.”
Mesmo com um jurista por perto fiquei atordoada. Parei o carro e corremos em direção das viaturas policiais que faziam uma intervenção digna de um homicídio. O florista estava lá, sem flores.
– “Você está bem? Minha irmã me ligou”…
– “Está tudo bem sim. Não foi nada. Eles queriam prender o vendedor de DVDs pirata que estava ao meu lado. Eu disse que não tinha nada a ver com a história. Mas levaram minhas flores. Disseram que se tinham que apreender os DVDs também tinham que apreender as flores.”
Fiquei chocada com a situação. Que mundo é esse que humilham um vendedor de flores? Argumentamos que ele não poderia ser preso, que ninguém poderia fazer nada com ele, fizemos um discurso enorme, nos colocamos à disposição. Acho que nunca ninguém havia se preocupado tanto assim com ele. Assustado com minha revolta. Sua resposta foi uma só:
– “Não se preocupe. Não vou parar de trabalhar. Amanhã trarei mais flores”.
Bell Gama
Novembro/2012
(PS: Texto dedicado a minha justiceira Júlia Moreira Gama)
“Ele queria ver mais as coisas, todas, que o olhar não dava”.
Guimarães Rosa – Manuelzão e Miguilim
“D-E-G-H”
“Parabéns!” – Disse o oculista à garota.
Ela não comemorou. Sua irmã um pouco mais velha acabara de ganhar óculos. Seu pai usava óculos. Sua mãe não usava por teimosia, mas era míope. Depois da consulta, ela passou a ser a única que enxergava diferente.
Inconformada, pediu aos pais um par de óculos. Eles sempre respondiam caçoando da garota:
“Para você, só óculos escuros!”
Ela não se conformava e todo ano, quando a irmã voltava ao médico, aproveitava a consulta e pedia para que sua visão fosse medida novamente. Enquanto o grau de sua irmã aumentava, a visão dela continuava perfeita. Acertava sempre todas as letras. Algumas vezes pensou em errar de propósito, mas nunca teve coragem pois tinha medo de acharem que ela não havia sido alfabetizada corretamente e a obrigarem a frequentar aulas particulares.
Além dos óculos, ela queria colocar gesso e aparelho.
O gesso conseguiu. Rompeu o ligamento do tornozelo sete vezes. Não de propósito, já que depois da primeira torção viu que aquilo doía pra diabo. Como uma praga, a cada passo em falso, seu tornozelo voltava a parecer uma bola de tênis. Piorou quando passou a usar salto alto. Sentiu-se uma idiota por não conseguir andar tão bem quanto as amigas. Mas a falta de elegância tinha a explicação que tanto a orgulhava.
O aparelho nos dentes ela também nunca conseguiu. Algumas vezes colocava um clipe de papel esticado na boca e contava para todos na escola que havia colocado aparelho. Na época, os meninos ficavam encantados. Diziam que meninas de aparelho beijavam diferente. Seu primeiro namorado usou aparelho, e quando ela o viu comendo coxinha desistiu de consertar seus dentes quase perfeitos.
Um dia, a garota que agora já era mulher, pegou uma forte conjuntivite. Sua vista ficou embaçada por mais de um mês. No começo, ela achou graça e não foi ao médico. Depois, entrou em desespero. Tudo o que ela costumava ver com nitidez estava embaçado e sem definição.
Decidiu voltar no oculista que cuidava de seus olhos perfeitos há mais de vinte anos. Mal conseguia ver o semblante envelhecido do médico. Ele quase não a reconheceu.
Fim do tratamento. Voltou ao retorno da consulta, pois sua vista continuava embaçada. Ainda desesperada, perguntou ao oculista:
“Não vou sarar nunca?”
Neste momento, ele lhe deu o presente que ela sempre esperou:
“0,75 de miopia”
Ela sorriu e mesmo com as pupilas dilatadas foi à ótica mais próxima, comprou os óculos do seu sonho.
Agora ela enxergava como todos os membros da família.
Bell Gama – agosto 2008
Para Bell
Aos cinco ou seis anos, o menino passou uma temporada de férias na casa dos avós paternos, na Franca do Imperador.
A cidade ainda era calma, mas ele apenas tinha permissão para ir sozinho até a esquina, a uns vinte metros, sempre pela calçada e jamais, jamais atravessar a rua.
No ponto final da sua grande aventura, bem na esquina, ficava o bar do Seu Tomás, que vendia sorvetes, pastéis, balas, pirulitos, e onde se comprava a garrafinha de guaraná permitida no almoço de domingo.
Era lá no Seu Tomás que o menino sempre ouvia um vozeirão entoando uma música diferente, que bulia com ele, às vezes o deixava alegre e saltitante, outras vezes, com uma tristeza entranha.
Um dia quis saber:
― Seu Tomás, quem tá cantando?
― Oxente, é o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, o maior cantor do Brasil!
E Seu Tomás foi buscar a capa do disco para lhe mostrar, com aquele sujeito vestido de vaqueiro, um sorrisão na cara, empunhando uma sanfona branca. Vaqueiros para ele eram os caubóis de que tanto gostava, mas Seu Tomás lhe explicou que aquela era a roupa dos vaqueiros do sertão do Brasil, coisa bonita de se ver.
Nunca mais se esqueceu daquela figura e daquelas canções. Luiz Gonzaga foi seu primeiro ídolo musical.
Tempos depois, o menino já era um moço, começava a faculdade, queria derrubar a ditadura, odiava os milicos, escrevia uns poeminhas envergonhados, compunha algumas canções com os amigos, tocavam, cantavam, participavam de festivais, queriam mudar o mundo.
Um novo Gonzaga surgiu na vida dele então, e suas canções de protesto, depois as românticas e os sambas o botavam comovido como o diabo. Explode coração!
Era um rapaz magrinho, barbudo, de cara fechada, sempre com um cigarro na mão ou na boca. Ficou conhecido como Gonzaguinha, filho do outro, o Gonzagão, que andava sumido.
Soube então que pai e filho tinham uma relação complicada, distante, com mágoas recíprocas do passado. Até que um dia os dois passaram a se apresentar juntos e a percorrer todo o Brasil, reconciliados, fazendo um sucesso estrondoso.
Gonzagão deve ter partido feliz. Cerca de dois anos após, Gonzaguinha também se foi, num acidente de automóvel.
De repente, tudo aquilo ― e muito mais ― estava ali, vivificado na tela do cinema em São Paulo, numa tarde de sábado.
O menino, o moço, o pai e avô ao lado da filha do meio, ambos emudecidos e engasgados com o que assistiam.
Quando o filme acabou e as luzes se acenderam, ela não se importou de exibir os olhos vermelhos e ainda lacrimejantes.
Ele colocou os olhos escuros para disfarçar (que bobagem…).
Saíram juntos de mãos dadas para a noite que caía e para a vida que os esperava.
Era bom saber que nunca estiveram distantes, mas estavam cada dia mais próximos.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=63Na62E0LZk[/youtube]
Uma das coisas de que mais tenho saudade da minha infância é da certeza absoluta.
Eu tinha certeza, enquanto colecionava os pôsteres do New Kids on the Block, que o Jordan gostava de mim. Eu sabia que do outro lado do mundo (não sabia nem de que lado), ele pensava em mim telepaticamente. Não importava a nossa diferença de quase 15 anos de idade, nem o fato de eu não falar inglês e ele ser o maior astro da cultura pop da época.
Quando alguém me perguntava com quantos anos eu queria casar, respondia num relance: 24. A amiga fazia um quadradinho envolta, perguntava o nome de três pretendentes e de três lugares onde eu queria passar a lua de mel (lua de mel?). Eu respondia coerentemente Estados Unidos, Guarujá e Istambul. Em cima, ela colocava 1,2,3 (número de filhos) e ao lado R,P,M (Rica, Pobre ou Milionária). A partir da idade citada, ela ía eliminando os nomes e as possibilidades. Apesar de sempre torcer para ser milionária, eu nem me importava muito com os resultados. O importante é que naquele pedaço de papel estava um decreto, uma certeza absoluta: me casaria com o X, passaria a lua-de-mel em X, teria X filhos. Era um alívio ter aquela certeza aos 11 anos.
Na época a AIDS era avassaladora. Depois do dono da floricultura, levou Cazuza e Renato Russo. Era o pior diagnóstico que alguém poderia ter. Tranquei-me dias na casa da Kel tentando descobrir a cura. Ao bebermos água na talha (filtro de barro, tá gente?) tivemos a certeza absoluta de encontrar a solução: tiraríamos o sangue todo do corpo do doente e colocaríamos litros e litros de sangue novo. Kel também tinha a certeza absoluta de que seríamos alquimistas quando crescêssemos.
Minha certeza era tão absoluta que uma vez peguei o Opala Comodoro escondido do meu pai e bati a lateral inteira. Para disfarçar, colei lama na lataria do carro e achei que ele nunca veria!
E aí um dia o pai vê, no outro você se estrepa, no seguinte toma um chute na bunda e depois do quinto ou sexto tombo vê que cresceu e que nenhuma certeza é absoluta.
Bell Gama
Outubro 2012
(Dedico esse texto a Kel, amiga que me deixou um recado lindo no Facebook nesta semana. Depois de ler, tive a certeza que mesmo sem nos vermos há décadas, nossas lembranças são absolutas)
Quando decidir vir sozinha para Londres, Edimburgo e Dublin um dos meus objetivos era conhecer novas pessoas. Escolhi o roteiro por não conhecer nenhum desses lugares. Em Londres eu acabei contando com a ajuda da minha querida amiga Londoneer Cris Degani ( escrevi aqui que nos reencontramos depois de mais de 15 anos), e em Edimburgo contei com a força do meu adorado primo Felipe (foi nossa segunda viagem ao exterior juntos, mas a primeira sozinhos).
Ficar com alguém que você gosta em uma viagem é como um escudo para conhecer gente nova. Eu amei estar com os dois e além de redescobri-los, tive que descobrir toda Londres e Edimburgo e por isso não me restou muito tempo novas amizades.
Já em Dublin eu fiz reserva em um hostel (quarto individual, obviamente) porque queria conviver com pessoas de outras partes do mundo. No final, está sendo fundamental estar aqui. Sem eles, o draaaama da mala seria ainda maior.
Mas não vou falar de amizade neste post. Vou falar de uma coisa que vem antes dela: a educação. O que mais me chamou a atenção em Edimburgo e Dublin é o cavalherismo dos homens. Diferente do Brasil, aqui abrir a porta é o mínimo. Hoje passei por uma situação que só me reforçou a certeza de que eu deveria escrever esse texto.
Tirando a Aer Lingus (companhia aérea em que jamais viajarei outra vez) todas as pessoas são excepcionalmente educadas. Mas os homens são um capítulo a parte! Desculpem-me os rapazes brasileiros mas vou enumerar motivos pelos quais as garotas têm que vir para cá (quem sabe vocês não reaprendem?).
1 – Em Edimburgo eu coloquei o pé para fora do Pub e puxei um cigarro do maço e já havia um cara lá com isqueiro e um sorriso a postos.
2 – Eu dei um sorriso na beira do balcão do Pub e o bartender imediatamente veio solícito me atender. (sim, porque no Brasil muitos fingem que você não está ali).
3 – Quando fui ao aeroporto resgatar minha mala e a minha amiga australiana conseguiu recuperar a dela, pegamos um ônibus. A mala dela estava super pesada e antes que cogitássemos a hipótese de erguê-la para colocar no local destinado já surgiu um irlandês (lindo de morrer) e se antecipou. Pegou a mala, pôs no lugar e sorriu (simples assim). Antes de descer do ônibus, ele perguntou se iríamos mais adiante. Confirmamos que sim. Ele novamente tirou a mala do lugar, colocou numa posição mais próxima de nós e se desculpou (SIM, SE DESCULPOU) dizendo que teria que descer. Achou pouco?
4 – Fiquei perdida. Fui pedir informação. O cara andou 50 metros (sim, 50 metros!) para me levar até a esquina para que pudesse me explicar melhor como eu deveria chegar no lugar.
5 – Estava de bicicleta e perguntei onde era o parque. O senhor de 87 anos fez questão de me contar a história do parque e os cuidados que eu deveria ter. Amarrou minha bolsa na cestinha da bike e me desejou bom dia.
6 – Eu e Michelle (a australiana) estávamos sozinhas no bar do hostel pra o nosso tradicional drink das 17h. Em menos de 1h já estávamos com 7 caras (um irlandês, um inglês, dois australianos e três austríacos) ao nosso lado querendo saber onde iríamos e participar do programa. E durante todo o pub crawl eles cuidaram da gente sem nenhuma segunda intenção. Foi casaco emprestado, cigarro aceso, porta se abrindo, tudo que a gente merece…
7 – Ao fim do pub crawl quis vir antes para casa. Óbvio que um deles saiu na chuva, me arrumou um táxi, me colocou dentro do carro e falou com o taxista onde ele deveria me deixar.
8 – Sabe há quanto um cara não paga um drink para mim no Brasil? (Claro, exceto os amigos…) Não sei! Aqui, todos os dias que saí fui surpreendida com drinks. Mas tudo de maneira muito gentil e delicada. Por exemplo, acabou meu drink e fui no banheiro. Quando volto, tem outro já pago. O Michael foi buscar um drink para ele e a fila era enorme. Não pedi nada. Quando ele volta, tem uma vodca na mão e me entrega com um sorriso. Eu sorri sem graça e fiquei pensando como iria beber aquilo puro. Quando menos espero, ele tira do bolso de trás da calça um red bull. Isso porque o meu drink (vodca + red bull) é o mais caro em todos os bares. E muito mais caro do que o que ele estava bebendo.
9 – Todos os homens que conheci elogiaram meu inglês e disseram que pareço ter 24 anos. Enfim, coisas que meus ouvidos não ouvem há tanto tempo que nem lembrava mais que existiam. Não, os homens daqui não querem te comer (pelo menos inicialmente) e isso foi o que me chamou atenção. Aqui você pode ser feia, bonita, gorda, magra, careca ou cabeluda. Os caras vão ser educados com você.
10 – Mas a décima e última situação de cavalheirismo que eu vivi foi além do imaginado. Precisava pegar o Luas (um tipo de bonde elétrico) e estava no guichê eletrônico para comprar o bilhete (aqui não tem catraca). Fui apertando os botões do meu destino e colocando as moedas. Atrás de mim, estava um homem (uns 40 anos do tipo George Clooney) pacientemente esperando a minha trapalhada. Desisti de tentar pois o Luas estava chegando e deixei o cara comprar o bilhete dele (não ía fazer ele perder a viagem porque eu não conseguia comprar o bilhete). Ele foi lá, apertou uns botões e comprou o dele. Ao final, disse: você não está conseguindo comprar pois está colocando moedas inferiores a um euro. Toma a minha! Sim, ele me deu DINHEIRO para a passagem.
Sem mais,
Bell Gama
setembro/2012
Sair de Londres foi fácil. Viver um fim de semana em Edimburgo com o meu primo foi mais fácil ainda. Não tem nada melhor do que a gente encontrar alguém da família, que fala a sua língua, que tem o mesmo sobrenome, o mesmo jeito, as mesmas piadas… Encontrar meu primo em um país que jamais imaginei conhecer como a Escócia foi algo inesquecível. A cidade de Edimburgo é mínima e bastam algumas horas para você conhecê-la por inteiro. Por isso, parecia que estávamos tirando férias na casa da avó. Todos os escoceses são muito gentis e parecem que te conhecem de longa data. A noite é super animada. Pubs com música ao vivo, bares incríveis… É uma cidade tão tranquila que até pudemos conhecer outra, Stirling, que não tem muita coisa além de um castelo.
Deixei o Felipe dormindo no hotel e parti para o terceiro trecho na minha viagem na segunda-feira. Já saí de lá com saudade dele e preocupada com a minha mala que estava muito pesada. Ao chegar com antecedência no aeroporto senti que dali em diante mais nada seria fácil. Diferente do que li no site da companhia aérea (23 kg permitidos), só pude levar 20 kg. Ou seja, tive que pagar 2kg excesso de bagagem, desfazer de algumas coisas. Enfim, encarei como um momento de desapego necessário da viagem.
Chegando em Dublin tive a ingrata surpresa de não ver a minha mala na esteira. Outros dois passageiros também estavam na mesma situação. Me juntei a eles e fomos conversar com um representante da companhia aérea que rodou o aeroporto e não achou as malas. Ele disse que não tinha mais nada a ser feito, que se as malas tivessem ficado em Edimburgo elas poderiam chegar em um voo do mesmo dia, mas que teria que checar. Vou poupá-los do calvário que tem sido até então. Hoje é quarta-feira. Minha mala está em algum lugar da Inglaterra. Depois de duas negativas , eles “esperam” que ela chegue hoje a noite. Não sei mais o que esperar.
Em uma viagem, a mala é sua casa. É onde você se encontra. Quando cheguei em Dublin choveu três dias sem parar. Quando digo sem parar é sem parar mesmo. Um frio infernal. O vento aqui é impressionante. E eu só tinha uma roupa molhada. Depois de chorar, chorar e chorar, tomei coragem e comprei outra. Mas não adiantou. Continuei me sentindo triste e abandonada em um lugar cinza que não fala a minha língua. Tentei pedir ajuda para várias pessoas que apesar de serem super simpáticas não tem muito o que fazer. Ainda estou lutando contra uma sensação estranha de abandono.
Não entendo as regras em Dublin. Tem carro na mão esquerda e na mão direita. Tem castelo medieval mas tem pixação. Aqui, se você está muito bêbado, não pode entrar no bar. A perda da minha mala parece ter sido minha culpa. A companhia aérea nem sequer pensa em me ressarcir. É difícil tentar entender tudo isso junto sem ter completo domínio da língua. Não dá pra brigar em inglês. Pra xingar com vontade, tem que ser na nossa língua materna.
O único local onde fiz bons amigos é onde não se precisa falar muita coisa: o bar. A linguagem universal da cachaça domina por aqui. Foi no bar do hostel que conheci uma australiana que estava passando pela mesma situação que eu. Desolada, ela também teve as malas perdidas pela mesma companhia aérea. Isso nos aproximou e nos ajudamos. Assim conhecemos um outro cara de New Castle, um local de Dublin, dois outros de Melbourne e três da Áustria. Foi com essa trupe louca e sedenta que saí ontem. Fizemos um Pub Crawl só nosso liderado pelo menino de Dublin. Fizemos mais amigos no caminho e no final parecíamos uma família estranhamente bêbada em que um cuidava do outro. Perdi a conta de quantos Pubs entrei. Lembro até o oitavo. Depois, decidi ir embora.
Eu era a única latina. Eles não tem a menor noção do Brasil. É como se eu fosse um ET. Por isso, me adotaram. Tentei passar várias referências. Me peguei várias vezes defendendo enfaticamente o Brasil como nunca fiz. Disse que gosto de caipirinha, que amo futebol, que sei sambar, que no Brasil o cigarro custa praticamente 2 euros, a cerveja também. Disse que a Copa será incrível e as Olimpíadas um sucesso. Falei da Amazônia, do Pré-Sal e até da Dilma Roussef. Disse que reciclo lixo, me importo com o carbono zero e que as pessoas andam com carro movido a cana-de-açúcar. Nada disso os convenceu de que o Brasil é o melhor lugar do mundo. Hoje, para mim, é.
Bell Gama
setembro/2012
Seria impossível começar o dia de hoje sem escrever no blog. Ontem postei um texto contando da minha saga sem a minha mala em Dublin. Depois de publicá-lo recebi mensagens lindíssimas. Quando o fiz me senti até um pouco infantil de ficar sofrendo pela minha mala. Meus queridos Allex Colontonio, Marcel Gomes e Marina Menezes me relataram seus episódios quando passaram pela mesma situação. Meu coração ficou mais calmo. Eu não estava mais sozinha e sabia que tinha gente torcendo por mim e indignada com a situação. Por isso escrevo para contar o próximo episódio do capítulo da novela “Cara, cadê minha mala?”.
Decidi levar o conselho de alguns adiante e fui tentar conhecer Dublin. “Não deixe que isso estrague sua viagem”, muitos disseram. Pois bem, apesar de achar impossível levá-lo em frente porque a sua cabeça só fica pensando “eu to aqui passeando e minha mala tá em algum lugar do mundo”, decidi dar uma volta. Como já disse, o primeiro lugar que vou é sempre em uma igreja. E se era para apelar para um santo, fui direto ao St Patrick. Ele é o padroeiro da cidade e em sua homenagem é feita a maior festa de Dublin no mês de abril. Todo mundo veste verde e enche a cara. Fui lá na bela Catedral meio gótica, meio medieval que tem quase 1.000 anos (erguida em 1192). Fui direto para o altar. Abaixei a cabeça e pedi pela minha mala. Enquanto pedia, também vinha outro pensamento. “Se a minha mala não voltar, me ajude a lidar com a situação”. Pedi para que ele não me fizesse odiar a cidade que era dele. Pedi intervenção imediata. Eu estava me sentindo muito fraca e indefesa e chorei muito na igreja.
Olhei as lindas esculturas por lá. Caminhei pelo jardim e … juro, o céu que estava cinza e chuvoso desde que eu cheguei abriu. Pensei que talvez pudesse ser a única oportunidade de ver a cidade sem chuva e decidi que era um sinal e precisava continuar. Fui andando pelos arredores da área Viking Medieval, passei pela Christ Church Cathedral (1030), pelo Dublin Castle (1204), Chester Beaty Library Galleries e o City Mall. Comi um crepe (graças a Deus, um crepe!) nas proximidades do Temple Bar e voltei para a Jervis, um shopping que fica numa rua comercial onde tem sido o meu destino diário para comprar roupa, escova de dente, calcinha, essas coisas. Lá, vi um vestido florido e alegre. O sol já estava a pino. E pensei, quer sabe? Cansei de vestir roupa velha e suja aqui. Estava me sentindo um lixo. Provei o vestido, ficou lindo. Levei. Voltei para o hostel (nada da mala). Fiquei no quarto por um longo tempo pensando em não descer mais. Apesar de ter curtido o passeio, a mala não saia da minha cabeça. Depois, quando não aguentei mais ficar no quarto, desci e encontrei meus amigos gringos (nosso acordo é sempre estarmos as 17h no bar do Hostel). Lá estavam Michelle (Australia) e Andy (New Castle). Eles me perguntaram se eu não gostava mais deles e eu disse que estava cansada, estressada, desiludida, de saco cheio. Para Michelle, motivos suficientes para encher a cara. Me fizeram tomar um Guinness e alguns shots de sei lá o que. Tomei.
Tentei dormir, não consegui. Chorei. Pensei no que poderia fazer. Repensei por que estava me sentindo tão fragilizada. Pensei em tanta coisa que minha cabeça entrou em parafuso. No Brasil, todas as terças-ferias, meus queridos Murilo, Gill, Lau e Vina se encontram em casa para a nossa “uísqueterapia”. Eles me mandaram fotos, disseram que estavam pensando em mim e minha vontade era pegar um avião e correr para os braços deles. Como isso seria impossível, bolei um plano doido. Pensei em acordar o mais cedo possível e ligar para a companhia aérea. Se eu não tivesse uma resposta satisfatória, procuraria o consulado. Se não conseguisse nada, procuraria a imprensa. Pensei: sou jornalista, vou escrever para algum colega falando do descaso da Aer Lingus com seus passageiros. Procurei matérias referentes ao assunto e encontrei. Já fui pauteira e pensei em associar ao Arthur´s Day, que é hoje. Fiz o lead todo na minha cabeça. Já pensei na tradução Depois pensei em fazer um flash mob no aeroporto para chamar a atenção. Enfim, achei que estava enlouquecendo. Era 4h da manhã, tomei um Frontal e capotei.
Me arrastei para a recepção hoje de manhã (fruto do remédio). Perguntei por minha mala, ela não havia chegado. Liguei na companhia, a mulher pediu para esperar. Caiu a ligação. Liguei novamente, outra disse que me retornaria. Mas não retornou. Liguei para o consulado. Eles pediram para eu mandar um e-mail para ver o que poderiam fazer, mandei. Decidi ligar de novo na companhia aérea. MILAGRE! Minha mala havia chegado. Já estava no aeroporto e seria encaminhada pra mim hoje a tarde! Chequei se era verdade no meu site e CONFIRMADO. Minha mala já estava em Dublin. Minha vontade era gritar no meio do lobby do Hostel. Fiquei paralisada. Não sabia o que fazer. Saio? Fico aqui? Vou para o aeroporto? Acordo todo mundo no Brasil? Enfim, o que se faz nessa hora é fumar um cigarro. Fui fumar e de repente vejo uma MIRAGEM. Um senhorzinho com a minha mala na mão vindo em direção ao Hostel. Corri para ele e disse que era minha. Ele perguntou meu nome e se eu era do Brazil e eu disse: YES!
Como a Marina Menezes disse, a vontade é de abraçar a mala, abraçar todo mundo! Subi, tomei um bom banho com todas as minhas coisinhas. Passei todos os cremes. Arrumei minha roupa e agora estou aqui de vestido florido. Esperando para erguer um(s) copo(s) de Guinness e agradecer ao Arthur´s Day, St. Patrick e especialmente São Longuinho!
Cheers!
Obrigada a todos!
Bell
(setembro/2012)