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Lira dos Setentanos

 

 

Chico 70 anos 

 

Da nossa enviada especial a Paris:

“O que você preparou para Chiquito? Ele está aqui dando mole e a família chega do Rio hoje. Todos vieram comemorar os setentinha.

Selminha”

(Lá no Bloghetto tem mais: clique aqui)

 

 

“Chico Buarque é um dos maiores compositores do Brasil. É meu grande e querido amigo, muito bom de ter. Quieto e respeitador. Profissional extraordinário, estudioso, firme. É um homem lindo, maravilhoso, cavalheiro e deslumbrante. Comigo, é uma flor. Não poderia ser mais suave, amoroso e cuidadoso. Das canções que ele fez para eu cantar, não posso escolher uma. Todas são deslumbrantes. Estarão para sempre entre as melhores da minha vida. Isso já é um presente muito grande. Sou grata. Apaixonada por ele. E sua música alcança nobremente a todos. Com o melhor português, a melhor música, a melhor harmonia. Por isso é hora de parar de dizer que brasileiro tem ouvido burro. O brasileiro é sensível e sabe o que é bom. Chico faz aniversário um dia depois de mim. Sou do dia 18 de  junho e ele, do dia 19. Quando a gente estava fazendo o show de Chico & Bhetânia, no Canecão (no Rio em 1975), era um sucesso! Ficamos meses em cartaz. Estávamos no palco e resolveram fazer uma homenagem. No final do show, para tudo e entram as ‘canequetes’, de tapa sexo, cada uma com uma TV imensa e oferece para a gente. Chico me olhou e disse: ‘Nunca mais faço aniversário!’ Que vergonha que a gente passou! Mas ele é geminiano, adora fazer aniversário. Este ano ele não está aqui para eu dar um beijo nele. Mando de longe! Chico é tudo. É o máximo” (Maria Bethânia)

 

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“Antonio, quando ela abre os braços para o Chico, a emoção é absolutamente visível. E a gratidão por cantar tamanha beleza com ele. ” (Selminha)

 

 

“Nossa parceria é fora do comum. Temos apenas duas músicas fora de projetos específicos, ‘Moto-Contínuo” e ‘Nego Maluco’. As outras 40 que fizemos jutos ‘têm patrão’: fizemos músicas para balés e musicais. O balé do Teatro Guaíra, de Curitiba, havia encenado ‘Jogos de Dança’, seis peças instrumentais que fiz. Eles me chamaram para fazer ‘O Grande Circo Místico’ e sugeri o Chico para fazer as letras, pela qualidade dele e porque ele tinha prática de teatro, a carreira dele foi por este caminho. Eu sempre interferi muito nas letras dos meus parceiros, pedindo para trocar uma palavra. Nunca fiz isso com o Chico na vida. Nenhuma letra eu tive que pedir algo, porque ele é completamente obcecado, escreve e reescreve. Crio a expectativa e normalmente vem uma letra melhor do que a que estou esperando. Além de ser um excelente compositor, ele consegue inventar um personagem, caso da ‘Lily Braun’ e da ‘Beatriz’ no ‘Circo Místico’. Nosso encontro foi bom para nós dois. Eu sou um melhor músico por conta do trabalho que fez comigo. Chico consegue adivinhar o que a música quer passar e, muito provavelmente, nem o autor da melodia pensou daquele jeito.” (Edu Lobo)

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=D207r2Te9U8[/youtube]

 

 

“Conheci o Chico na década de 1960 em festas na casa de amigos, em São Paulo. Carregávamos a indiferença pelos compromissos e as improvisações da juventude. O Chico ainda não era o Chico, era o ‘Carioca’, que começava a surgir com seu acanhamento e seu violão. Não pude deixar de atender ao chamado dele, em 1969, quando ficou exilado na Itália, me convidando para trabalhar com ele em shows. Chegando a Roma, não tinha show nenhum, e ainda dei dinheiro para o Chico saldar umas dívidas. Permaneci seis meses com ele na Itália, vivendo juntos momentos nem sempre animadores. Dois dias antes de voltar ao Brasil, deixei com ele um tema de despedida para que ele colocasse letra, consolidando o tempo que passamos juntos. Havia ser iniciado, em Fiumicino, pela última estrofe, o que, dois anos depois, seria concretizado como ‘Samba de Orly’, já com a sutil intervenção de Vinicius de Moraes. Porque Orly era o aeroporto no qual desembarcava a maioria dos brasileiros perseguidos pelo regime militar. Já éramos parceiros desde ‘Lua Cheia’, minha primeira composição. Depois fizemos ‘Samba pra Vinicius’. Recentemente, deixei com ele um tema, quem sabe não seja o prenúncio de uma nova canção. Mas nossa mais autêntica parceria é a amizade e a confiança que depositamos um no outro.” (Toquinho)

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=og0ecRWInQw[/youtube]

 

 

“O Chico é o mais completo letrista e poeta brasileiro. Se bem que chegando próximo dele vêm mais uns 8 ou 9. O que, no meu entender, prova que fazemos a melhor e mais rica literatura musical do planeta. E, além do letrista, é também um grande melodista. E conseguiu aliar em suas obras, lirismo, política, cultura popular e filosofia, dentro de uma poética surpreendente, rica, belíssima. Serviu de inspiração para tantos letristas novos, mantendo-se assim a tradição de qualidade de letras escritas no Brasil. ‘Renata Maria’, antes de lhe chegar às mãos, tinha o título provisório de ‘Buarquiana 1’. E lhe chegou às mãos através da cantora Leila Pinheiro, que foi a primeira a gravar. Chico me ligou um dia para dizer que iria colocar um nome de mulher, pois, na minha fita, havia um momentos em que ele achou que eu, no meu lararaiá, havia falado algo com sonoridade parecida. Também fizemos ‘Sou eu’, que era ‘Buarquiana 2’, e Diogo Nogueira gravou primeiro, com o Chico. Ele é metódico e meticuloso. E não corre contra o tempo, creio. Já tenho outras duas músicas guardadas para ele colocar letra. Mas não gosto de sair pedindo. Não sou ‘entrão’. Sou tímido com meus ídolos. E Chico é um deles. Nem sei como tive coragem de perguntar se eu podia mandar um samba pra ele.” (Ivan Lins)

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=wyVrBGuBCgI[/youtube]

 

 

A única unanimidade nacional.” (Millôr Fernandes)

 

“A coisa mais importante em matéria de música popular.”(Rubem Braga)

 

“Herói nacional, salvação do Brasil, mestre da língua. Tanta coisa que nem cabe aqui.” (Tom Jobim)

 

“De amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando (…) Viva a música, viva o sopro de amor que a música e banda vêm trazendo…” (Carlos Drummond de Andrade, depois de ouvir “A Banda”)

 

Talvez mestre Millôr tenha exagerado.

Chico não é (ou já não é) uma unanimidade.

Mas continua uma sumidade:

soma idade, mas a idade some dele.

Que assim seja, benfazeja!

 

 

 

Nos píncaros de belos horizontes

 

 

Drummond brincalhão (1)

 

A estátua de Drummond em Copacabana, vítima da imbecilidade de pichadores no final do ano, já sofreu várias depredações.

Não deixam em paz o poeta, a apreciar a cidade escrita no mar. Arrancam-lhe os óculos, emporcalham-no com tinta, colocam-lhe bonés e flores na cabeça, vestem-lhe camisetas futebolísticas. Além disso, tem de suportar a palração dos que sentam ao seu lado e as fotos intermináveis com amigos instantâneos. Eu mesmo, confesso, tenho uma foto dessas com ele.

Pois não é que o jovem Drummond e seu grupo modernista ou futurista da velha Belo Horizonte também faziam das suas pelas ruas da cidade provinciana, que os rejeitava?

Segundo Pedro Nava, “Queríamos a deposição do presidente do Estado, o encarceramento dos seus secretários, um esbordoamento de deputados e uma matança de delegados. E, enquanto não vinham os morticínios exemplares, derivávamos contra a cidade e os concidadãos”.

Uma das práticas para épater le bourgeois era, de madrugada, trocar as placas dos médicos, dentistas e advogados nas fachadas de suas casas ou consultórios.

O próprio Drummond e Pedro Nava, um dos seus amigos mais chegados, relatam em verso e prosa, respectivamente, o quase incêndio que, uma noite, provocaram na casa das moças Vivacqua, cujos saraus literários frequentavam. Assustados, eles mesmos trataram de apagar as chamas e teriam passado por heróis aos olhos das moradoras, se um guarda-noturno não tivesse acompanhado toda a cena. Drummond dizia que se tratara de uma experiência do “ato gratuito” imaginado por Gide, mas a versão corrente era a de que os dois incendiários pretendiam de fato ver as moças de camisola quando saíssem às pressas da casa.

Drummond foi também o criador de uma modalidade temerária de alpinismo urbano, consistente em escalar um dos arcos do recém-construído viaduto de Santa Teresa. Fez vários discípulos e, muitos anos depois, os chamados “Cavaleiros do Apocalipse” da geração de 45 — Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino — repetiam como um ritual as escaladas noturnas do viaduto, cuja altura, dita “vertiginosa” por Nava e calculada em pelo menos cinquenta metros por Fernando Sabino, é na realidade de dezessete metros, o que não é pouco.

Consta ainda que uma noite, quando já se achava aboletado no píncaro do arco do viaduto, Drummond recebeu voz de prisão de um guarda, a quem desafiou a ir até lá em cima prendê-lo. Prudentemente, o guarda achou melhor relaxar a prisão.

Mas o grande escândalo literário, e de repercussão nacional, entre os vários promovidos pelos jovens modernistas mineiros — que se tornaram conhecidos como o “Grupo do Estrela”, bar em que se reuniam para beber, discutir sobre o modernismo, mostrar suas produções e conspirar — seria a publicação, em 1928, do poema “No meio do caminho”, de Drummond, na “Revista da Antropofagia”, de Oswald de Andrade.

Essas e muitas outras peripécias estão deliciosamente reunidas no livro de Humberto Werneck, “O desatino da rapaziada — Jornalistas e escritores em Minas Gerais (1920-1970)”, editado pela Companhia das Letras.

 

 

“E vamos à luta” (Gonzaguinha), com ele

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=bH3DCvDUdBg[/youtube] 

 

 

 

Resíduos

 

 

 

(…) Pois de tudo fica um pouco.

 Fica um pouco de teu queixo

no queixo de tua filha.

 De teu áspero silêncio

um pouco ficou, um pouco

nos muros zangados,

 nas folhas, mudas, que sobem.

 

Ficou um pouco de tudo

no pires de porcelana, dragão partido, flor branca,

 ficou um pouco

de ruga na vossa testa,

retrato.

 

(…) E de tudo fica um pouco.

 Oh abre os vidros de loção

e abafa

o insuportável mau cheiro da memória.

 

(Resíduo)

 

drummond assinatura

 

 

 

(…) Quem te esperou do outro lado?

Tua filha, ou o anjo torto

que te acompanhou de esguelha

e te deixou na contramão?

Pai morto, mãe morta, irmão

morto, e as namoradas todas

te acenando o mesmo adeus.

Mas se a vida é impraticável,

construíste um elefante

de papel e de ternura

que no dorso te levou

para a fazenda do ar.

 

(…) Cansado de ser moderno

agora és eterno

e apenas contemporâneo

de ti mesmo. Nem teu corpo

veste mais o paletó,

a gravata. Os teus óculos

devassam a bruma, a broma

da Máquina do Mundo,

que virou um claro-enigma.

 

(Resíduo,“Dez anos da morte de Drummond”, in “Herança Jacente”) 

Annibal assinatura 2

 

 

 

 

Declaração de amor

 

 

“Declaração de Amor”, Carlos Drummond de Andrade

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=aOJRX-Cy5pA[/youtube]

 

 

DECLARAÇÃO DE AMOR

 

Minha flor, minha flor, minha flor, minha flor.

Minha prímula, meu pelargônio, meu gladíolo, meu botão-de-ouro.

Minha peônia, minha cinerária, minha calêndula, minha boca-de-leão.

Minha gérbera.

Minha clívia.

Meu cimbídio.

Flor, flor, flor.

Floramarílis, floranêmona, florazálea.

Clematite minha.

Catléia, delfínio, estrelítzia.

Minha hortensegerânea.

Ah, meu nenúfar, rododendro e crisântemo e junquilho meus.

Meu ciclâmen, macieira-minha-do-japão.

Calceolária minha.

Daliabegônia minha, forsitiaíris, tuliparrosa minhas.

Violeta… Amor-mais-que-perfeito.

Minha urze.

Meu cravo-pessoal-de-defunto.

Minha corola sem cor e nome no chão de minha morte.

 

 

D’ après Carlos Drummond de Andrade

 

          Selma Barcellos

Selma no Jardim de Luxemburgo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                   “O homem atrás do bigode

                                   é sério, simples e forte.

                                   Quase não conversa.

                                   Tem poucos, raros amigos

                                   o homem atrás dos óculos e do bigode.”

 

Já sem o bigode da mocidade, alguns imbecis insistem em também tirar os óculos da estátua de bronze do poeta, em Copacabana.

O que ele (ou a estátua) diria?

O poema de Selminha diz.

 

MAS COMO DÓI!

 

                                   Se me chateio? Demais.

                                   Choram meus olhos inúteis

                                   e minhas retinas fatigadas

                                   já nem perguntam nada.

                                   Minhas pupilas estão gastas

                                   pela visão contínua de anjos tortos,

                                   desses que vivem na sombra,

                                   à espreita, no meio do caminho.

                                   Fosse esse gauche de óculos

                                   a estátua de uma bunda,

                                   a vasta bunda da Raimunda,

                                   engraçada, sempre sorrindo,

                                   haveria rima e solução.

                                   Eis que mais vasto é meu coração.

                                   E aqui de onde escrevo

                                   estamos todos vivos

                                   (mais que vivos, alegres) —

                                   eu, o poetinha, o Braga, o Jobim…

                                   Nada devia dizer

                                   sobre tristes fatos, ao cabo.

                                   Mas essa lua, mas esse conhaque

                                   botam a gente comovido como o diabo.

 

 

drummond não roubem meus óculos 

 

 

D’ après Selminha e Drummond

 

 http://www.dreamstime.com/stock-photo-top-yellow-tower-cactus-image27448940

 

 

 

POEMINHA TIRADO DE UMA PROSA DE DRUMMOND 

 

 

                                    Quando por ele passo

                                    o pequeno cacto amarelo

                                    parece dizer-me do seu vaso:

                                    — Me deixem ficar aqui no meu canto.

                                    Dispenso carinhos. Bastam-me meus espinhos.

 

                                    Olho-o comovido e pesaroso

                                    e sigo meu caminho pedregoso.

 

 

 

DIA D – DIA DRUMMOND

 

 

Dia D (Drummond)

 

 

Amanhã, dia 31 de outubro — nascimento de Carlos Drummond de Andrade, que fará 111 anos — o Instituto Moreira Salles comemora mais uma vez o Dia D – Dia Drummond, ideia lançada em 2011 com o objetivo de fazer com que a data passe a integrar o calendário cultural brasileiro.

Para comemorar o Dia D em 2013, o IMS oferece o roteiro de leitura “Vida e verso de Carlos Drummond de Andrade”, elaborado por Eucanaã Ferraz, consultor de Literatura do instituto. O roteiro pode ser lido e interpretado em qualquer lugar. Basta ter quatro leitores (um narrador e outros três que representarão diferentes fases na vida do poeta).

No IMS do Rio de Janeiro, a leitura do roteiro será feita na noite do dia 31 de outubro por Afonso Henriques Neto, Alberto Martins, Antonio Cicero e Joca Reiners Terron.

 

Saiba mais AQUI

 

 

De Cabral para Drummond

 

 

joão cabral e drummond

 

 

                                                DIFÍCIL SER FUNCIONÁRIO

 

                                                                                                                     João Cabral de Melo Neto

                                                                                                                     (Para Drummond)

 

                                                 Difícil ser funcionário

                                                 Nesta segunda-feira.

                                                 Eu te telefono, Carlos

                                                 Pedindo conselho.

 

                                                 Não é lá fora o dia

                                                 Que me deixa assim,

                                                 Cinemas, avenidas,

                                                 E outros não-fazeres.

 

                                                 É a dor das coisas,

                                                 O luto desta mesa;

                                                 É o regimento proibindo

                                                 Assovios, versos, flores.

 

                                                 Eu nunca suspeitara

                                                 Tanta roupa preta;

                                                 Tão pouco essas palavras —

                                                 Funcionárias, sem amor.

 

                                                 Carlos, há uma máquina

                                                 Que nunca escreve cartas;

                                                 Há uma garrafa de tinta

                                                 Que nunca bebeu álcool.

 

                                                 E os arquivos, Carlos,

                                                 As caixas de papéis:

                                                 Túmulos para todos

                                                 Os tamanhos de meu corpo.

 

                                                 Não me sinto correto

                                                 De gravata de cor,

                                                 E na cabeça uma moça

                                                 Em forma de lembrança

 

                                                 Não encontro a palavra

                                                 Que diga a esses móveis.

                                                 Se os pudesse encarar…

                                                 Fazer seu nojo meu…

 

                                                 Carlos, dessa náusea

                                                 Como colher a flor?

                                                 Eu te telefono, Carlos,

                                                 Pedindo conselho.

 

 

 

João Cabral e Drummond foram funcionários públicos exemplares ao longo de toda a vida, para que pudessem exercer “esse ofício do verso”, na expressão de Jorge Luis Borges.

Este poema é da primeira fase de João Cabral, em que confessadamente estava muito influenciado pela leitura da poesia de Drummond.

 

 

Nosso tempo

 

 

 

Drummond de verdade no banco em Copacabana

         

 

                                                NOSSO TEMPO (excerto)

 

                                                                                   Carlos Drummond de Andrade

 

                                                           I

 

                                   Esse é tempo de partido,

                                   tempo de homens partidos.

 

                                   Em vão percorremos volumes,

                                   viajamos e nos colorimos.

                                   A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.

                                   Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.

                                   As leis não bastam. Os lírios não nascem

                                   da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se

                                   na pedra.

 

                                   Visito os fatos, não te encontro.

                                   Onde te ocultas, precária síntese,

                                   penhor de meu sono, luz

                                   dormindo acesa na varanda?

                                   Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo

                                   sobe ao ombro para contar-me

                                   a cidade dos homens completos.

 

                                   Calo-me, espero, decifro.

                                   As coisas talvez melhorem.

                                   São tão fortes as coisas!

                                   Mas eu não sou as coisas e me revolto.

                                   Tenho palavras em mim buscando canal,

                                   são roucas e duras,

                                   irritadas, enérgicas,

                                   comprimidas há tanto tempo,

                                   perderam o sentido, apenas querem explodir.

 

                                                           […]

 

 O poema inteiro AQUI

              

 

 

Vou te contar…

 

drummond no mar estava escrita uma cidade 4

 

 

                                                       RIO 448 ANOS

 

 

                        “Vou te contar

                        minha alma canta

                        vejo o Rio de Janeiro

                        estou morrendo de saudades

                        Rio, seu mar

                        praia sem fim

                        Rio, você foi feito pra mim.

 

                        Da primeira vez era a cidade

                        da segunda o cais e a eternidade

                        o resto é mar

                        é tudo que não sei contar

                        da onda que se ergueu no mar

                        e das estrelas que esquecemos de contar.

 

                        No mar estava escrita uma cidade,

                        o mar batia em meu peito, já não cabia no cais.

                        A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu

                        a cidade sou eu

                        sou eu a cidade

                        meu amor.”

 

 

(Texto construído com excertos das letras de “Samba do avião” e “Wave” de Tom Jobim, e dos poemas “Mas viveremos” e “Coração numeroso”, de Carlos Drummond de Andrade)

 

 

“Wave” (Tom Jobim)

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=wGAfXN1-uVw[/youtube]