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Rolezinho

 

 

Fenômeno tipicamente paulistano, cujas praias são os shoppings, o rolezinho é o assunto do momento e começa a se espraiar por outras cidades por puro espírito de imitação, de “estar na moda”.

Aliás, “estar na moda” é a marca principal do rolezinho, embora já pululem por todos os cantos análises da intelligentsia tupiniquim conferindo, à direita e à esquerda, conotações político-sociais ao suposto “movimento”, comparando-o às manifestações de rua do ano passado, a protestos de excluídos e até ao “Ocupity Wall Street”! Com tanto tesão intelectual, já deve haver teses de mestrado e doutorado em gestação. 

A oposição enxerga reflexo da crise social; o governo, da ascensão social.

Devagar com o ardor, minha gente, às vezes um rolezinho é apenas um rolezinho, como diria Freud.

O que quer afinal a meninada do rolezinho?

Divertir-se, encontrar-se com amigos e conhecer outros, olhar vitrines, paquerar, beijar muito, fazer algazarra, como todas as gerações fazem e fizeram na mesma idade, cada qual a seu modo. O rolezinho é o footing da era da informática e das redes sociais.

Basta ver o que dizem, pensam e exibem os líderes e participantes dos rolezinhos, em frases colhidas ao acaso pela internet:

 

“Vamos ai pessoal zoa muito conhece novas pessoas e catar muitas minas e curti muito e sem roubo ai so curti mesmo”;

 

“Nós é Red Nós é Ouro Boné pa Tras Nike de Mola Nós é os Menino que as Menina Gosta”.

 

Afora a língua portuguesa, a turma do rolezinho não quer destruir nada, muito menos os shoppings, templos de consumo a que não teriam acesso. O que eles querem mesmo é celebrar os shoppings e o consumo. São tão consumistas, hedonistas e vazios quanto a molecada das classes A e B. Isso sim há de ser preocupante.

A magnífica charge de Jean Galvão na edição de hoje da “Folha de S. Paulo” (A2 Opinião) sintetiza tudo isso de uma forma que só mesmo a charge é capaz: num primeiro quadro, um homenzinho em close-up convida sorridente: “Ei, jovens! Eu apoio um rolezinho em minha loja!”. No segundo quadro, com a cena aberta, vê-se o mesmo homenzinho desanimado em frente de sua loja, que é uma livraria, enquanto a multidão de jovens ruma na direção oposta, seguindo a placa indicativa de “Moda, Cinema, Alimentação”.

É nóis, mano!

 

 

“Chopis Centi” (Dinho / Júlio Rasec), com os Mamonas Assassinas

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=p_BwCPjhztQ&hd=1[/youtube]

 

 

Eu ‘di’ um beijo nela

E chamei pra passear

A gente ‘fomos’ no shopping,

Pra ‘mó de’ a gente lanchar

 

Comi uns bichos estranhos,

Com um tal de gergelim

Até que tava gostoso,

Mas eu prefiro aipim

 

Quanta gente,

Quanta alegria,

A minha felicidade

É um crediário

Nas Casas Bahia

 

Quanta gente,

Quanta alegria,

A minha felicidade

É um crediário

Nas Casas Bahia

 

Paríba!

Joinha, joinha chupetão vamo lá

Chuchuzinho vamo embora

Onde é que entra hein?

 

Esse tal “Chópis Cêntis”

É muicho legalzinho,

Pra levar as namoradas

E dar uns rolêzinhos

 

Quando eu estou no trabalho,

Não vejo a hora de descer dos andaime

Pra pegar um cinema, do Schwarzenegger

“Tombém” o Van Daime.

 

Quanta gente,

Quanta alegria,

A minha felicidade

É um crediário

Nas Casas Bahia

 

Bem Forte, bem forte

Quanta gente,

Quanta alegria,

A minha felicidade

É um crediário

Nas Casas Bahia

 

 

Nos píncaros de belos horizontes

 

 

Drummond brincalhão (1)

 

A estátua de Drummond em Copacabana, vítima da imbecilidade de pichadores no final do ano, já sofreu várias depredações.

Não deixam em paz o poeta, a apreciar a cidade escrita no mar. Arrancam-lhe os óculos, emporcalham-no com tinta, colocam-lhe bonés e flores na cabeça, vestem-lhe camisetas futebolísticas. Além disso, tem de suportar a palração dos que sentam ao seu lado e as fotos intermináveis com amigos instantâneos. Eu mesmo, confesso, tenho uma foto dessas com ele.

Pois não é que o jovem Drummond e seu grupo modernista ou futurista da velha Belo Horizonte também faziam das suas pelas ruas da cidade provinciana, que os rejeitava?

Segundo Pedro Nava, “Queríamos a deposição do presidente do Estado, o encarceramento dos seus secretários, um esbordoamento de deputados e uma matança de delegados. E, enquanto não vinham os morticínios exemplares, derivávamos contra a cidade e os concidadãos”.

Uma das práticas para épater le bourgeois era, de madrugada, trocar as placas dos médicos, dentistas e advogados nas fachadas de suas casas ou consultórios.

O próprio Drummond e Pedro Nava, um dos seus amigos mais chegados, relatam em verso e prosa, respectivamente, o quase incêndio que, uma noite, provocaram na casa das moças Vivacqua, cujos saraus literários frequentavam. Assustados, eles mesmos trataram de apagar as chamas e teriam passado por heróis aos olhos das moradoras, se um guarda-noturno não tivesse acompanhado toda a cena. Drummond dizia que se tratara de uma experiência do “ato gratuito” imaginado por Gide, mas a versão corrente era a de que os dois incendiários pretendiam de fato ver as moças de camisola quando saíssem às pressas da casa.

Drummond foi também o criador de uma modalidade temerária de alpinismo urbano, consistente em escalar um dos arcos do recém-construído viaduto de Santa Teresa. Fez vários discípulos e, muitos anos depois, os chamados “Cavaleiros do Apocalipse” da geração de 45 — Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino — repetiam como um ritual as escaladas noturnas do viaduto, cuja altura, dita “vertiginosa” por Nava e calculada em pelo menos cinquenta metros por Fernando Sabino, é na realidade de dezessete metros, o que não é pouco.

Consta ainda que uma noite, quando já se achava aboletado no píncaro do arco do viaduto, Drummond recebeu voz de prisão de um guarda, a quem desafiou a ir até lá em cima prendê-lo. Prudentemente, o guarda achou melhor relaxar a prisão.

Mas o grande escândalo literário, e de repercussão nacional, entre os vários promovidos pelos jovens modernistas mineiros — que se tornaram conhecidos como o “Grupo do Estrela”, bar em que se reuniam para beber, discutir sobre o modernismo, mostrar suas produções e conspirar — seria a publicação, em 1928, do poema “No meio do caminho”, de Drummond, na “Revista da Antropofagia”, de Oswald de Andrade.

Essas e muitas outras peripécias estão deliciosamente reunidas no livro de Humberto Werneck, “O desatino da rapaziada — Jornalistas e escritores em Minas Gerais (1920-1970)”, editado pela Companhia das Letras.

 

 

“E vamos à luta” (Gonzaguinha), com ele

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=bH3DCvDUdBg[/youtube] 

 

 

 

Feliz 2015

 

 2014

 

 

Se 1968 é um ano que não terminou, como nos revela o delicioso livro de Zuenir Ventura, 2014 será a crônica do ano que não começou.

Os otimistas de plantão — ou pessimistas, dependendo do ponto de vista — dizem que hoje é o primeiro dia útil do novel ano.

Como assim? Todo mundo está careca de saber que o ano só começa de fato no Brasil depois do Carnaval, que este ano será em março.

Mas quando o Carnaval acabar, já em meados de março, estaremos muito próximos do grande acontecimento do ano, a Copa do Mundo, que começa em 12 de junho no Itaquerão (se estiver pronto) e termina só em 13 de julho, no Maracanã. Quem aguenta fazer alguma coisa nessa expectativa da convocação dos jogadores e dos preparativos do escrete nacional, nossa Pátria de Chuteiras? Se o Brasil for campeão, pelo menos dois meses de comemoração. Se perder, dois meses ou mais de profunda depressão.

Bem, mas depois disso o ano finalmente começa. Começa nada! E as eleições, a longa campanha que paralisa o país até o primeiro turno em outubro? E se houver segundo turno, até novembro.

Encerradas as eleições, já estamos pertinho do Natal e do Ano Novo de novo, fazer mais o quê?

A todos, feliz 2015.

 

“Quando o Carnaval chegar” (Chico Buarque), com Nara Leão

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=E667i9Hynro&hd=1[/youtube]

 

 

Os três convidados

 

         Annibal Augusto Gama

Annibal

 

 

 

 

 

 

 

                                                           OS TRÊS CONVIDADOS

 

 

                                               Para a minha festa natalícia

                                               convido três amigos,

                                               um velho, um moço, um menino.

 

                                               Sirvo-lhes na mesa redonda

                                               coberta pela toalha de linho

                                               o pão, o queijo, o vinho, o leite, o mel.

 

                                               O relógio na parede vai bater nove horas

                                               e é confortador o fogo sob a trempe do fogão

                                               onde ferve a água para o café.

 

                                               O velho come o pão embebido no vinho,

                                               o moço come o queijo e bebe o vinho,

                                               o menino toma leite e se lambuza de mel.

 

                                               Não é preciso dizer nenhuma palavra

                                               tanto nos conhecemos de tantos anos,

                                               e eu rio nas rugas do velho,

                                               na ardente face do moço

                                               e nos olhos úmidos do menino.

 

                                               Bebo afinal o café

                                               com o fantasma das três idades.

 

 

 “Resposta ao tempo” (Aldir Blanc / Cristóvão Bastos), com Aldir

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=fgHfzDgOwtY[/youtube]

 

 

Tão bom que foi o Natal

 

 

[youtube][youtube]https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Di6ndDWb68c[/youtube][/youtube]

 

 

Esse compacto foi oferecido pela imobiliária “Clineu Rocha” aos seus clientes, no Natal de 1967.

De um lado, a canção “Tão bom que foi o Natal” composta e interpretada por Chico Buarque. Do outro, faixas com jingles da empresa.

O brinde recebeu menção honrosa na categoria de “Melhor Cartão de Natal”, no”I Prêmio Colunistas Nacional 1968”.

Chico teve atritos com a imobiliária algum tempo depois do lançamento do disco, como se pode ver do trecho abaixo de uma entrevista dele ao COOJORNAL em junho de 1977:

 

Coojornal:   Em compensação, aquela imobilária de São Paulo, a Clineu Rocha, usou com a maior cara de pau uma música tua como jingle…

Chico Buarque:   Mas ela foi a falência como castigo (risos)

Coojornal:   Como foi mesmo essa história da Clineu Rocha?

Chico Buarque:   Não, foi um negócio de dez anos atrás. Eu fiz uma musiquinha, gravei com violão assim, que era para essa empresa distribuir aos seus clientes de brinde no Natal. Mas estava escrito, não era gravação comercial, não era para tocar na rádio nem nada. Agora há dois anos atrás usaram no Natal como jingle da firma. Aí fui lá e processei e eles me deram a grana porque era um abuso.

 

 

  

Um samba no Bexiga

 

 

E por falar em hospital…

 

“Um Samba no Bexiga” (Adoniran Barbosa), com ele e Elis Regina se matando de rir

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=JjrrE0G03nI[/youtube]

 

Domingo nós fumo num samba no Bexiga

Na rua Major, na casa do Nicola

À mezza notte o’clock

Saiu uma baita duma briga

Era só pizza que avuava junto com as braxola 

Nóis era estranho no lugar

E não quisemo se meter

Não fumos lá pra briga, nós fumo lá pra come

Na hora “h” se enfiemo debaixo da mesa

Fiquemo ali, que beleza, vendo o Nicola brigá

Dali a pouco escutemo a patrulha chegá

E o sargento Oliveira falá:

“Não tem importânça,

Vou chamar duas ambulânça.

Carma pessoá,

A situação aqui tá muito cínica.

Os mais pior vai pras Crínica.”

 

 

Procura-se

 

 

                                       PROCURA-SE

                                       uma nuance

                                       um relance

                                       uma chance

                                       um lance

                                       um romance

                                       (não necessariamente nessa ordem)

 

Nascimento de Vênus Botticelli

 

“Minha” (Francis Hime / Ruy Guerra), com Ivan Lins