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Dans mon île

 

 

Consta que esta canção teria sido precursora da Bossa Nova, e que Tom Jobim nela encontrou o caminho a seguir.

E o barquinho?

 

 

“Dans mon île” (Henri Salvador / M. Pon), com Henri

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=JDzz2KGuyH0#at=147[/youtube]

 

 

Dans mon île

Ah comme on est bien

Dans mon île

On n’fait jamais rien

On se dore au soleil

Qui nous caresse

Et l’on paresse

Sans songer à demain

Dans mon île

Ah comme il fait doux

Bien tranquille

Près de ma doudou

Sous les grands cocotiers qui se balancent

En silence, nous rêvons de nous.

 

Dans mon île

Un parfum d’amour

Se faufile

Dès la fin du jour

Elle accourt me tendant ses bras dociles

Douce et fragile

Dans ses plus beaux atours

Ses yeux brillent

Et ses cheveux bruns

S’éparpillent

Sur le sable fin

Et nous jouons au jeu d’Adam et Eve

Jeu facile

Qu’ils nous ont appris

Car mon île c’est le Paradis.

 

 

 

A arte do encontro VII

 

 

 vinicius, chico, tom e manuel bandeira

 

Chico Buarque conta que conheceu Vinicius de Moraes como amigo do pai, Sergio Buarque de Holanda, e tinha por ele a reverência que os mais novos costumavam ter com os mais velhos.

Só bem depois, quando Chico começou a aparecer como compositor e cantor é que as relações entre Vinicius e ele se estreitaram, acabaram parceiros e até compadres.

“Valsinha” é uma das canções mais belas da parceria, em que o poetinha fez a melodia e Chico, a letra.

Vinicius não resistiu a dar alguns pitacos na letra que Chico lhe enviou, entre os quais o título da canção: “Valsa hippie”.

A deliciosa troca de cartas (e farpas) entre os dois revela que Chico, apesar do respeito e da admiração por Vinicius, já havia adquirido confiança e intimidade suficientes para contrariá-lo. E me parece que a razão, no caso, estava com Chico.

 

 

DE VINÍCIUS DE MORAES PARA CHICO BUARQUE

 

Mar del Plata, 24 de janeiro de 1971

 

Chiquérrimo,

 

Dei uma apertada linda na sua letra, depois que você partiu, porque achei que valia a pena trabalhar mais um pouquinho sobre ela, sobre aqueles hiatos que havia, adicionando duas ou três idéias que tive. Mandei-a em carta a você, mas Toquinho, com a cara mais séria do mundo, me disse que Sérgio morava em Buri, 11, e lá se foi a carta para Buri, 11.

Mas, como você me disse no telefone que não tinha recebido, estou mandando outra para ver se você concorda com as modificações feitas.

Claro que a letra é sua, e eu nada mais fiz que dar uma aparafusada geral. Às vezes o cara de fora vê melhor essas coisas. Enfim, porra, aí vai ela. Dei-lhe o nome de “Valsa hippie”, porque parece-me que tua letra tem esse elemento hippie que dá um encanto todo moderno à valsa, brasileira e antigona. Que é que você acha? O pessoal aqui, no princípio, estranhou um pouco, mas depois se amarrou na idéia. Escreva logo, dizendo o que você achou.

 

 

DE CHICO BUARQUE PARA VINÍCIUS DE MORAES

 

Caro poeta,

 

Recebi as duas cartas e fiquei meio embananado. É que eu já estava cantando aquela letra, com hiato e tudo, gostando e me acostumando a ela. Também porque, como você já sabe, o público tem recebido a valsinha com o maior entusiasmo, pedindo bis e tudo. Sem exagero, ela é o ponto alto do show, junto com o “Apesar de você”. Então dá um certo medo de mudar demais. Enfim, a música é sua e a discussão continua aberta. Vou tentar defender, por pontos, a minha opinião. Estude o meu caso, exponha-o a Toquinho e Gesse, e se não gostar foda-se, ou fodo-me eu.

“Valsa hippie” é um título forte. É bonito, mas pode parecer forçação de barra, com tudo que há de hippie por aí. “Valsa hippie” ligado à filosofia hippie como você a ligou, é um título perfeito. Mas hippie, para o grande público, já deixou de ser filosofia para ser a moda pra frente de se usar roupa e cabelo. Aí já não tem nada a ver. Pela mesma razão eu prefiro que o nosso personagem xingue ou, mais delicado, maldiga a vida, em vez de falar mal da poesia. A sua solução é mais bonita e completa, mas eu acho que ela diminui o efeito do que se segue. Esse homem da primeira estrofe é o anti-hippy. Acho mesmo que ele nunca soube o que é poesia. É bancário e está com o saco cheio e está sempre mandando sua mulher à merda. Quer dizer, neste dia ele chegou diferente, não maldisse (ou “xingou” mesmo) a vida tanto e convidou-a pra rodar.

“Convidou-a pra rodar” eu gosto muito, poeta, deixa ficar. Rodar que é dar um passeio e é dançar. Depois eu acho que, se ele já for convidando a coitada para amar, perde-se o suspense do vestido no armário e a tesão da trepada final. “Pra seu grande espanto”, você tem razão, é melhor que “para seu espanto”. Só que eu esqueci que ia por itens.

Vamos lá: Apesar do Orestes (vestido de dourado é lindo), eu gosto muito do som do vestido decotado. É gostoso de cantar “vestidodecotado”. E para ficar dourado, o vestido fica com o acento tendendo para a primeira sílaba. Não chega a ser um acento, mas é quase. Esse verso é, aliás, o que mais agrada, em geral. E eu também gosto do decotado ligado ao “ousar” que ela não queria por causa do marido chato e quadrado.

Escuta, ô poeta, não leva a mal a minha impertinência, mas você precisava estar aqui para ver como a turma gosta, e o jeito dela gostar dessa valsa, assim à primeira vista. É por isso que estou puxando a sardinha mais para o lado da minha letra, que é mais simplória, do que pelas suas modificações que, enriquecendo os versos, talvez dificultem um pouco a compreensão imediata. E essa valsinha tem um apelo popular que nós não suspeitávamos.

Ainda baseado no argumento acima, prefiro o “abraçar” ao “bailar”. Em suma, eu não mexeria na segunda estrofe. A terceira é a que mais me preocupa. Você está certo quanto ao “o mundo” em vez de “a gente”. Ah, voltando à estrofe anterior, gostei do último versos onde você diz “e cheios de ternura e graça” em vez de “e foram-se cheios de graça”. Agora, estou pensando em retomar uma idéia anterior, quando eu pensava em colocá-los em estado de graça. Aproveitando a sua ternura, poderíamos fazer “Em estado de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar”. Só tem o probleminha da junção “em-estado”, o “em-e” numa sílaba só. Que é o mesmo problema do “começaram-a”. Mas você mesmo disse que o probleminha desaparece dependendo da maneira de se cantar. E eu tenho cantado “começaram a se abraçar” sem maiores danos.

Enfim, veja aí o que você acha de tudo isso, desculpe a encheção de saco e responda urgente.

Há um outro problema: o pessoal do MPB-4 está querendo gravar essa valsa na marra. Eu disse que depende de sua autorização e eles estão aqui esperando.

Eu também gostaria de gravar, se o senhor me permitisse, por que deu bolo com o “Apesar de você”, tenho sido perturbado e o disco deixou de ser prensado. Mas deu para tirar um sarro. É claro que não vendeu tanto quanto a “Tonga”, mas a “Banda” vendeu mais que o disco do Toquinho solando “Primavera”.

Dê um abraço na Gesse, um beijo no Toquinho e peça à Silvana para mandar notícias sobre shows etc. Vou escrever a letra como me parece melhor. Veja aí e, se for o caso, enfie-a no ralo da banheira ou noutro buraco que você tiver à mão.

 

 

 

E cada verso meu será…

 

 

Eu sei que vou te amar

 

 

Num 9 de julho, 33 anos atrás, morria Vinicius de Moraes (AQUI), que neste ano de 2013 completa 100 anos.

Há maravilhosas interpretações dessa canção antológica dele e do Tom, mas esta, com Maria Creusa e Toquinho, tem especial significação para mim, por tê-la presenciado mais de uma vez nos inesquecíveis shows do circuito universitário que faziam na época.

 

 vinicius-de-moraes

 

Eu sei que vou te amar

 “Eu sei que vou te amar” (Vinicius de Moraes / Tom Jobim), com Vinicius, Toquinho e Maria Creusa

 

Os “The Friends”

 

     Selma Barcellos

Selma 2

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Reúnem-se regularmente. Almoços sem hora para acabar. Amigos irmãos. Beijam-se na chegada e na saída. No cardápio, caipirinhas, abobrinhas, queixas da patroa, das tungadas do governo, da próstata, atualização do obituário, piadas (repetidas à exaustão) e “olha a gostosa que entrou”, “mas é bom demais ser avô”, “tô tomando ginkgo, a memória tá outra”…

Já aconteceu daquele que não bebe – o “transporre” – tocar a campainha, conduzir o ruinzinho até o sofá da sala, sob o olhar fulminante da mulher, e sair batido. Ou preencher, a pedido de outro alegrinho, seu cheque do rateio e, de troça, anotar uma quantia absurda no canhoto, sem data nem local, para desespero da criatura amnésica ao se deparar com a cifra dias depois.

Toca o celular e meu marido me pede que fale com um deles.

_ Oi, Brito, tudo bem?

_ Tudo ótimo! Selma, lembra do MARIO?

_ Claro, aquele que te… Brincadeira, Brito. Peraí. Mario… Mario… da Rita?  Os que moraram no mesmo bloco da gente em Brasília?

_ Não, o MARIO de Mediar, Ansiar, Remediar, Incendiar e Odiar! Estão aqui caindo na minha pele, apostando que é “intermedia”. Fala aí, professora, não é “intermedeia”?

_ Quanto vale a aposta? Quero 10%.

Ouvi as gargalhadas. Meninos no pátio do recreio. Companheiros de uma vida.

Por eles um anjo intermedeia.

 

P.S.: Mal o marido chegou, chamei-o para ler o post. Emocionado, tirou do bolso o bilhete acima.

 

 

Vanessa Mata Tom Jobim

 

 

vanessa da mata

 

Ainda não havia assistido ao show em que Vanessa da Mata interpreta canções de Tom Jobim, o que fiz ontem por um canal de TV que transmitiu ao vivo a apresentação em Ipanema.

O projeto “Viva Tom Jobim”, patrocinada pela “Nívea” é uma homenagem aos 50 anos do lançamento do primeiro disco solo do Maestro Soberano, “The Composer of Desafinado Plays”, gravado pela “Verve”, em Nova York, no ano de 1963.

Pois apesar da denominação do projeto, de bons músicos acompanhando-a, do belo cenário, o que vi e ouvi foi Vanessa, fazendo jus ao nome dela e ao do disco quinquagenário, tentando matar Tom Jobim, desafinando, semitonando, e outras coisas mais. Ficou evidente não estar à altura das nuances melódicas e do refinamento das músicas de Tom.

Não gosto dela como cantora, admito.

Quando surgiu, o timbre algo parecido com o de Gal Gosta me despertou a atenção, mas logo percebi que se tratava de uma cantora muito limitada, a despeito do grande sucesso de público e de crítica, o que, aliás, não significa absolutamente nada. Sou desafinado, mas meus ouvidos não são moucos.

Apesar disso, cheguei a me indagar se não seria mera implicância ou intolerância minha. Mas eis que, sem nada haver comentando antes com ela, recebo um e-mail de uma querida amiga e colaboradora deste blog (e que encanta quando canta) dizendo-me que sentia exatamente o mesmo. 

Até Caetano Veloso, que participou brevemente do show, parecia sem graça, pouco à vontade, cantando num tom (ou Tom), que não era o dele.

Vanessa só não mata de vez Tom Jobim porque ele é mesmo imortal.

(A cara do Tom na foto acima não parece preocupada?)