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Vingança

 

 

 

 

 

― Alô…

― Alô, de onde fala?

― Com quem o senhor quer falar?

― Com a dona Maria, aqui é o Brito, marido de aluguel…

― Marido de aluguel?

― Isso, a dona Maria me ligou pra fazer uns servicinhos, e eu quero passar o orçamento.

― Que servicinhos?

― Tá marcado aqui ó: trocar lâmpadas, uma torneira pingando, pegar um morcego que entrou ontem de noite e ela fechou na sala, tirar um ninho de pomba que está sendo feito no alto da varanda, e alguma coisinha mais…

― Eram só duas lâmpadas queimadas, que nem faziam muita falta e já troquei, o tal morcego não passava de uma borboleta, e o ninho o jardineiro tirou. Acho que só sobra a torneira pingando, mas já mandei colocar uma nova pra resolver de vez.

― O senhor é o marido?

― Sou. O marido adquirido!

― Mas ela disse que o senhor fez uma cirurgia e não podia pegar peso nem subir na escada…

― Exagero dela. Foi coisinha à toa. Já tô ótimo. O que eu não posso mesmo é cair da escada…

― Então tá. Acho que fica pra outra vez então.

― Fica. Escuta, Brito, a tua firma também tem mulher de aluguel?

 

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=ZXFginzWtFc[/youtube]

 

[…] 

“O remorso talvez seja a causa

Do seu desespero

Ela deve estar bem consciente

Do que praticou,

Me fazer passar esta vergonha

Com um companheiro”

[…]

 

 

 

Desfocado

 

 

 

 

 

 

            Nunca antes na história deste país houve tanta gente focada.

            Os jogadores de futebol, nem se diga. Além do “grupo fechado”, estão sempre focados no próximo jogo, no campeonato, na busca da classificação e do título de campeão, na convocação para a seleção. Mas, como se sabe, o futebol é uma caixinha de surpresas, algumas vezes se ganha, outras, não.

            Os jornalistas e repórteres também estão sempre focados, mesmo aqueles que já não são focas. Focados na matéria que publicarão, na investigação e no furo que darão, na pauta que haverão de cumprir para satisfação do patrão.

            O povo em geral vive focado em sobreviver, ganhar a cada dia o pão, no mensalão e na eleição (menos), na Carminha e no Tufão, no Mengão e no Curingão (muito mais).

            Pagodeiros e sertanejos universitários (seja lá o que isso signifique), de cavaco e violão na mão, focam no CD ou DVD que lançarão, na próxima apresentação, no sucesso da canção, no Domingão do Faustão. 

            Políticos e governantes nunca perdem o foco em construir uma grande nação, combater a corrupção, acabar com a inflação, melhorar o transporte, a segurança, saúde e educação.

            Pastores e bispos, de sacolinha na mão, focam na salvação, nos demônios que expulsarão, nos templos que edificarão, no novo canal de televisão que comprarão ou ganharão.

            Eu, da minha parte, se não desde que nasci, mas assim que me tornei petiz, tenho sido um desfocado na vida, de óculos no nariz, que nunca sabia onde pôr.

            Depois de muito tropeção, um oculista de devoção, desses que nos tiram da sombra, de uma só cajadada me livrou da catarata e corrigiu a visão: “Vai, Antonio! ser focado na vida”.

            Não chega a ser um homônimo. Nem sei se será uma solução.

 

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=UqtfjsvrptI[/youtube]

 

 

 

Há de haver algum lugar

 

 

 

 

 

 

Estou abandonando aos poucos a minha velha conta de e-mail (acgama@netsite.com.br) por outra, mais moderna e eficiente (antonicogama@gmail.com). Valho-me do ensejo para pedir aos distintos amigos e leitores que passem a usar esta última para se comunicar comigo.

Sou apegado às minhas coisas, não por avareza, mas por razões outras, sentimentais. Avareza sentimental, talvez.

Aquela velha conta foi a minha primeira, e a gente nunca se esquece da primeira, seja lá o que for. Para o bem e para o mal.

Como as mensagens que recebo estão sendo encaminhadas automaticamente para a nova conta, esqueço-me com frequência de acessar a velha (sem malícia, por favor) e limpá-la do que já não interessa, ou nunca interessou.

É um martírio. Outro dia havia mais de duas mil mensagens esquecidas, a grande maioria propagandas de toda espécie, pps edificantes ou metidos a engraçados, correntes ameaçadoras caso sejam quebradas e outras chateações do gênero.

Passei um tempo enorme deletando tudo.

Enquanto me dedicava a essa operação de extermínio, com a frieza pragmática de um Capitão Nascimento, súbito o coração sentimentaloide me falou mais alto: “Para aonde vão essas pobres palavrinhas e imagens desprezadas?” 

O universo cibernético continua para mim um mistério tão insondável e profundo quanto o universo propriamente dito. Quem sabe mais intrincado ainda.

Os dois, por exemplo, têm “nuvens”, mas as do universo celeste eu posso ver, quase tocá-las quando viajo de avião (outro absurdo de lata que avoa que nem passarinho), e de vez em quando até me despejam água na cabeça para me despertar das minhas tontices.  Já as nuvens do ciberespaço não tenho a mínima ideia de como são, onde ficam e o que fazem.

Quando os seres físicos morremos, nossas almas vão para o céu, inferno, purgatório ― se cremos ― ou simplesmente nos decompomos, somos consumidos por outros seres e viramos pó ― se cremos apenas naquela outra entidade mítica, a Ciência.

E no mundo cibernético? 

O que acontece com as palavras e imagens desterradas?

Haverá um cemitério para elas, ou uma espécie de máquina fragmentadora virtual para torná-las pedacinhos coloridos de saudade?

Ou elas pairam eternamente por aí como almas penadas, até que um cracker as incorpore tal um pai de santo num terreiro de umbanda?

Saravá!

 

 

 

É preciso deixar sempre um pouco de desejo

 

 

 

 

 

            É preciso deixar sempre um pouco de desejo na ponta dos dedos

            para tocar o corpo da mulher amada quando ela se foi

            mas ficaram o cheiro do seu suor nas dobras do lençol,

            seu sorriso que espia do espelho, a escova e o batom na pia

            esquecidos para nos lembrar.

 

            É preciso deixar sempre um pouco de desejo na ponta dos dedos

            para beliscar as cordas do violoncelo adormecido no canto da sala

            e arrancar seus gemidos plangentes e outonais

            que não são olvidos nunca mais.

 

            É preciso deixar sempre um pouco de desejo na ponta dos dedos

            para na ilha naufragada afagar a capa de couro do livro

            levado na algibeira, cheirá-lo, repassar suas folhas uma a uma

            e não ler a última jamais.

 

            É preciso deixar sempre um pouco de desejo na ponta dos dedos

            para alçar voo do chão cativo, palmilhar um pedacinho de inferno

            e um pedacinho de paraíso.

 

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=LY08poPk7mU[/youtube]

 

 

A arte do encontro VI

 

 

 

 

Rubem Braga e Vinícius de Moraes sentados;

José Carlos de Oliveira entre os dois;

atrás, Paulo Mendes Campos e Sérgio Porto;

ao lado, com a mão no ombro de Vinicius, Fernando Sabino.

Que encontro, Deus meu!

(Creio que no jardim cultivado por Rubem Braga na cobertura em que morava)
 

 

 

“Meu caro Vinicius de Moraes

 

Escrevo-lhe aqui de Ipanema para lhe dar uma notícia grave: a primavera chegou.

Você partiu antes. É a primeira primavera, de 1913 para cá, sem a sua participação.

Seu nome virou placa de rua e nessa rua que tem seu nome na placa vi ontem 3 garotas de Ipanema que usavam mini-saias. Parece que a moda voltou nessa primavera. Acho que você aprovaria.

O mar anda virado. Houve uma lestada muito forte, depois veio um sudoeste com chuva e frio. E daqui de minha casa vejo uma vaga de espuma galgar o costão sul da Ilha das Palmas. São violências primaveris.

O tempo vai passando poeta, chega a primavera nesta Ipanema, toda cheia de sua música e de seus versos. Eu ainda vou ficando um pouco por aqui — a vigiar, em seu nome, as ondas, os tico-ticos e as moças em flor.”

 

Rubem Braga

 

  

 

Deus lhe pague

 

 

 

 

                                   ─ Dá uma moeda pra comprar um pão?

                                   Dou-lhe.

                                   E lá vai ele com o tostão furado

                                   comer o pão que o diabo amassou.

 

 

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=pODeQioMGRU[/youtube]

 

 

 

Dó de peito

 

 

 

       Joaquim Ferreira dos Santos me alertou na segunda-feira passada para o relançamento de “Tem que acontecer”, do saudoso Sérgio Sampaio, e para a música do disco preferida dele, “Velho bode”, “aquela do “Você é um fracasso / do meu lado esquerdo do peito / uma corda de nylon / de aço / que arrebenta quando faço dó”. Nesse “dó” final ele tira o som da nota no violão, um dó pungente capaz de deixar humilhados os do Nélson Cavaquinho”.

        De Sérgio Sampaio nunca me esqueço (“Eu quero é botar meu bloco na rua” é uma das músicas prediletas da minha mulher), mas confesso que há muito tempo não ouvia uma canção dele, nem me lembrava do “Velho bode”, segundo Joaquim Ferreira dos Santos “um dos bichos mais geniais da MPB (ao lado do “Pato”, do João, do “Sapo” do Donato, da “Perereca” da Dercy”)”.

       Sérgio Sampaio, que se foi tão cedo, faz muita falta no cenário da MPB, não apenas pelo seu imenso talento, mas por ser um dos maiores representantes de uma vertente meio “maldita” (semelhante à dos poètes maudits), iconoclasta e irônica, sem medo de palmear o “brega”. Raul Seixas, Tom Zé, Jards Macalé, Eduardo Dusek e o próprio Caetano Veloso podem ser incluídos no mesmo time.

       A exemplo de Joaquim Ferreira dos Santos, também “sou de uma geração em que a ordem do mundo mudava ao sabor de um LP do Caetano, do Chico, dos Beatles. Hoje, eu ouço o Criolo, os crioulos do rap, e, a não ser que você me desminta, Dapi, não percebo as águas do mar se abrindo. A música não é mais o importante, mas o show.”

     Saí atrás do bode, e daquele “dó”, o que hoje em dia é bem fácil com o prodígio do YouTube.

         Passei o resto da semana com o velho bode e o seu “dó” final me doendo no peito.

      Comprei o CD (com outras faixas ótimas) que  — como se dizia antigamente — está prestes a furar, de tanto tocar.

 

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=2H_d4NEz5bE&list=FL4NABM5uSuIBCGiiPxgvugA&index=1&feature=plpp_video[/youtube]

 

 

 

A Queda e O Apanhador

 

 

 

 

 

 

          Diogo Mainardi chorou.

          Ali onde ele chorou, qualquer um chorava:

            

“82

Passei o dia na UTI.

Acariciei o rosto de Tito, Ele permaneceu morto. Acariciei o peito de Tito. Ele permaneceu morto. Acariciei a perna de Tito. Ele permaneceu morto. Acariciei as costas de Tito. No momento em que acariciei suas costas, deu-se o inesperado. Subitamente, ele contorceu o corpo e arqueou a coluna.

Tito ressuscitou.

Chorei por meia hora. Depois de ter chorado por meia hora, chorei por uma hora. Depois de ter chorado por uma hora, chorei por duas horas.”

 

          Mas Diogo Mainardi não quer comiseração nem simpatia por ele e pelo filho Tito, que sofreu paralisia cerebral em consequência de barbeiragens absurdas praticadas durante o parto, no hospital de Veneza.

          Mainardi não faz concessão alguma ao bom-mocismo:

 

“3 

[…]

 

Quando chegamos ao Campo Santi Giovanni e Paolo, à altura da estátua de Bartolomeo Colleoni, Anna disse:

— Estou com medo do parto.

Ela já manifestara o mesmo temor nas semanas anteriores, porque o hospital de Veneza, que agora se erguia à nossa frente, era conhecido por erros médicos.

Contemplei sua fachada por um instante.

O hospital de Veneza instalara-se no prédio da Scuola Grande di San Marco em 1808. A fachada arquitetada por Pietro Lombardo, em 1489, tornara-se sua porta de entrada.

Respondi:

— Com esta fachada, aceito até um filho deforme.”

  

          Castigo divino? 

          Diogo Mainardi não acredita em Deus (tampouco eu consigo acreditar num deus que agisse assim):

  

“143

Eu soubera que minha mulher estava grávida exatamente um ano antes.

Tratei do assunto em 23 de fevereiro de 2000, em minha coluna na revista Veja.

Comecei dizendo que, até aquele momento, a recusa da paternidade fora uma das raras certezas que eu jamais questionaria em minha vida. Em seguida, comentei que meu desejo — reproduzo palavra por palavra — era ter um “filho tartaruga: toda vez que ele se agitasse demais, bastaria revirá-lo de barriga para cima, e ele permaneceria parado, silencioso, sacudindo os bracinhos”.

Eu tive meu filho tartaruga.

 

“134

Eu nunca cultuei Deus. Eu nunca cultuei o Homem. Passei a cultuar Tito. Passei a cultuar a vida doméstica. Meu evangelho é uma conta de luz. Meu templo é uma quitanda.

Tito é o Todo. Um tomate é o Todo.”

 

          Dizia Fernando Pessoa que “A literatura, como toda arte, é uma confissão de que a vida não basta”, ideia essa retomada por Ferreira Gullar ao dizer que “A arte existe porque a vida não basta”.

          Antes de Tito, a vida não bastava para Diogo Mainardi, e ele  a vivia por meio da arte e da literatura:

 

“138

[…] 

Quando Tito nasceu, eu estava escrevendo meu quinto romance.

Era assim que eu vislumbrava meu futuro: sempre em Veneza, pulando de romance em romance.

O nascimento de Tito mudou tudo.”

 

“331

Para Marcel Proust, a “vida verdadeira, a única vida plenamente vivida, era a literatura”. Para mim, a vida verdadeira, plenamente vivida, passou a ser Tito.

Depois de seu nascimento, repudiei minha literatura e fui ganhar dinheiro.”

 

          Diogo Mainardi já não precisa se preocupar em ganhar dinheiro para cuidar do filho.

          Tito está rico. Recebeu uma indenização milionária:

 

“350

Depois de sete anos, o processo contra dottoressa F e o hospital de Veneza finalmente chegara ao fim.

Tito ganhara 3.162.761 euros.

No caminho de volta da Fondamenta delle Zattere, Tito e eu passamos pela Calle Querini, onde morou Ezra Pound.

O meu parasita deixara de ser um parasita.”

 

          Por que, então, o livro sobre Tito?

          De novo a vida, a literatura e Proust:

 

“309

No último volume de Em Busca do Tempo Perdido, Marcel Proust pisa em falso e quase cai no pátio do castelo de Guermantes.

O incidente recorda-lhe suas caminhas pelas lajotas desiguais de Veneza.

Subitamente, os eventos de seu passado encaixam-se como um mosaico, e ele é tomado por um sentimento de felicidade.

Ele compreende que as memórias de suas caminhadas por Veneza — com as imagens e as analogias que elas evocavam — podiam dar sentido à sua vida.”

 

“310

Naquele instante, Marcel Proust pensa em escrever um livro sobre seu passado, porque para interpretar os sentimentos era necessário, antes de tudo, transforma-los em ideias, “convertendo-os em seu equivalente intelectual”.

O livro que ele pensa em escrever é o próprio Em Busca do Tempo Perdido.”

 

“311

Em nossas caminhadas por Veneza, Tito sempre pisava em falso.

Quando isso ocorria, eu era tomado por um sentimento de felicidade. Impedir uma queda de Tito em Veneza dava um sentido à minha vida.”

 

“312

O livro que converte meus sentimentos em seu equivalente intelectual é este aqui.”

 

          O livro é todo assim, circular como a vida e a história, com as imagens, analogias e referências da vida de Mainardi e Tito evocadas em itens curtos, cada um representando os 424 passos que Tito conseguiu dar sem cair, contados um a um pelo pai, que sempre recomeçava a contar após uma queda.

            Diogo vive para evitar as quedas de Tito.

            Ele é “O apanhador no campo de centeio” de Tito.

 

“24 

[…] 

Assim como a Scuola Grande di San Marco, a espasticidade de Tito remete-o ao passado, paralisando seu amadurecimento motor. Eu me encanto com cada detalhe bizantino da sua motricidade.

Assim como a Scuola Grande di San Marco, Tito tenta resistir à queda. Ele sempre cai. Ele sempre cai gargalhando.”

 

          Diogo Mainardi chorou.

          Ali onde ele chorou, qualquer um chorava.

          Dar a volta por cima, quero ver quem dava.

 

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=qFa56zgqQ78[/youtube]

 

 

 

 

 

 

 

Contrapasso

 

 

 

 

 

 

          A comemoração de datas cívicas com paradas militares é algo que me causa espécie, como diriam os eminentes ministros da nossa Excelsa Corte.

       Se as datas são cívicas (do latim civicus, aquilo que é relativo ao cidadão, à cidade ou civitas), por que os militares delas se apoderam e se exibem, enquanto os demais cidadãos ficam parados, apenas assistindo? Daí talvez a denominação de parada.

          Nem venham me dizer que representantes da sociedade civil também participam dessas paradas. Quando tal ocorre, a parcela é mínima em comparação com o enorme contingente militar, e para tomar parte os civis (sempre os primeiros chamados a morrer pela pátria quando esta se envolve em alguma guerra) são obrigados a se enquadrar aos padrões militares, marchando em formação.

          Num mundo tão carente de paz e entendimento, com tantas fronteiras físicas, sociais e ideológicas, qual o sentido dessa exibição do poderio militar e bélico nacional, com seus tanques, canhões, mísseis, caças e o que valha?

          A quem se busca intimidar ou ameaçar? Os outros países? O próprio povo?

       Haja vista o enorme fervor por esse tipo de ostentação sempre demonstrado por tiranos de todos os matizes — de Hitler a Mussolini, passando por Stálin, Mao Tsé-Tung, Generalíssimos e ditadores latino-americanos.

          Durante a última ditadura militar no Brasil (esperemos que tenha sido realmente a última), por pouco não acabei preso com um grupo de colegas do Diretório Acadêmico quando vazou o nosso plano de fazer uma manifestação num 7 de Setembro.

       Na Grécia antiga o termo idiota (do grego idiotés) referia-se àquele que só se interessava pela vida privada, que recusava a política (do grego polis) e não atendia ao chamamento básico da sua humanidade como zoon politikon

         Retomando esse sentido originário, os civis somos tratados como idiotas, postos à margem das paradas comemorativas, como se o patriotismo fosse apanágio dos militares.

        Já dizia o pensador inglês Samuel Johnson que “o patriotismo é o último refúgio do canalha”, aforismo esse que o nosso não menos extraordinário pensador Millôr Fernandes subverteu ― e melhorou ― para “a pátria é o primeiro refúgio do canalha”.

         Reencarnando Pessoa, Caetano Veloso canta que “a língua é minha pátria / e eu não tenho pátria, tenho mátria / e quero frátria.”

        E por falar em mátria e paradas militares, o exemplo maior de amor e devoção é o daquela mãe que vendo o filho soldado a marchar em meio ao batalhão, comenta orgulhosa com o marido:

           — Olha só que gracinha. Nosso filho é o único marchando no passo certo!

 

           

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=1CH3GlT78bU[/youtube]