“Que maravilha!” (Toquinho / Jorge Ben Jor), com Vinicius, Toquinho e Maria Creusa
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=FiP6vv8_I00[/youtube]
“Que maravilha!” (Toquinho / Jorge Ben Jor), com Vinicius, Toquinho e Maria Creusa
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=FiP6vv8_I00[/youtube]
O POETA E A LUA
Vinicius de Moraes
Em meio a um cristal de ecos
O poeta vai pela rua
Seus olhos verdes de éter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria
O poeta, aloucado e branco
Palpa as nádegas da lua.
Entre as esferas nitentes
Tremeluzem pêlos fulvos
O poeta, de olhar dormente
Entreabre o pente da lua.
Em frouxos de luz e água
Palpita a ferida crua
O poeta todo se lava
De palidez e doçura.
Ardente e desesperada
A lua vira em decúbito
A vinda lenta do espasmo
Aguça as pontas da lua.
O poeta afaga-lhe os braços
E o ventre que se menstrua
A lua se curva em arco
Num delírio de volúpia.
O gozo aumenta de súbito
Em frêmitos que perduram
A lua vira o outro quarto
E fica de frente, nua.
O orgasmo desce do espaço
Desfeito em estrelas e nuvens
Nos ventos do mar perspassa
Um salso cheiro de lua
E a lua, no êxtase, cresce
Se dilata e alteia e estua
O poeta se deixa em prece
Ante a beleza da lua.
Depois a lua adormece
E míngua e se apazigua…
O poeta desaparece
Envolto em cantos e plumas
Enquanto a noite enlouquece
No seu claustro de ciúmes.
“Amor em paz” (Vinicius de Moraes / Tom Jobim), com Ivan Lins e Toquinho
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=O80HX7iNhpw[/youtube]
“Bom Conselho” (Chico Buarque), com Chico e Eugénia Melo e Castro
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=fBeOEZITiOE[/youtube]
Eugénia Melo e Castro, uma das cantoras portuguesas mais amadas pelos músicos e pelo público brasileiro acaba de ganhar mais um grande reconhecimento da crítica brasileira.
Quando comemora os seus trinta anos de carreira artística, recebe a menção honrosa da principal revista cultural do Brasil, a «Bravo», que em edição especial publica as 100 melhores canções brasileiras de todos os tempos e seus melhores intérpretes.
Geninha, como é carinhosamente chamada pelos amigos, foi considerada a segunda melhor intérprete da famosa canção de Vinicius de Morais «Eu sei que vou te amar», perdendo o primeiro lugar para o não menos famoso João Gilberto e ficando a frente de uma das musas da bossa nova, Maysa.Para Eugénia este é um dos maiores reconhecimentos que recebeu, justamente no ano das comemorações do centenário de Vinícius. A sua leitura concorreu com a versão dos principais nomes da musica popular brasileira como Elis Regina, Roberto Carlos, Gal Costa, Caetano Veloso, Adriana Calcanhoto, Ivete Sangalo e outros.
A cantora portuguesa agora está a preparar um novo CD com músicas para crianças, «Conversas com versos», musicando os poemas da sua mãe, a escritora e poetisa Maria Alberta Menéres. Para já a cantora adianta que conta com a participação de Ney Matogrosso no tema «Meu Chapéu». O lançamento está previsto para Outubro.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=p1itszpEX60#at=55[/youtube]
“Valsinha” (Vinicius de Moraes / Chico Buarque), com Chico
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=6u4FK_Z5298[/youtube]
Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito
de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre
costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito
de sempre falar
e nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto
convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo
não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado
de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito
tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça
e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda
despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos,
Tantos gritos roucos como não se ouvia(m) mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz
Chico Buarque conta que conheceu Vinicius de Moraes como amigo do pai, Sergio Buarque de Holanda, e tinha por ele a reverência que os mais novos costumavam ter com os mais velhos.
Só bem depois, quando Chico começou a aparecer como compositor e cantor é que as relações entre Vinicius e ele se estreitaram, acabaram parceiros e até compadres.
“Valsinha” é uma das canções mais belas da parceria, em que o poetinha fez a melodia e Chico, a letra.
Vinicius não resistiu a dar alguns pitacos na letra que Chico lhe enviou, entre os quais o título da canção: “Valsa hippie”.
A deliciosa troca de cartas (e farpas) entre os dois revela que Chico, apesar do respeito e da admiração por Vinicius, já havia adquirido confiança e intimidade suficientes para contrariá-lo. E me parece que a razão, no caso, estava com Chico.
DE VINÍCIUS DE MORAES PARA CHICO BUARQUE
Mar del Plata, 24 de janeiro de 1971
Chiquérrimo,
Dei uma apertada linda na sua letra, depois que você partiu, porque achei que valia a pena trabalhar mais um pouquinho sobre ela, sobre aqueles hiatos que havia, adicionando duas ou três idéias que tive. Mandei-a em carta a você, mas Toquinho, com a cara mais séria do mundo, me disse que Sérgio morava em Buri, 11, e lá se foi a carta para Buri, 11.
Mas, como você me disse no telefone que não tinha recebido, estou mandando outra para ver se você concorda com as modificações feitas.
Claro que a letra é sua, e eu nada mais fiz que dar uma aparafusada geral. Às vezes o cara de fora vê melhor essas coisas. Enfim, porra, aí vai ela. Dei-lhe o nome de “Valsa hippie”, porque parece-me que tua letra tem esse elemento hippie que dá um encanto todo moderno à valsa, brasileira e antigona. Que é que você acha? O pessoal aqui, no princípio, estranhou um pouco, mas depois se amarrou na idéia. Escreva logo, dizendo o que você achou.
DE CHICO BUARQUE PARA VINÍCIUS DE MORAES
Caro poeta,
Recebi as duas cartas e fiquei meio embananado. É que eu já estava cantando aquela letra, com hiato e tudo, gostando e me acostumando a ela. Também porque, como você já sabe, o público tem recebido a valsinha com o maior entusiasmo, pedindo bis e tudo. Sem exagero, ela é o ponto alto do show, junto com o “Apesar de você”. Então dá um certo medo de mudar demais. Enfim, a música é sua e a discussão continua aberta. Vou tentar defender, por pontos, a minha opinião. Estude o meu caso, exponha-o a Toquinho e Gesse, e se não gostar foda-se, ou fodo-me eu.
“Valsa hippie” é um título forte. É bonito, mas pode parecer forçação de barra, com tudo que há de hippie por aí. “Valsa hippie” ligado à filosofia hippie como você a ligou, é um título perfeito. Mas hippie, para o grande público, já deixou de ser filosofia para ser a moda pra frente de se usar roupa e cabelo. Aí já não tem nada a ver. Pela mesma razão eu prefiro que o nosso personagem xingue ou, mais delicado, maldiga a vida, em vez de falar mal da poesia. A sua solução é mais bonita e completa, mas eu acho que ela diminui o efeito do que se segue. Esse homem da primeira estrofe é o anti-hippy. Acho mesmo que ele nunca soube o que é poesia. É bancário e está com o saco cheio e está sempre mandando sua mulher à merda. Quer dizer, neste dia ele chegou diferente, não maldisse (ou “xingou” mesmo) a vida tanto e convidou-a pra rodar.
“Convidou-a pra rodar” eu gosto muito, poeta, deixa ficar. Rodar que é dar um passeio e é dançar. Depois eu acho que, se ele já for convidando a coitada para amar, perde-se o suspense do vestido no armário e a tesão da trepada final. “Pra seu grande espanto”, você tem razão, é melhor que “para seu espanto”. Só que eu esqueci que ia por itens.
Vamos lá: Apesar do Orestes (vestido de dourado é lindo), eu gosto muito do som do vestido decotado. É gostoso de cantar “vestidodecotado”. E para ficar dourado, o vestido fica com o acento tendendo para a primeira sílaba. Não chega a ser um acento, mas é quase. Esse verso é, aliás, o que mais agrada, em geral. E eu também gosto do decotado ligado ao “ousar” que ela não queria por causa do marido chato e quadrado.
Escuta, ô poeta, não leva a mal a minha impertinência, mas você precisava estar aqui para ver como a turma gosta, e o jeito dela gostar dessa valsa, assim à primeira vista. É por isso que estou puxando a sardinha mais para o lado da minha letra, que é mais simplória, do que pelas suas modificações que, enriquecendo os versos, talvez dificultem um pouco a compreensão imediata. E essa valsinha tem um apelo popular que nós não suspeitávamos.
Ainda baseado no argumento acima, prefiro o “abraçar” ao “bailar”. Em suma, eu não mexeria na segunda estrofe. A terceira é a que mais me preocupa. Você está certo quanto ao “o mundo” em vez de “a gente”. Ah, voltando à estrofe anterior, gostei do último versos onde você diz “e cheios de ternura e graça” em vez de “e foram-se cheios de graça”. Agora, estou pensando em retomar uma idéia anterior, quando eu pensava em colocá-los em estado de graça. Aproveitando a sua ternura, poderíamos fazer “Em estado de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar”. Só tem o probleminha da junção “em-estado”, o “em-e” numa sílaba só. Que é o mesmo problema do “começaram-a”. Mas você mesmo disse que o probleminha desaparece dependendo da maneira de se cantar. E eu tenho cantado “começaram a se abraçar” sem maiores danos.
Enfim, veja aí o que você acha de tudo isso, desculpe a encheção de saco e responda urgente.
Há um outro problema: o pessoal do MPB-4 está querendo gravar essa valsa na marra. Eu disse que depende de sua autorização e eles estão aqui esperando.
Eu também gostaria de gravar, se o senhor me permitisse, por que deu bolo com o “Apesar de você”, tenho sido perturbado e o disco deixou de ser prensado. Mas deu para tirar um sarro. É claro que não vendeu tanto quanto a “Tonga”, mas a “Banda” vendeu mais que o disco do Toquinho solando “Primavera”.
Dê um abraço na Gesse, um beijo no Toquinho e peça à Silvana para mandar notícias sobre shows etc. Vou escrever a letra como me parece melhor. Veja aí e, se for o caso, enfie-a no ralo da banheira ou noutro buraco que você tiver à mão.
Num 9 de julho, 33 anos atrás, morria Vinicius de Moraes (AQUI), que neste ano de 2013 completa 100 anos.
Há maravilhosas interpretações dessa canção antológica dele e do Tom, mas esta, com Maria Creusa e Toquinho, tem especial significação para mim, por tê-la presenciado mais de uma vez nos inesquecíveis shows do circuito universitário que faziam na época.
“Eu sei que vou te amar” (Vinicius de Moraes / Tom Jobim), com Vinicius, Toquinho e Maria Creusa
E não me venham com politicamente correto
O amor não é político, nem correto…
“Minha namorada” (Vinicius de Moraes / Carlos Lyra)
Tom, Vinicius, Toquinho & Miucha
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=OJY7mEVsAik[/youtube]
“Lamentos” (Pixinguinha / Vinicius de Moraes), Yamandu Costa / Dominguinhos
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=EtoEpxSMfSc[/youtube]
“Na minha vida tem sido como se uma mulher me depositasse nos braços de outra. Isso talvez porque esse amor paixão pela sua própria intensidade não tem condições de sobreviver. Isso acho que está expresso com felicidade no dístico do meu soneto Fidelidade: que não seja imortal posto que é chama / mas que seja infinito enquanto dure.” (Vinicius de Moraes)
Vinicius e Gilda, sua última mulher, a quem apresentava como “minha viúva”
Eu que sou um bendito fruto entre mulheres ― Maria Delucena, Carolina, Isabella, Júlia, Manuela, pela ordem de chegada ― reconheço que nessa matéria não daria nem para a saída diante do nosso poetinha maior, que em 2013 faria cem anos, e outros cem viveria para servi-las, se não fora para tantos amores tão curta a vida.
Pois não bastassem seus tantos e antológicos poemas sobre as mulheres, Vinicius chegou a escrever poeminhas sobre a mulher de cada signo do zodíaco, com a verve e a maestria de sempre.
Não sei se os escreveu por encomenda, necessidade (“e tem um dinheirinho nisso?”, como lhe perguntou um Tom Jobim pobrinho e cheio de contas a pagar, ao ser convidado para musicar a peça “Orfeu da Conceição”; Manuel Bandeira, que daria seu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá, recebeu depois prendas do fabricante agradecido) ou mera brincadeira, mas os poemas chegaram a ser publicados num livrinho.
Maria Delucena é capricorniana (há controvérsias); Carol, aquariana; Bell, sagitariana; Júlia, geminiana; e Manu, pisciana.
E vocês, minhas queridas e binárias estrelas que orbitam pelo meu céu, de que signo são?
O poema respectivo do poetinha lhes cai bem (ou vocês não são nada disso)?
A todas, todo o meu bem, e parabéns pelo seu dia, todos os dias.
Áries
Branca, preta ou amarela
A ariana zela.
Tem caráter dominador
Mas pode ser convencida
E aí, então, fica uma flor:
Cordata… e nada convencida.
Porque o seu dominador
É o amor.
Eu cá por mim não tenho nenhum
Preconceito racial:
Mas sou ariano!
Touro
O que é que brilha sem
Ser ouro? – A mulher de Touro!
É a companheira perfeita
Quando levanta ou quando deita.
Mas é mulher exclusivista
Se não tem tudo, faz a pista.
Depois, que dona-de-casa…
E a noite ainda manda brasa.
Sua virtude: a paciência
Seu dia bom: a sexta-feira
Sua cor propícia: o verde
As flores dos seus pendores:
Rosa, flor de macieira.
Gêmeos
A mulher de Gêmeos
Não sabe o que quer
Mas tirante isso
É boa mulher.
A mulher de Gêmeos
Não sabe o que diz
Mas tirante isso
Faz o homem feliz.
A mulher de Gêmeos
Não sabe o que faz
Mas por isso mesmo
É boa demais…
Câncer
Você nunca avance
Em mulher de Câncer.
Seu planeta é a Lua
E a Lua, é sabido
Só vive na sua.
É muito apegada
E quando pegada
Pega da pesada.
É mulher que ama
Com muito saber
No tocante a cama
Não sei lhe dizer…
Leão
A mulher de Leão
Brilha na escuridão.
A mulher de Leão, mesmo sem fome
Pega, mate e come.
A mulher de Leão não tem perdão.
As mulheres de Leão
Leoas são.
Poeta, operário, capitão
Cuidado com a mulher de Leão!
São ciumentas e antagônicas
Solares e dominicais
ígneas, áureas e sadônicas
E muito, muito liberais.
Virgem
Se Florence Nightingale era Virgem
Não sei… mas o mal é de origem.
A mulher de Virgem aceita a amante
Isto é: desde que não a suplante.
Sexo de consumo, pães-de-minuto
Nada disso lhe há de faltar
O condomínio é absoluto
A virgem é mulher do lar.
Opala, safira, turquesa
São suas pedras astrais
Na cuca, muita esperteza
Na existência, muita paz.
Libra
A mulher de Libra
Não tem muita fibra
Mas vibra.
Quer ver uma libriana contente?
Dê-lhe um presente.
Quando o marido a trai
A mulher de Libra
balança mas não cai.
Se você a paparica
Ela fica.
Com librium ou sem librium
Salve, venusina
Que guarda o equilíbrio
Na corda mais fina.
Escorpião
Mulher de Escorpião
Comigo não!
É a Abelha Mestra
É a Viúva Negra
Só vai de vedete
Nunca de extra.
Cria o chamado conflito
de personalidades.
É mãe tirana
Mulher tirana
Irmã tirana
Filha tirana
Neta tirana.
tirana tirana.
Agora, de cama diz –
que é boa paca.
Sagitário
As mulheres sagitarianas
São abnegadas e bacanas.
Mas não lhe venham com grossuras
Nem injustiças ou censuras
Porque ela custa mas se esquenta
E pode ser muito violenta.
Aí, o homem que se cuide…
– Também, quem gosta de censura!
Capricórnio
A capricorniana é capricornial
Como a cabra de João Cabral.
Eu amo a mulher de Capricórnio
Porque ela nunca lhe põe os próprios.
A caprina é tão ciumenta
Que até os ciúmes ela inventa.
Mulher fiel está aí: é cabra
Só que com muito abracadabra.
Suas flores: a papoula e o cânhamo
De onde vêm o ópio e a maconha
Ela é uma curtição medonha
Por isso nos capricorniamos.
Aquário
Se o que se quer é a boa esposa
A aquariana pousa.
Se o que se quer é uma outra coisa
A aquariana ousa.
Se o que se quer é muito amor
A aquariana
É mulher macho sim senhor.
Porém não são possessivas
Nem procuram dominar
Ou são meigas e passivas
Ou botam para quebrar.
Peixes
Mulher de Peixe… peixe é
Em águas paradas não dá pé
Porque desliza como a enguia
Sempre que entra numa fria.
Na superfície é sinhazinha
E festiva como a sardinha
Mas quando fisga um namorado
Ele está frito, escabechado.
É uma mulher tão envolvente
Que na questão do Paraíso
Há quem suspeite seriamente
Que ela era a mulher e a serpente.
Seu Id: aparentar juízo
Seu Ego: a omissão, o orgulho
Sua pedra astral: a ametista
Seu bem: nunca ser bagulho
Sua cor: o amarelo brilhante
Seu fim: dar sempre na vista