Posts from janeiro, 2013

Não li, não assisti e não gostei

 

 

Caetano Veloso (Segundo Caderno) e Artur Xexéo (Revista O Globo) escreveram na edição deste domingo de “O Globo” sobre o filme “The life of Pi”, baseado no livro do mesmo nome de Yann Martel, cuja ideia central foi chupada da novela do saudoso Moacyr Scliar, “Max e os felinos”.

Concordo inteiramente com o que os dois disseram, com a diferença de que não li o livro de Martel nem vou assistir ao filme de Ang Lee, por melhores que sejam as referências.

É o meu jeito, talvez canhestro, certamente inútil, de protestar contra a conduta malandra e desrespeitosa de Martel, que além de se apropriar da ideia de Scliar e com ela empalmar o prêmio Booker Prize, tentou se justificar dizendo que havia lido apenas uma resenha sobre o livro do brasileiro (resenha essa que John Updike, o suposto autor, nega ter escrito), e ainda não se pejou de dizer que Scliar seria um escritor menor diante de uma grande ideia.

Não acho que em literatura, e nas artes em geral, existam ideias absolutamente novas ou originais. Nem mesmo creio que isso seja importante. Os autores de qualquer modalidade artística sempre partem de um legado preexistente, até mesmo para negá-lo e contrariá-lo. Queira-se ou não, ninguém escapa da influência daqueles que o antecederam ou lhe são contemporâneos, até mesmo de autores e obras que não se chegou a tomar conhecimento direto. É o círculo virtuoso da arte.

Nada há de errado, pois, e é até muito natural partir de um mesmo tema ou de uma mesma ideia para desenvolver uma nova obra. Os próprios artigos de Caetano e Xexéo, quase se repetindo um ao outro, são um exemplo disso.

O que me repugna é o maucaratismo, a cara de pau, o descaramento revelado por Martel. Algo parecido com o que fez Rod Stewart, que plagiou o refrão de “Taj Mahal” de Jorge Benjor e depois, para se safar do processo, cedeu os direitos autorais da “sua” composição “Do ia think I´m sexy?” para a Unicef!

Quando Moacyr Scliar morreu, em fevereiro de 2011, escrevi aqui a respeito da apropriação indébita de Martel, e fico contente agora em saber que, com Caetano e Xexéo, estou em boa companhia (sem nenhum plagiar o outro).

 

 

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life-of-pi (1)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Até as capas dos livros de Scliar e Martel são muito parecidas