A Meritolândia

 

          Annibal Augusto Gama

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Há um país na linha do equador (ao sul, ao norte, a leste ou a oeste, tanto faz) que se chama Meritolândia (vide “Dictionaire des Lieux Imaginaires”, de Alberto Manguel).

Nele, todos são meritórios, mas os juízes são meritíssimos. A escolha para os cargos públicos ali se faz pelo mérito, pelo demérito e pelas fichas-sujas. Estas predominam, e quanto mais comprida for a capivara dos candidatos, na Polícia, mais votos eles obtêm.

Nele já também se experimentou a maracutaia, que foi substituída, com vantagem, pela marmelada. A marmelada é o doce predileto da população que também adota, como moda, os panos quentes.

O sujeito que diz que não disse e que disseram o que ele não disse, ganha mérito. Em tal situação, o dito país é o mais civilizado da América Latrina. Nele já foram experimentados o pluripartidarismo, o unipartidismo, e o trespartidarismo, para se evitar o cambalacho debaixo do tacho. E até já houve um partido denominado arenito, que foi o partido político maior do mundo.

Petelhos e pentelhos acordaram no desacordo. Mas afinal chegou-se ao partido QPM, que quer dizer “quem pode manda”, quem não pode faz xixi na cama. 

O seu sistema eleitoral está sempre se aperfeiçoando, e já se usou o bola na rede e não chute para escanteio. Agora o seu lema é bola pra frente. Os planos do governo gostam muito de um traque, apelidado de PAC. Acho que o nome veio do tropel dos cascos de cavalos: paque, paque, paque, paque. Por isso mesmo, as cavalgaduras são muito meritórias.

Ultimamente, criou-se um partido chamado SF, isto é safadeza, que tirou pedaços de uns e outros que eram a mesma moleza. Ele não é da direita, nem da esquerda, nem do centro, muito ao contrário.

Os ministros são nomeados pelo número de dedos. Quanto mais dedos, mais habilitados para roubar. Isto não impediu que um presidente de tal nação não tivesse um ou dois dedos, tal era a sua arte.

Este país é muito feliz, porque nele não há inflação, há apenas infração. E cada dia se cria uma nova infração, de modo que o Código Penal regurgita de infrações. Não há, porém, pena a ser aplicada, porque pena é coisa de galinha.

 

pais-das-maravilhas

 

 

 

4 comentários

  1. André
    24/06/13 at 15:39

    Gama, todos nós temos nossos méritos, aliás o adjetivo meritíssimo, atribuído aos juízes, vem justamente de mérito. Os políticos deveriam se preocupar em solucionar os percalços sérios e definitivos do nosso país, E as palavras inflação e infração são semelhantes, bem como pena, que tem duas etimologias do latim: punição/castigo e revestimento do corpo das aves.
    Abraçaço.

  2. sonia kahawach
    24/06/13 at 19:42

    Sempre um prazer renovado ler Annibal. A ironia do país aí citado é simplesmente fruto de uma cabeça como sempre brilhante. Abraço

  3. 25/06/13 at 0:00

    Dr. Annibal, sabia que cogitaram chamar o país de Maracangalha pela rima rica com avacalha, a atividade principal de seus governantes?
     
    Apesar da estar na linha do equador, onde não existe pecado do lado de baixo (nem de lado nenhum), Meritolândia faz limite com:
     
    Dakaomeu, ao norte
    Corruptolândia, ao sul
    Nepotismeira, a oeste
    e Babacolândia (a mais próspera pelos impostos extorsivos), a leste.
     
    Beijocas, mestre!
     
     

  4. 25/06/13 at 0:04

    Apesar “de’ estar…

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