Annibal Augusto Gama
Esta arte não é equivalente à “Lei de Gérson”, que gostava de tirar vantagem em tudo. Felizmente, porém, Gérson só tirava vantagem das equipes estrangeiras de futebol que jogavam contra o Brasil.
A arte de dar com uma mão e tirar com a outra, não é dar mamão com uma mão e tirar mamão com a outra mão. Mas algumas vezes pode ser que sim. Você dá um mamão com uma mão e tira um mamão com a outra. Nestes casos, convém tirar o mamão maior. Próxima desta arte é a outra de uma mão lava a outra, e as duas lavam a cara.
Dar com uma mão e tirar com a outra é o que fazem quase sempre todas as pessoas, mas algumas fazem mais do que as outras, e poucas não dão nem com uma mão nem com as duas, mas tiram com ambas, e tirariam com uma terceira, se tivessem uma terceira mão. É uma espécie de troca. Para dar com uma mão e tirar com a outra, você precisa ser lento com uma mão e rápido com a outra. Só assim o sujeito que recebe de uma mão não percebe que se está lhe tirando com a outra. Quando ele se dá conta disso, você já deve estar longe, abanando-lhe a mão.
Se você for canhoto, convém dar com a mão direita e tirar com a esquerda, porque evidentemente a mão esquerda é mais esperta e ligeira do que a direita. E vice-versa, se você for destro. Se então for ambidestro, pode deitar e rolar.
Também é costume dar com os pés, e tirar com as mãos ambas. De qualquer maneira, não dê o braço a torcer, nem a mão à palmatória.
Há comerciantes que são muito hábeis em dar com uma mão e tirar com as duas. Para isso, eles falam em custo e benefício, e esses trecos de engabelar os trouxas. Quando vão vender uma mercadoria nunca dizem que a tal mercadoria custa quinhentos reais, mas sim quatrocentos e noventa e nove reais. Se for à prestação, eles espicham a prestação em sessenta vezes, e você paga cinco ou dez vezes mais o valor da coisa, que em geral não tem valor nenhum. Porque os juros estão embutidos. Os banqueiros então não dão nem com uma mão nem com a outra. Ao contrário, tiram com as quatro, porque os banqueiros têm quatro mãos, são quadrúmanos.
Quando se usava balança, a arte era botar os dedos, ou a mão, disfarçadamente, num dos pratos da balança, para o freguês ver que a mercadoria pesava mais do que os pesos no outro prato. Eram as balanças “Fiel”, fiel para o negociante. Por isso também se fala em “dois pesos e duas medidas”. A Justiça também pesa na balança, mas pesa menos para os ricos do que para os pobres. E se os pobres reclamam, ela está com a espada na mão para cortar qualquer reclamação.
Os manetas têm muita dificuldade em dar com uma mão e tirar com a outra. Mas podem valer-se das mãos ou dos braços ortopédicos. Ou de um gancho, como o Capitão Gancho.
Dando com uma mão e tirando com a outra, pelo menos você empata. Porém, se for hábil em dar com uma mão e tirar com a outra, usando de todos os recursos desta arte que lhe estou ensinando, ganha sempre. Empatar não é bom negócio.
Não ande com uma mão atrás e outra adiante. Ande com as mãos à frente para poder dar com uma e tirar com a outra, ou com ambas. Andar então com as duas mãos para trás é péssimo. Você fica indefeso, e tudo lhe é tirado.
É dando que se recebe, dizem alguns. Recebe o quê, depois de dar? Geralmente, você recebe um coice. Daí porque os motoristas costumam dizer: “Ou dá ou desce”.
Você pode dar uma volta, que é de graça. Mas se você der uma volta e voltar fica no mesmo lugar, e não vai em frente. Trate de dar com uma mão e tirar com a outra. E não tire a mão daí. Elas gritam, as mulheres nas quais você bota uma mão, ou as duas, mas acabam deixando.
E já que lhe ensinei essas regras de dar com uma mão e tirar com a outra, vou comer o meu mamão. Coma você também o mamão que tirou com uma mão para dar em troca um limão azedo.