Posts from novembro, 2013

Gente esquisita

 

            Euclides Rossignoli

euclides rossignoli

 

 

 

 

 

 

 

Não vamos chamá-los malucos. Chamemo- los apenas esquisitos. O mundo está assim de gente esquisita.

Já contei numa crônica o caso da senhora de Itatinga, a dona Rute, uma santa senhora, que não tem mais do que um único pecado para contar ao padre nas suas confissões semanais — o pecado da inveja, ou melhor, o pecado de ter inveja de viúva. Uma inveja específica. É o único pecado que não conseguiu até hoje eliminar. Ela conta para quem quiser ouvir.

Outro caso de esquisitice, de grande esquisitice este, é o do Josefo, cunhado de um amigo nosso, de Curitiba. Desde algum tempo atrás o Josefo está numa situação difícil e incomum. Está desempregado e cheio de dívidas, porque não pode trabalhar. Não pode. É farmacêutico, tem saúde, mas não pode mais trabalhar porque entrou para um culto, uma dessas religiões digamos alternativas, e lá ensinaram que os medicamentos não servem rigorosamente para nada. Só servem para dar lucros à indústria farmacêutica. Ele deixou de acreditar nos remédios e abandonou a profissão.

Há também o caso da Renatinha, uma médica conhecida, quase amiga nossa, que, certamente por esquisitice, para toda e qualquer dor, só receita chá de folha de laranjeira.

Já o Cláudio Atílio, um cartunista amigo nosso lá de São Paulo, esse meteu na cabeça, sem mais essa nem aquela, que não deve comer ou beber alimentos que contenham leite ou qualquer dos seus derivados. Antes de comer alguma coisa, ele indaga seriamente, inclusive nos restaurantes, se na composição não entrou algum derivado do leite. Se entrou, ele não come. Além disso, apesar de gostar muito de macarrão, ele não come se o macarrão for do tipo parafuso.

Minha tia Ida, tia-avó na verdade, também era esquisita. Tinha um vício, mania ou sei lá o quê: toda santa noite, antes de dormir, tinha que tomar uma canequinha de pinga. Jamais  dormiu sem tomar sua canequinha de pinga.

E a Ana Maria? A Ana Maria, colega de escola da Maria Inês na juventude, tinha esquisitice próxima da de minha tia. Não podia passar pela estação ferroviária de Botucatu sem ali tomar um sorvete chicabon. Era diariamente. Estivesse o dia quente, frio ou gelado, se entrassem na estação de Botucatu, a Ana Maria tinha que tomar um chicabon. Nos dias mais gelados, quando todo mundo entrava no bar esfregando as mãos para tomar um café, um leite quente ou um pingado quase pelando, ela corria para tomar seu chicabon.

Outro bastante esquisito era o vizinho do Nestor. Sempre que bebia uns goles, o que ocorria principalmente nos fins de semana, o vizinho do meu amigo Nestor brigava com a mulher e nunca perdia a oportunidade de dizer que ia embora de casa. Fazia já uns quinze anos que ele dizia a mesma coisa. Um belo dia, no auge da briga, ele saiu com esta: “Sabe porque eu já não fui embora dessa casa? É porque meu pai já morreu, coitado. Se ele ainda fosse vivo, sabe o que ele ia dizer pra mim? Ele ia falar: Essa mulher não presta, meu filho. Larga dela. E eu largava”.

Mas ninguém, no meu entendimento, ganha em esquisitice da tia Lúcia. Tia Lúcia não come e não compra verduras. Diz ela que seu avô Florisvaldo, já falecido, contou-lhe certa vez que todo hortelão, grande, médio ou pequeno, possui um cachorro que tem o péssimo hábito de mijar nos canteiros da horta. Depois disso, ela não comeu mais verdura.

 

cachorro fazendo xixi