QUANDO ENCONTRA O MEU…
“Este seu olhar” (Tom Jobim), com Rosa Passos
QUANDO ENCONTRA O MEU…
“Este seu olhar” (Tom Jobim), com Rosa Passos
A alemã BVG, companhia de transporte público, implantou um portal de mensagens em seu site para pessoas que se esbarram nos metrôs da vida e, comportamento padrão do povo, não trocam palavra durante o trajeto, entreolham-se rapidamente, mas ficam sonhando com um reencontro: “4 de dezembro, 13h, esperamos juntos pelo metrô sentido Rudow. Você (mulher, botas e olhos marrons) entrou no mesmo vagão que eu (homem, jaqueta cinza e sacola da loja Conrad). Vamos nos ver?”.
Sei não… Tivéssemos hábitos berlinenses, a jovem “eu (loirinha, kilt e casaco de banlon, apostilas de Jornalismo), que ontem fez o percurso PUC /Praça XV com você (moreno, calça Lee, turma de Engenharia (?), perfume de Vétiver)” teria morrido de tédio. O melhor da faculdade era exatamente a paquera no trajeto.
E a categoria “imobilizados”, mencionada no artigo como aqueles que sentam, mergulham na leitura, e só se mexem na hora de descer? Tsc…tsc… Claro que sempre houve um livro, um jornal aberto “entre meus olhos e os olhos dela, como vento enciumado batendo a janela”, já escrevera o poeta. Apenas que fingíamos ler.
Bons tempos. A fila andava (catraca seletiva!), dávamos um passinho à frente, seguíamos o fluxo… Sem pressa de chegar ao ponto final. Por entre secretas miradas e paisagens outras, eram mais delicados os percursos.
Selma Barcellos