Posts from novembro, 2014

As colheres de pau

 

Annibal Augusto Gama

Annibal e Pichorro 3

 

 

 

 

 

 

 

 

Passei boa parte da vida a fazer colheres de pau e a bordar-lhes o cabo. Porque as colheres que faço apenas são pretextos para lhes bordar o cabo. As colheres, de pau ou de metal, são utensílios, e os bordados não. Por isso mesmo é que os bordados são apreciáveis, porque não servem para nada, a não ser para nos alegrar os olhos.

Os homens pragmáticos desprezam os bordados. É a razão pela qual são tão tristes, e nos infernizam a vida. Eu, no entanto, vos digo que uma toalhinha de crochê vale mais do que um cofre recheado de moedas de ouro. Ela me encanta mais do que a mesa sobre a qual está.

As mulheres são muito mais inteligentes e sensíveis do que os homens. Elas usam vestidos não para se cobrirem, mas para se mostrarem. Pintam as pálpebras, pintam os lábios, pintam as unhas, usam berloques, brincos, pulseiras sem relógio, porque sabem que o relógio é uma máquina não de fabricar horas, mas de extingui-las. E usam também sapatinhos de salto alto, saltos muito finos, para desafiar o equilíbrio, porque não ignoram que o equilíbrio, a estabilidade, é a pasmaceira.

As mulheres não conversam: falam. Aprenderam que conversar é trocar ideias, e são as ideias que nos amargam e fizeram da vida e do mundo o malogro de todos. Falar, não. Falar é soltar as palavras, as lindas palavras, principalmente aquelas que não significam nada e, portanto, significam tudo.

É uma maravilha ouvi-las falar. Para também lhes ver os lábios, que têm um código secreto de amor.

Foi a Adão que Deus deu a faculdade de dar o nome a todas às coisas. A Eva, não. Porque Eva já era todas as coisas, os pássaros, as borboletas, as flores, a água, o céu, as nuvens, a lua e as estrelas, o vento e o rumor da noite.

 

Breakfast at Tiffany's