A descoberta de Caraíva

 

 

“Você vai amar esse lugar: lá tem um boteco que você toma uma cerveja gelada na sombra de uma árvore imensa e pode pular no rio imediatamente” – Foi assim que Gill  (minha melhor amiga) me descreveu Caraíva certa de que toparia mais uma viagem. Em 2012 viajei muito! Fui para o Rio de Janeiro algumas vezes, para Buenos Aires tantas outras, trabalhei no Sul do país, conheci Vitória, passei um fim de semana incrivelmente relaxante em Ubatuba, vivi aventuras sozinha em Londres, Edimburgo e Dublin e decidi que deveria fechar meu ano neste lugar na Bahia, que sempre me acolheu.

 

Cervejinha com Marcella e pôr-do-sol no Boteco do Pará, em Caraíva

 Cervejinha com Marcella e pôr-do-sol no Boteco do Pará, em Caraíva

 

Há alguns anos não ligo mais tanto para o Réveillon. Antes, eu achava inadmissível passar a virada em um lugar que não fosse incrível. Com o passar do tempo esse furor passou e vi que viajar nesta época do ano é sinônimo de gastar muito dinheiro e passar perrengue. Por isso passei as últimas viradas na casa dos meus pais, na pacatíssima Ribeirão Preto. Desta vez, decidi que precisava de mar.

 

Caraíva, o paraíso

 Caraíva, o paraíso

 

Caraíva fica no extremo sul da Bahia e tem 1.000 habitantes fixos. O acesso de avião é por Porto Seguro. De lá, se pega um carro fretado, enfrentam-se duas horas numa estrada de terra tensa e se chega a um rio. Depois de pegar a canoa, é deixar a vida do outro lado da margem. E eu deixei. Em Caraíva quase não há sinal de celular, não tem 3G, a luz chegou há pouco mais de 3 anos e não suporta a quantidade de turistas. Portanto, toda a vila tem luz baixa, bem baixa. Não há postes com energia nas ruas, anda-se com lanternas. As pousadas que têm ar-condicionado e ventilador de teto não conseguem cumprir o prometido. Eles imploram para você não usar o secador de cabelo e tomar banho frio. As ruas são todas de areia e sua batata da perna fica mais forte do que pedra. Uma vez lá, seu principal aliado é um par de havaianas. Mas tudo isso vale a pena.

 

Este é o cenário ao chegar em Caraíva. Canoas te esperam para fazer a travessia. A vila de Caraíva está do outro lado da margem. A vida fica deste.

 Este é o cenário ao chegar em Caraíva. Canoas te esperam para fazer a travessia. A vila de Caraíva está do outro lado da margem. A vida fica deste.

 

Vivendo um dia de Tieta na frente da igreja de Caraíva: areia por todos os lados

 Vivendo um dia de Tieta na frente da igreja de Caraíva: areia por todos os lados

 

Em Caraíva os turistas não aplaudem o pôr-do-sol e sim a chegada da lua. O sol se põe no rio. A lua, chega linda, gigante e incandescente pelo mar. De laranja se torna branca e abre uma trilha de luz pelas águas. É tão impressionante que a minha amiga Marcella dizia que seu sonho era seguir aquela trilha de luz. Com a ausência de luz elétrica, as estrelas ficam impressionantemente baixas. Dá para quase tocar o céu. Assistir a esse espetáculo diariamente é algo inesquecível.

 

Lua nascendo no mar de Caraíva.

 Lua nascendo no mar de Caraíva.

 

A praia de Caraíva é linda e tem o melhor dos mundos: um rio que se encontra com o mar. Logo cedo, a maré está baixa e o rio fica com uns bancos de areia que você pode caminhar por dentro das águas. Aos poucos, o mar toma conta do rio que vai ficando salgado. Todo mundo fica o dia todo flutuando lá e o mar até perde um pouco da sua beleza diante da paz que o rio traz.

 

A praia: rio e mar

 A praia: rio e mar

 

Cheia de verde, Caraíva parece ter sido esculpida por um jardineiro bem experiente. Plantas se misturam a árvores frutíferas e flores. Muitas flores explodem cores pelas ruas. Caraíva enche os olhos de cor e luz, dia e noite.

 

O verde colorido de Caraíva

 O verde colorido de Caraíva

 

Minha flor preferida coloria todos os lugares.

 Minha flor preferida coloria todos os lugares.

 

Se não bastasse toda a natureza, as pessoas de lá são ainda mais belas e puras.  Os habitantes locais se esforçam para atender os turistas estressados (na maioria cariocas e paulistas). Eles não nos atendem mal. Aliás, são super solícitos. No entanto, têm seu ritmo próprio. Não chegue para comer com fome. A comida vai vir, mas vai demorar. Por lá é tudo meio assim: “Até tinha, mas não tem”, “É meio difícil”, tudo com um sorriso no rosto de desbancar qualquer estressadinho.

 

Até esperando a comida, você sorri!

 Até esperando a comida, você sorri!

 

Gill e Capiau

 Gill e Capiau

 

As crianças são um capítulo a parte. Lindas, ajudam os pais, respeitam a natureza, dizem “por favor” e “obrigado” e andam livres e soltas pela vila se transformando em um exemplo de liberdade para qualquer um.

 

Crianças livres jogando uma sinuca improvisada em um caixote com bolinhas de gude a margem do rio

 Crianças livres jogando uma sinuca improvisada em um caixote com bolinhas de gude a margem do rio

 

Pagamos bem caro por uma pousada incrível, a “Casinhas da Bahia” que tinha um jardim espetacular com uma espreguiçadeira e uma ducha gelada em um tronco de árvore que ficará para sempre na minha memória. Gill, Marcella, Vina e eu sabíamos que passaríamos por alguns perrengues mas nos demos o luxo de reservar com muita antecedência a pousada e o voo. Mesmo assim foi caro. Mas, tem como o paraíso ser barato?

 

O meu lugar na pousada

 O meu lugar na pousada

 

Em Caraíva eu deixei toda a minha vida programada em pausa e tentei escutar meu corpo e meus sentimentos. Acordava a noite porque estava calor. Saía do quarto de madrugada, tomava uma ducha e lá fora e deitava na espreguiçadeira até ter sono de novo. Comi quando tive fome. Bebi quando estava a fim. Fui a praia quando quis. Não tinha relógio, nem compromisso, nem celular. Li muito. Tive mil insights. Observei ainda mais.

 

Vina e eu fazendo nosso caminho diário para a praia

 Vina e eu fazendo nosso caminho diário para a praia

 

Conversei com meus amigos sobre assuntos tolos que a gente nunca conversa. Gill virou Amora, Marcella virou Yayá, Vina virou Gabriela e eu virei Béo. Experimentamos um passeio de bugue incrível que nos levou para Corumbau, uma outra praia paradisíaca nas proximidade. Vivenciamos a sensação de flutuar no mar com um Stand up Paddle.

 

Bugue para Corumbau depois de dias sem ouvir o barulho de um motor

 Bugue para Corumbau depois de dias sem ouvir o barulho de um motor

 

Praia de Corumbau

 Praia de Corumbau

 

Sem o Google do lado discutíamos horas sobre porque o vagalume brilha, quantos metros tem a onda do tsunami, porque o preto esquenta mais e claro, sobre o Monte Pascoal. Na ída para Caraíva é possível ver o monte que figura nos livros de história. Nossa curiosidade infantil pelo monte foi lembrada durante toda a viagem. Caraíva deve ter sido um dos primeiros lugarejos onde os portugueses chegaram. Mesmo mais de 500 anos depois, por lá ainda vivem índios e a natureza é lindamente intocada. Os portugueses acharam Caraíva. Por sua vez, Caraíva me ajudou a me descobrir mais e eu a descobri.

 

Eu refletindo Caraíva

 Eu refletindo Caraíva

 

Bell Gama

Dezembro de 2012 e Janeiro de 2013

 

PS: Texto dedicado aos meus queridos Gill, Marcella e Vina, que se aventuraram em mais uma descoberta comigo. Obrigada a Felipe Pereira (Capiau), Larissa e Fernanda que também dividiram essa viagem com a gente!

 

 

 

4 comentários

  1. sonia kahawach
    04/01/13 at 12:10

    Ler você é quase viajar junto… Que viagem linda!
    E tem razão, querida, o paraíso não pode ser barato. Importante é vivê-lo.
    Seja você sempre abençoada pela vida, colhendo todos os hibiscos que o Universo lhe trouxer.
    Grande beijo e que seu ano seja como foi o princípio: maravilhoso, com paz, com curtição, com amigos queridos e maravilhosos, cheio de sol, areia limpa e os encantos da vida.

  2. 04/01/13 at 12:26

    Sonia, obrigadíssima! Você respondeu a pergunta que eu queria saber. Aquela flor que amo é hibisco? Coisa mais linda… Por lá tinha de todas sa cores! Obrigada por esclarecer a minha dúvida. Um 2013 incrível para você! beijo grande!

  3. 04/01/13 at 16:02

    Além do horizonte deve ter algum lugar bonito pra viver em paz…
    Você achou o lugar, Bell!
    Como a Sonia, também viajei nas suas emoções. Texto e fotos à perfeição.
    Amei! 
    FELIZ ANO NOVO, BELL!
    Beijocas!

  4. 05/01/13 at 13:15

    Selminha, achei um pedacinho do paraíso mesmo! Te desejo um 2013 incrível! Neste ano irei diversas vezes ao Rio, quem sabe a gente não se encontra? beijos

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