Posts from janeiro, 2013

 

 

 

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Morro Dois Irmãos (Chico Buarque)

 

Dois Irmãos, quando vai alta a madrugada
E a teus pés vão-se encostar os intrumentos
Aprendi a respeitar tua prumada
E desconfiar do teu silêncio.

Penso ouvir a pulsação atravessada
Do que foi e o que será noutra existência
É assim como se a rocha dilatada
Fosse uma concentração de tempos.

É assim como se o ritmo do nada
Fosse, sim, todos os ritmos por dentro
Ou, então, como um música parada
Sobre um montanha em movimento.

 

 

Soneto seiocentista

 

 

 

 seio

 

 

                                                A que sabe o seio?

                                                O seio a tudo sabe

                                                doce de leite

                                                doce deleite.

 

                                                A que veio o seio?

                                                O seio é o veio de tudo

                                                tez de veludo

                                                remanso agudo.

 

                                                O seio é puro anseio

                                                do menino que quer vê-lo

                                                da sina da menina ser mulher.

 

                                                Teu seio em minha mão

                                                não é só o seio-ideia de Platão,

                                                é o mundo todo que sabia, não sei e sei-o.

 

 

 

De ladinho

 

 

O jeitinho da Selminha para passar no exame de motorista… 

 

 

       Selma Barcellos

Selma 2

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Adoro ler sobre engenhocas geniais.

Dentre os robôs, por exemplo, já existem modelitos que trocam piadas com pessoas solitárias – não se importando em ouvir sempre as mesmas histórias dos idosos – , encontram óculos perdidos, malas desacompanhadas em aeroportos, colocam pratos na máquina de lavar louça, abrem a geladeira e trazem mimos…

Mas nenhuma engenhoca recente me trouxe mais alegria do que o automóvel capaz de estacionar de lado. Para tudoooo. Vocês não estão entendendo. Sou péssima de vaga, com direito a linguinha pra fora, absoluta expressão limítrofe, toda retorcida, e devidamente xingada pelos estressadinhos, claro.

É trauma.  Bloqueio sinistro. Quando jovem, levei bomba 3 (três!) vezes no exame de motorista. Prova de baliza. Numa das vezes, sentindo que o carro empacara, falei para o examinador:  _ Tem uma coisa dura atrás… _ É o meio-fio, minha filha, você está subindo nele. Tóin.

E lá ia eu de volta pra autoescola.

O drama só foi se resolver na quarta tentativa. Me vendo arrasada, o velho Said se encheu de brios e me acompanhou ao local da prova carregando um embrulhinho: _  Agora filhínia vai bassar.

Passei.

Ninguém resistia às esfirras dele.

 

 

Não li, não assisti e não gostei

 

 

Caetano Veloso (Segundo Caderno) e Artur Xexéo (Revista O Globo) escreveram na edição deste domingo de “O Globo” sobre o filme “The life of Pi”, baseado no livro do mesmo nome de Yann Martel, cuja ideia central foi chupada da novela do saudoso Moacyr Scliar, “Max e os felinos”.

Concordo inteiramente com o que os dois disseram, com a diferença de que não li o livro de Martel nem vou assistir ao filme de Ang Lee, por melhores que sejam as referências.

É o meu jeito, talvez canhestro, certamente inútil, de protestar contra a conduta malandra e desrespeitosa de Martel, que além de se apropriar da ideia de Scliar e com ela empalmar o prêmio Booker Prize, tentou se justificar dizendo que havia lido apenas uma resenha sobre o livro do brasileiro (resenha essa que John Updike, o suposto autor, nega ter escrito), e ainda não se pejou de dizer que Scliar seria um escritor menor diante de uma grande ideia.

Não acho que em literatura, e nas artes em geral, existam ideias absolutamente novas ou originais. Nem mesmo creio que isso seja importante. Os autores de qualquer modalidade artística sempre partem de um legado preexistente, até mesmo para negá-lo e contrariá-lo. Queira-se ou não, ninguém escapa da influência daqueles que o antecederam ou lhe são contemporâneos, até mesmo de autores e obras que não se chegou a tomar conhecimento direto. É o círculo virtuoso da arte.

Nada há de errado, pois, e é até muito natural partir de um mesmo tema ou de uma mesma ideia para desenvolver uma nova obra. Os próprios artigos de Caetano e Xexéo, quase se repetindo um ao outro, são um exemplo disso.

O que me repugna é o maucaratismo, a cara de pau, o descaramento revelado por Martel. Algo parecido com o que fez Rod Stewart, que plagiou o refrão de “Taj Mahal” de Jorge Benjor e depois, para se safar do processo, cedeu os direitos autorais da “sua” composição “Do ia think I´m sexy?” para a Unicef!

Quando Moacyr Scliar morreu, em fevereiro de 2011, escrevi aqui a respeito da apropriação indébita de Martel, e fico contente agora em saber que, com Caetano e Xexéo, estou em boa companhia (sem nenhum plagiar o outro).

 

 

max-e-os-felinos (1)

life-of-pi (1)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Até as capas dos livros de Scliar e Martel são muito parecidas

 

 

 

 

Um século é pouco

 

 

 

rubem-braga-e-vinicius

 

No mítico jardim da sua cobertura,

Rubem Braga sentado ao lado de Vinícius de Moraes;

José Carlos de Oliveira entre os dois;

atrás, Paulo Mendes Campos e Sérgio Porto;

ao lado, com a mão no ombro de Vinicius, Fernando Sabino.

 

 

Um século de Rubem Braga é pouco.

Outros séculos passarão, e ele passarinho continuará por aqui, entre os que estamos e os nascituros.

Caderno especial, maravilhoso, sobre ele na edição de hoje de “O Globo”.

Tão especiais quanto, as várias publicações postadas por Selma no seu Bloghetto.

Clique aqui e vá até lá conferir.

 

 

 

A batida do João (e a canção do Brenno)

 

 

João Gilberto e a sua célebre batida no violão tornaram-se ícones da Bossa Nova. 

Também o jeito minimalista de João cantar é uma marca registrada da Bossa Nova.

Adoro a Bossa Nova, et pour cause João Gilberto. Divirto-me  com suas idiossincrasias lendárias que muitos criticam e não toleram.

Pois antes de João Gilberto (e não me refiro ao grande Mário Reis), na verdade contemporâneo dele, havia um cantor que fez muito sucesso e se tornou reconhecido sempre cantando baixinho, suave, gostoso como o quê. Faz parte daquele grupo que no início da década de 50 promoveu a transição dos compositores grandiloquentes e dos cantores de peito para o jeito intimista de cantar e compor.

Trata-se do mestre Tito Madi, nome artístico do filho de imigrantes libaneses Chauki Maddi, paulista de Pirajuí e que felizmente continua por aqui, na glória dos seus 83 anos.

Certa feita, João Gilberto pediu-lhe emprestado o violão, por achar que o som e a afinação eram melhores do que o dele. Empolgado, João queria ficar com o instrumento e como Tito não concordasse, quebrou-lhe o violão na cabeça. O ferimento deixou uma cicatriz permanente na testa de Tito Madi, que depois disso passou a dizer que ninguém conhecia tão bem quanto ele a batida de violão do João…

Brenno tem uma canção lindíssima, que durante muito tempo nos acalentou o sonho de que fosse gravada por Tito Madi. Chegamos a planejar várias maneiras mirabolantes de chegar até ele para lhe mostrar a música. Quem sabe ainda…

 

                                          DECERTO

 

 

 

Brenno 2

                                                                 Brenno Martins

 

 

 

                        Decerto

                        que o incerto

                        em meu mundo

                        se resume na frequência

                        da ausência de você.

 

                        Decerto

                        que a dúvida

                        em meu mundo

                        se baseia em meu silêncio

                        neste imenso não dizer.

 

                        Talvez

                        desta vez

                        eu não minta

                        eu não sinta

                        o medo

                        de me dizer

                        que eu te perdi

 

                        Mas como dizer

                        pra você

                        que eu te amei

                        que eu chorei

                        e bebi

                        e depois me perdi

                        e morri

                        sem dizer.

 

                        Transcrevo a letra de memória, cantarolando a melodia tão bela quanto (me corrija, Brenno, sem me quebrar o violão na cabeça…).

 

 

 

Vamos sair pra ver o sol…

 

 

 

 

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Tô de férias!

Sai o advogado esfalfado.

Entra o Tom desafinado,

mas apaziguado…

 

 

 

 

 

 Este fado bestial também é indicação da Selminha.

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