Posts from julho, 2013

Mano a Mano

 

 

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=KvgDcGdke98[/youtube]

 

 

Mano a Mano (Chico Buarque / João Bosco)

 

Meu pára-choque com seu para-choque

Era um toque

Era um pó que era um só

Eu e meu irmão

Era porreta

Carreta parelha a carreta

Dançando na reta

Meu irmão

Na beira de estrada valeu

O que era dele era meu

Eu era ele

Ele era eu

 

Ela era estrela

Era flor do sertão

Era pérola d’oeste

Era consolação

Era amor na boléia

Eram cem caminhões

Mas ela era nova

Viçosa, matriz

Era diamantina

Era imperatriz

Era só uma menina

De três corações

E então

 

Atravessando a garganta

Jamanta fechando jamanta

Na curva crucial

Era uma barra, era engano

Na certa, era cano

Na mão, mano a mano

Pau a pau

Na beira de estrada se deu

Se o que era dele era meu

Ou era ele ou era eu

 

Ela era estrela

Era flor do sertão

Era pérola d’oeste

Era consolação

Era amor na boléia

Eram cem caminhões

Mas ela era nova

Viçosa, matriz

Era diamantina

Era imperatriz

Era só uma menina

De três corações

E então

 

Então lavei as mãos

Do sangue do

Meu sangue do

Meu sangue irmão

Chão

 

 

 

Na galeria

 

       Selma Barcellos

Selma 2

 

 

 

 

 

 

 

O minúsculo salão para à entrada daqueles jovens. Altos, bonitos, atléticos, elegantes em suas bermudas cáqui, mocassins tipo italiano, um de camiseta ajustada ao corpo, o outro de social rosa-claro com mangas dobradas. Modelos, certamente.

De um lado, as manicures. Poucos metros à frente, as cabeleireiras. Apenas um cortaria o cabelo. O outro acomoda-se na cadeira ao lado, girando-a para melhor observar o companheiro. Conversam baixo, não olham para os lados, sequer pelo espelho. Discretos. Raros, portanto.

De vez em quando o que aguarda se levanta, circunda a cadeira e orienta a profissional quanto ao desenho da nuca do amigo. De quebra, passa a mão para tirar o excesso de pelos caídos.

Encerrados os trabalhos, uma única fala (entre)ouvida: “Deixa que eu pago. Não devia, hein! Você me fez passar a noite em claro com o choro do baby” .

Beijam carinhosamente a cabeleireira, dão um boa-tarde formal a todas nós, e se vão. Pela parede envidraçada que descortina a galeria, ainda os vemos, mão no ombro, brincadeiras, risos.

– Adoro esses irmãos… Corto o cabelo deles desde pequenos. Sempre educados e unidos assim… – diz a cabeleireira sacudindo a capa.

Corta. (barba, cabelo, bigode e, se conseguirmos, as conclusões precipitadas, os pré-conceitos)

 

FOFOCA-3-BRUCE-GILDEN

 (by Bruce Gilden)