Selma Barcellos
Querida ex-colega de trabalho envia notícias da chegada do primeiro netinho (bem-vindo, Bernardo!) e anexa esta charge. De imediato, a lembrança de certa “ pit-mamãe” , em relato de tempos atrás.
Não vejo novelas. São suficientes a ida ao salão, as mulheres comentando, e as dezenas de revistas que folheio enquanto as luzes do cabelo “acendem”. Daí saber que a atual “trama das oito” aborda uma pit-família. Pimpolho manda e desmanda, destrata a professora e é, invariavelmente, acobertado pelos pais em suas gracinhas.
Em recente reportagem intitulada “Pit-alunos levam professores a procurar divã”, leio o seguinte depoimento: “Um professor do curso de Direito foi procurado por um aluno que contou ser policial militar reformado por problemas psiquiátricos. O aluno começou a dizer que precisava de nota 6 para passar e que estava com vontade de matar alguém naquele dia.” O professor nem titubeou: “Toma um 8 e não se fala mais no assunto.”
O que anda acontecendo, senhores? Estive em sala de aula por 27 anos e não tenho uma pit-história? “Os tempos eram outros, tia Selma!” , dirão alguns. Nem tanto, pois que parei ao final de 2007. Quero crer que contei com o auxílio luxuoso do meu amor pela profissão e da escola e seus setores disciplinares priorizando o diálogo.
Mas houve uma vez um verão em que precisei chamar determinada mãe para uma conversinha. Não lembro o sexo do filhote, nem se o motivo era falta de estudo ou má disciplina.
Só sei que, final de expediente, sentada à mesa corrigindo alguns trabalhos, escuto um “boa tarde, professora”. Levanto a cabeça para responder e vejo adentrar o recinto uma mãe de… quimono. Sim, quimono, havaianas e suor, muito suor. Meio aberto, o uniforme deixava à mostra seu pescoço e seu plexo “de responsa” . Os braços não ficavam totalmente abaixados. A marrenta criatura ainda era faixa marrom, ou seja, estava a um golpe da preta. E se a sparring fosse eu?
Pedi que sentasse, por favor, e ela o fez. Só que… em cima da carteira. E, balançando as pernas musculosas, mandou um direto: “Qual é o problema?”. Confesso que não me intimidei. Apenas respirei fundo por viver tão bizarra situação e apliquei um “Mãezinha, é o seguinte…”.
Acho que aquele diminutivo surtiu efeito de um ippon… Molinha, molinha, ela me ouviu até o final, agradeceu, pulou fora do tatame, ops!, da carteira, e caminhou serena em direção ao corredor da escola, já às escuras.
Sei não… Se a figura não foi contratada para mostrar sua arte em algum seriado de TV, ficou molinha para sempre, uma flor de candura fazendo crochê enquanto pimpolho não chega para estudarem juntos.
Nunca mais tive notícias.
Urge a retomada dos tempos da palmatória e dos grãos de milho para serem ajoelhados. E as colunas para serem “cheiradas”. No meu tempo, de Marista, qualquer vacilo… e éramos convidados solenemente pelo irmão, ops, Irmão (com letra maiúscula): – Vai cheirar coluna! E constrangidamente íamos ao corredor que contornava o jardim cercado por imponentes colunas, escolhíamos uma que estivesse “vaga” (outros “delinquentes” já estavam pagando suas penas) e cumpríamos o vergonhoso castigo por meia, uma ou mais horas, dependendo da gravidade do ato infracional. Mas valeu! Hoje sinto melhor o cheiro das flores.
Brenno, no meu tempo íamos para a “sala de castigo” copiar 100, 200 vezes a mesma frase. No final, dedinhos doendo e a certeza de que em casa a cobra ia fumar.
Selma, parabéns à sua amiga pela chegada do primeiro netinho. Que ele venha a iluminar a sua vida.
Em relação a professores, creio que se trata de uma profissão sublime e muito bonita. Acho que a palmatória não é um meio adequado para resolver o mau comportamento do aluno, devendo sempre ser na base da conversa, ponderando, dialogando (mas paciência tem limite).
Tenho certeza que seus (eternos) alunos a guardam na memória e no coração.
Beijocas!
E eu a eles, André. Ontem mesmo encontrei uma aluna de 20 anos atrás e ao beijá-la disse seu nome e sobrenome. Ela não acreditou.
Diálogo sempre, querido.
Conhecendo outros episódios da encantadora “Tia Selminha”, que aos poucos irão sendo contados aqui, só tenho uma coisa a dizer: Babu adoraria que Manu a tivesse como professora!
Principalmente nos dias em que Babu vai buscar Manu na escola…
Como se dá aula para um raio de sol, Babu?
Raio de sol e estrela se entendem perfeitamente, Selminha…