Posts from março, 2013

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Bloghetto Selma Barcellos

 

Atenção, caríssimos e binários amigos,

Problemas técnicos no “Bloghetto Selma Barcellos”, que logo estarão resolvidos pela maestria do Duda.

Em breve tempo  “Annuntio vobis gaudium magnum: habemus Bloghettum!”

 

 

A formiguinha ruiva

 

          Annibal Augusto Gama

ANNBAL~1

 

 

 

 

 

 

 

Debruçado no parapeito da janela, ele vê a formiguinha ruiva, que se esconde numa fresta da madeira. A formiguinha disfarçada, que espera a mosca pousar ali, para a agarrar.

Teve um amigo e colega que não deixava varrer, do encontro de duas paredes, na sua sala, uma teia de aranha, com a sua aranha pernalta, lá em cima. Ele punha na vitrola o disco de Mozart, e começada a melodia, a aranha descia por um fio e permanecia escutando, embevecida, a música. Mas, quando tocava Beethoven, a aranha, mais que depressa, subia pelo fio e ficava lá em cima. Não apreciava Beethoven.

 

                                   Desta janela, exígua fresta

                                   Elegeu por morada uma formiga.

                                   Ao peitoril, como por praça antiga,

                                   Sai a passeio, a ver o sol, em festa.

 

                                   Foge ao menor rumor, lépida e lesta,

                                   (Lembrando-me, permita-me que t´o diga,

                                   A almazinha que tens, querida amiga,

                                   E que a todos se esquiva por modesta).

 

                                   Se é surpreendida acaso e o tempo é estreito

                                   Para tornar, fugindo, à frincha escura,

                                   Súbito estaca… nem um passo além!

 

                                   E ruiva como a luz, e de mistura

                                   Com a luz, na luz se some de tal jeito,

                                   Que estando à vista, não a vê míngüem.

 

O poeta Alberto de Oliveira, com o seu bigode torcido em ponta, fala, em outro poema, em “cheiro de espádua”. Mas era a tua espádua, Aninha, que cheirava bem.

Agora, ele está, menino, agachado sobre o rego, mo quintal, construindo com pauzinhos, uma ponte, para as formigas passarem de um lado para outro da torrentezinha.

— Que está você fazendo aí, menino?

— Estou fazendo uma ponte, para as formigas atravessarem o reguinho 

— Que menino mais bobo.

Bobas ou espertas eram também as formigas, que se recusavam atravessar sobre a sua ponte. Não acreditavam na sua engenharia.

Mais tarde, muito mais tarde, ele veria a ponte de ferro, que Euclides da Cunha construíra sobre o Rio Pardo. E, para cá, a casinhola de sarrafos, onde ele escreveu algumas páginas de Os Sertões. Mais duro foi atravessar a ponte sobre o Rio Grande, da fazenda à Estação de Jaguara. O pai ia à frente e recomendava: “Não olhe para baixo”. Lá embaixo, um abismo, as águas ferviam, E se viesse o trem, pela ponte? Não vinha, não era hora dele.

 E ele chegou afinal à Estação de Jaguara, trêmulo, as pernas bambas.

 Mas tinham ainda de voltar, santo Deus!

Hoje ele percebe que todas as pontes ruíram atrás dele.

 

 formiguinha