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Silêncio companheiro

 

 

          Selma Barcellos

Selma (perfil)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dois dedinhos de prosa (e verso) sobre amigos, em silêncio companheiro, obsequioso… 

 

 

 

Uma longa mesa de amigos, na churrascaria Plataforma, era o refúgio de Tom Jobim contra o sol do meio-dia e o tumulto das ruas do Rio de Janeiro.

Naquele meio-dia, Tom sentou-se em mesa separada. Num canto, ficou tomando chope com Zé Fernando Balbi. Compartilhava com ele o chapéu de palha, que usavam em turnos, um dia um, no dia seguinte o outro, e também compartilhavam outras coisas:

– Não – disse Tom, quando alguém chegou perto. — Estou numa conversa muito importante.

E quando outro amigo se aproximou:

– Você me desculpe, mas nós temos muito para falar.

E a outro:

– Perdão, mas nós dois estamos discutindo um assunto sério.

Nesse canto separado, Tom e Zé Fernando não se disseram uma única palavra. Zé Fernando estava em um dia fodido, num desses dias que deveriam ser arrancados do calendário e expulsos da memória, e Tom o acompanhava, calando chopes. E assim ficaram, música do silêncio, do meio-dia até o final da tarde.

Não tinha mais ninguém por lá quando os dois foram-se embora, caminhando devagar.

 

(Eduardo Galeano, em ‘Bocas do Tempo’)

 

 

*******

 

ainda ontem

convidei um amigo

para ficar em silêncio

comigo

 

ele veio

meio a esmo

praticamente não disse nada

e ficou por isso mesmo

 

(Paulo Leminski)

 

Paulo-leminski-em-foto-de-1984 

 

 

 

Delação

 

        Adalberto de Oliveira Souza

Adalberto

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                           DELAÇÃO

 

 

                                                           Estardalhaços,

                                                           capitulações e quedas,

                                                           presentes em um cabedal

                                                           Arrasado,

                                                           um ardente inferno

                                                           indefectível e frio.

 

                                                           Como o aço,

                                                           o carretel do destino

                                                           em cores esparsas

                                                           e cabriolas intempestivas

                                                           instantâneas e mormente

 

                                                           cadentes as estrelas

                                                           suprem a falta

                                                           da falsa aparição

                                                           tão necessária

                                                           para o sonho,

                                                           as ruínas, os calafrios do pesadelo

                                                           e a certeza, qual certeza?

           

                                                           Gravidade sem mais senão

                                                           simples descalabro.

 

 estrela cadente

 

 

 

O silêncio caiu

 

             Annibal Augusto Gama

Annibal

 

 

 

 

 

 

 

Num conto de Vladimir Nobokov, leio a frase: “o silêncio caiu”. Suponho que a tradução do seu texto, do inglês para o português, seja correta. E, sabidamente. Nobokov era um estilista. Mas pergunto a mim mesmo: o silêncio cai?

Alguém, há muito, muito tempo, escreveu: “o silêncio caiu”. Depois disso, centenas, milhares de outros escritores, repetiram: “o silêncio caiu”. A frase torno-se um clichê.

Ora, o silêncio não cai. Não é um, saco de chumbo, para cair do teto. Depois, ao invés de cair, pode também levantar-se do chão. Expandir-se, envolver uma sala e as pessoas que se acham nela.

Também habitualmente se diz ou se escreve: “A noite caiu”. Pois bem: A mim me parece que a noite não cai. Ao contrário. ela parece brotar do chão. O que cai é o sol, no horizonte.

Admite-se que a chuva caia, ou que o vento uive na folhagem das árvores. Mas essas frases, de tão repetidas, viraram lugares comuns, que já não nos dizem nada.

Elas compõem o que se denomina “fraseologia” de um idioma. E quase ninguém escapa disso, que já nada significa.

Homero escreveu, na sua épica: “os dedos róseos da aurora”. Era poético, numa época em que os deuses e as deusas habitavam a Terra. O mundo estava cheio de ninfas.

Muitos, muitos séculos depois, aqui no Brasil, no parnasianismo, Raimundo Correa faria aquele verso: “Raia, sanguínea e fresca, a madrugada”.

E as pombas vão e vêm…

Para um verdadeiro escritor, ou poeta, escrever é de novo descobrir o mundo. Vê-lo com os olhos que nunca outro o viu.

Todavia, a maior parte deles, repete os clichês.

Por isso mesmo, Vallery dizia que não seria capaz de escrever um romance. Porque,.em alguma parte dele, teria de escrever: “Madame, comment allez vous?”

  

silêncio

 

 

 

Dias Nublados

 

         Selma Barcellos

Selma (perfil)

 

 

 

SHAKE

 

 

Recentemente, em seu já antológico artigo “O Brasil está com ódio de si mesmo”, órica mutação. Segundo o cronista, espontaneidade e graça, que eram nossa marca, deram lugar à fúria inesperada, à perda da solidariedade primal, quase instintiva, a “dores nunca antes sentidas”.

Em “À flor da pele”, Joaquim Ferreira dos Santos retoma o assunto. Não mais que de repente, pondera, somos todos suspeitos, roda-se a baiana, puxa-se a peixeira, privadas caem na nossa cabeça, todo mundo “fuleco da vida”. Por onde andarão, pergunta, “o homem cordial, o gajo afável desta patriamada gentil, a namoradinha do Brasil, a velhinha de Taubaté, o Jeremias, o bom, os descendentes do Profeta Gentileza”…? E antevê: “Se Stefan Zweig, morto em 1942, baixasse num centro mediúnico da Vila da Penha, seria linchado por ter publicado o livro em que chamava o Brasil de ‘país do futuro’”.

Está feia a coisa, sim. Convém nos acalmarmos. Afinal, estão chegando os alquimistas e os convidados desta já insuportável Copa do Mundo. Urgem bom-humor e etiqueta. Certa décadence avec élégance, por que não? Nada de guardar cartão de visitas dado por asiáticos até que eles se despeçam, não puxar conversa nem cadeira para muçulmanas (só o marido pode), jamais estender a mão esquerda (tida como impura, a da higiene) para iranianos, não bocejar para colombianos, e por aí vai.

Não sei se vos contei. Há alguns meses, visitando o Marrocos, o filho da blogueira adentrou um banheiro público onde havia, bem no centro, uma espécie de cuba, imensa, retangular, com água escorrendo continuamente. Não teve dúvida. Engatilhou. Só sentiu uma mão no ombro e uma voz ao pé d’orelha: “Não faça isso. Esta é a pia onde lavamos as mãos e os cotovelos para as orações”. Jura que ouviu o sssip! da adaga. Está correndo até hoje.

Agora falando sério. Com o pote até aqui de mágoa e a irritação que nos une em torno da grande área, imagina se algo acontece na pia das nossas devoções?

Cantemos, irmãos. Cariocas são bonitos, cariocas são bacanas…

 

“Cariocas” (Adriana Calcanhotto), com ela

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=Iyx63i8BV5A[/youtube]

 

 

 

Continuação

 

          Adalberto de Oliveira Souza

Adalberto

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                           CONTINUAÇÃO

 

 

                                                           Busca diária busca.

                                                           busca de alfarrábios,

                                                           de cabedais resgatados,

                                                           de castiçais perdidos em muralhas

                                                           soturnas, de cata-ventos ativos

                                                           e vitoriosos,

                                                           busca do futuro

                                                           do passado, do presente.

 

                                                           Busca eterna busca.

 

                                                           Onde estou?

                                                           Onde?

                                                           Sou eu?

                                                           Sou eu?

                                                           Interrogo.

                                                           E a pergunta permanece.

                                                           Intacta.

 

Catavento_de_Borboletas[1]

 

 

 

Freela

 

 

Dedicado a todos meus amigos freelas

 

Quando um pai pergunta para uma filha o que ela quer ser quando crescer, ele nunca ouvirá a resposta “freela”. Ninguém quer ser o que não se sabe o que é. Mas é isso que eu sou hoje, “freela”.

 

REWIND

Na infância eu quis ser professora, Nadia Comaneci, jogadora de basquete e alquimista. Cresci demais para a ginástica olímpica e de menos para o basquete. Nunca encontrei o ouro e o magistério já era uma profissão para poucas heroínas que não ligavam para dinheiro.

 

Também fui "Nossa Senhora" na escola

Foto de quando fui “Nossa Senhora” na escola

 

 

FAST FOWARD

Quando meu boletim do 3o colegial apontou que eu era a 298a aluna dos 300 eu sabia que não me restavam muitas opções. Meus pais rezavam para que eu crescesse um dia. Eu rezava para ir embora da entediante Ribeirão Preto. Foi neste momento em que a diretora me chamou para um “teste vocacional”. Respondi que meus ídolos eram o Sílvio Santos (ainda é) e o Antônio Erminio de Moraes (WTF?). E o resultado foi: Relações Internacionais. Ela disse que eu deveria ser Diplomata (!). Como eu não sabia o que isso significava, me inscrevi em RI na PUC-SP, Relações Públicas na FAAP (porque eu queria muito estudar naquela faculdade de prédio bonito) e meu pai me obrigou a prestar vestibular de Direito na Unip. “Se nada der certo, você vai fazer direito, ser minha aluna, ter bolsa de estudo, ficar em Ribeirão e parar de fumar. Ponto.” Era a minha sentença por uma adolescência rebelde. Dois milagres nunca antes vistos aconteceram na história da humanidade: passei na FAAP em 9o lugar e não passei no vestibular da Unip. Quando se é premiada com a sorte grande, não se faz mais nada. Não prestei PUC, nem Fuvest. Fiquei na minha, peguei o Cometão, vim pra SP e entrei na FAAP.

 

MINI FAST FOWARD

E lá no Prédio 4 (que não é o bonitão da frente) você se descobre no meio de 50 alunos. Um dia, um professor maluco começa uma aula toda no escuro apenas com um isqueiro na cara. Pergunta o que é aquilo. Ninguém responde. Ele diz que aquilo não é aquilo e você descobre a Semiótica. E também descobre que não é ilegal fazer conta de calculadora, que é possível tirar 10 numa matemática que chama estatística. Descobre até que gosta de ler e sabe escrever. Descobre mais, que sabe trabalhar em grupo, que ama fazer televisão mas que não sabe o que fazer com tudo aquilo pra ganhar dinheiro. Mas seus pais já estão tão felizes de você fazer alguma coisa que até te dão uma boa mesada por mês.

 

MINI FAST FOWARD

Aí um dia você fica com a consciência pesada de usar o dinheiro deles para comprar Marlboro e cerveja e decide trabalhar. Você já está fora de casa e quer soltar a última amarra que tem com eles: grana. Então aceitei um trabalho de recepcionista de eventos. Ganhava R$ 35,00 (que muitas vezes ficava no transporte porque eu ía de táxi), usava salto e tinha que sorrir para médicos que participavam de uma convenção. Eu separava as VHS das cirurgias. Descobri que tinha médico que editava colonoscopia com a música do Titanic. Um dia eu tava tão exausta que cometi o pecado de me debruçar em cima de uma mesa. Tomei uma bronca tão grande que descobri o que é ter chefe. Aí uma amiga me disse que tinha um pessoal de uma ONG precisando de uma assistente de edição para um projeto que formava índios cinegrafistas. Eu não sabia direito o que era edição nem muito mesmo que existiam índios cinegrafistas. E assim passei um ano selecionando imagens para uma série de documentários que foi veiculada na TV Cultura sobre os 500 anos do Brasil. Fiquei maluca. Meu nome apareceu nos créditos e achei que era meu ápice na história da televisão brasileira. Foi aí que entendi o que era ser freela. Acaba o projeto, e você dá o fora e começa tudo de novo.

 

MINI FAST FOWARD

O tio da minha amiga trabalhava em uma produtora. Precisava de uma assistente de direção (direção do que?). Levei um álbum de fotos debaixo do braço e fui. Acho até hoje que ele achou graça daquilo mas eu queria tanto um emprego que ele confiou em mim. O que eu aprendi em um ano de set foi mais do que em qualquer escola. Entendi como funcionava um vídeo, um roteiro, uma edição, uma equipe, um cronograma, verba, o machismo e a hierarquia. Aprendi que o produtor é o primeiro a chegar e o último a sair, que o Diretor de Fotografia é o que demora mais (sempre) para fazer as coisas, que para a figuração o que importa é ter bastante comida. Vi que era possível editar a vida num vídeo com bg de fundo. Eu tinha achado. Era aquilo!

 

MINI FAST FOWARD

Aí, quando achei que sabia fazer aquilo me chamaram pra escrever umas coisas. Eu escrevia. Depois me pediram para gravar uma locução, eu gravei. Depois eu gravei uma reportagem, comecei a fazer pauta. E pronto, disseram que eu era jornalista. Para ódio alguns dos meus colegas que fizeram 4 anos de jornalismo eu tirei o MTB em dois dias. Era jornalista. Mas também não era. Era vídeo. Era texto. O que era mesmo?

 

PGM

“Mãe, eu tô na TV”

 

“Chama aquela menina que faz direção de vídeo, escreve, grava, edita e pede para ela cuidar do evento, da comunicação interna, do novo site, para criar uma campanha, pra escrever meu discurso”…. E a cada dia me pediam mais coisas. Aí surgiu um tal de Facebook, uma nova onda chamada Social Media e falaram: Dá para ela escrever aquilo, criar uma apresentação, criar um post, rascunhar um layout, fazer um branding, inventar uma estratégia, criar um treinamento, inventar uns personagens, dirigir uma celebridade, fazer um podcast, analisar um relatório…

 

PAUSA

E fui fazendo.  Continuo fazendo. E vou continuar.

Aí olho minha conta no banco. Tenho uma vontade estúpida de ligar para o meu pai. Não ligo. Já sei o que ele vai dizer:  “Filha, mas você trabalha tanto, como não ganha dinheiro, o que faz mesmo?”

É… pai, sou freela.

 

Foto

 

bell

Momentos no último set

 

 

Bell Gama

Maio/2014

 

 O vídeo dirigido pela Bell no freela acima

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=XNuFZMOCwAk[/youtube]

 

 

 

A morte veste Prada

 

         Selma Barcellos

Selma (perfil)

 

 

 

 

 

 

 

  

“Todo dia leio cuidadosamente os avisos fúnebres dos jornais: às vezes a gente tem surpresas agradabilíssimas.”  

“A morte é dramática, o enterro é cômico, e os parentes, ridículos.”  

(Millôr Fernandes)

 

 

Surpresa é a notícia de que cresce no mercado o segmento ‘funeral de luxo personalizado’, tendência originada – pasmem! – nos EUA. Segundo os empresários, sucesso absoluto. Nenhum ‘homenageado’ voltou para reclamar. Quanto ao ridículo/cômico, ou nada disso, prossigam com a leitura.

Mansões, sobretudo em São Paulo, disponibilizam lounges fúnebres com decoração temática que alude a Paris e Nova York, bufês variados, manobristas, carro importado com LED para o transporte do féretro, trilha sonora – Enya, My Way, imprescindíveis – e doces, os bem-velados, distribuídos na saída, pequenos mimos para que os ‘convidados’ fiquem, digamos, satisfeitos (o morto, este sim, é um homem realizado).

Se a família preferir o evento em casa, para tudo há solução (menos para a dita cuja). Basta chamar o Funeral Home ou velório delivery. Até porque não existe segurança nos cemitérios à noite.

Uma promoter de funerais com glamour conta que tapete persa, música ao vivo e helicóptero lançando pétalas já foram atendidos. Lamenta apenas não ter podido realizar o último desejo de um cliente que queria pés de cana e limão sobre seu túmulo para “fazer caipirinhas eternamente”.

“Fico besta como morrem os personagens de Shakespeare, nem os passarinhos morrem com mais naturalidade, com mais simplicidade. Vede, o personagem faz um teatrozinho, é ferido (ninguém morre de cama, é tragédia!) e… morre. Morre assim nesta única palavra, dies. É ou não é formidável? Morrem numa palavra.”  (Otto Lara Resende)

Porém, em se tratando de oratória fúnebre, o bardo inglês é um mustSó não deixem a promoter saber.

 

 

 

Ausências

 

       Adalberto de Oliveira Souza

 Adalberto

 

 

 

 

 

 

 

                                                        AUSÊNCIAS

 

 

                                   Meus ouvidos ainda cheios de sua voz,

                                   eu de braços e ideias cruzadas,

                                   em companhia,

                                   da desconexão timbrada

                                   no vazio do cansaço.

 

                                   Impressa a alegria cinzenta no rosto,

                                   o ritmo cambaleante das horas.

                                   a espera calada,

                                   e a pretensão de tudo dizer.

 

                                   A esperança, essa sim.

                                   colada aos anseios

                                   permanece,

                                   colando nos gestos certeza

                                   de um mundo sem tempo

                                   defronte a janela,

                                   a eterna presença dos sorrisos

                                   sem enigma.

 De noche vienes

 

 

 

Balde D’Água

 

          Annibal Augusto Gama

Annibal

 

 

 

 

 

Quando passava debaixo da janela, ela entornou sobre ele o balde d’água com que regava as plantas, no balcão. Ele olhou para cima, aborrecido. Oh, exclamou ela, me desculpe, foi sem querer. E ainda bem que não entornara sobre ele o conteúdo de um urinol, se é que ainda existem urinóis.

Por favor, entre, que eu vou enxugar a sua roupa. Ele entrou, ela ajudou-o a tirar o paletó, e tratou de ir secá-lo e passar-lhe o ferro quente. As suas calças também estavam molhadas, mas ele não iria sacar as calças. Pediu uma toalha, e enxugou-as como pode. Não conseguiu deixar de rir.

É a primeira vez em que conheço uma mulher que me entorna um balde d’água. Ela também sorriu. Nunca o vi caminhar por aqui. Explicou-lhe que viera por ali casualmente, sem dar-se conta, porque o seu caminho habitual era outro. Vestiu o paletó, e já ia embora. Aceita um cafezinho? ─ ela lhe perguntou. Aceitava, e ela lhe trouxe uma xícara de café. Mais uma vez, me desculpe. Era uma mulher de uns trinta anos, bonita, mas sem exagero. Espero que isto seja o começo de uma amizade, disse-lhe. Também espero, ela concordou.

Uns dias depois, ele passou debaixo da mesma janela. Parou e bateu na porta. Ela abriu e convidou-o a entrar. Entrou. Um cafezinho coado agora mesmo vai bem? Outra xícara de café, ele sentou-se na poltrona que ela lhe indicou, e acendeu um cigarro. Chamava-se Maria de Nazaré.

Tudo começa imprevistamente, ou é o destino, como se propala.

Maria de Nazaré contou-lhe sua vida. Morava sozinha, com a mãe, que ele ainda não vira. Providencialmente, na ocasião, a mãe estava ausente, em outra cidade, visitando parentes.

─ E o senhor, que me conta do senhor?

Não ia fazer-lhe um relatório; contou-lhe o que podia interessar, uma coisa e outra. Não me chame de senhor, que eu também não a chamarei de senhora, Maria de Nazaré.

─ Agora que nos conhecemos…

─ Por força de um balde d’água entornado…

─ Seja como for, me sinto feliz.

As mãos dela entre as mãos dele, ambos sentados um diante do outro.

Um ano depois estavam casados.

Minha leitora ocasional: quando as coisas não estão dando certo, e a vida parece um tédio prolongado, atire um balde d’água no cavalheiro que passar debaixo da sua janela.

 

regador 3

 

 “O que é o amor?” (Danilo Caymmi / Dudu Falcão), com Selma Reis

 

 

Gene é um gênio

 

Enviado por Selma Barcellos

(vídeo montagem de Antonio Romane, genial colaborador do Bloghetto Selma Barcellos)

 

  

Rádio Todo Sentimento une-se hoje à coirmã Verouvir e orgulhosamente apresenta, em primeira mão, a música que Gene Kelly sonhava dançar na antológica cena da chuva, mas, por algum motivo, não foi possível. :-)

Por falar em gênio, valendo prêmio, Romane!

 

 

 

 

Abel Ferreira tocando “André de Sapato Novo” , de André Victor Correia​

http://www.youtube.com/watch?v=SZAIwmYr5BQ

 

Obs.: Conta-se que André Correia estava num baile e passou maus momentos ao dançar com um sapato apertado. A dor dos calos, fato aparentemente banal, foi a inspiração para o talentoso compositor nos legar um dos mais populares choros da história da música brasileira. Poucas músicas têm o privilégio de poder ser identificadas por uma nota, como é o caso de  “André de Sapato Novo”. Bastava Pixinguinha extrair do saxofone seu Mi grave para todo mundo reconhecer o que vinha a seguir. Aquele grave representava a parada que faz a todo momento o indivíduo que calça um sapato novo, calos gritando dentro do calçado… (Selma Barcellos)