Em Ribeirão Preto, a Avenida Brasil encontra-se com a Avenida da Saudade, na qual se situa o velho cemitério.
Não é uma rima, tampouco uma solução, mas não deixa de ser emblemático.
Enquanto a Avenida Brasil continua um sucesso de crítica e de público, propagando-se pelas cidades do país, a Avenida da Saudade já teve melhores momentos e vai sendo esquecida, como a maioria dos defuntos no cemitério. Tanto que se precisa de um feriado para que os finados sejam lembrados. Mas quem aguenta um feriadão sem ir para a praia e se enterrar na areia?
A “saudade” já foi tida e havida como patrimônio nacional, melhor dizendo, da língua portuguesa, que segundo se dizia era a única a ter uma palavra própria para designar esse estranho sentimento.
Não mais temos tempo de sentir saudade, saudade é coisa de velho (jovem também tem saudade, mas apenas no slogan), é pra frente que se anda, sai da frente que atrás vem gente, o passado é uma roupa que não nos serve mais, o futuro nos espera!
Ao fim e ao cabo, a Avenida Brasil sempre desemboca na Avenida da Saudade.
Finitude
No dia de finados
lá se vão os semoventes
com ares penitentes
em visita aos residentes.
Pelas aléias
dos cemitérios
sérios semblantes
flores sequiosas
que murcham ao sol
velas vacilantes
ardendo em prol
preces e lamentos
aos quatro ventos.
Melhor deixar
o morto em paz
absorto
no corpo que se desfaz.
O morto mudo
liberto
enfim de tudo.
Aqui o Cemitério é que se chama Saudade. E a avenida onde está, Independência. Boas analogias também. Beijos
“não mais temos tempo de sentir saudade”… será?
acontece que
algumas vezes
nossa mão escreve ao lado dos mortos
ainda que ria o tempo
e na janela alta se prenda
o sol rosado da tarde
prestes a se perder no escuro
essas mãos
que se vencem e escrevem
ao lado dos mortos
e nós – essa é nossa certeza – avançamos por trás.
Lindo, Lúcia.
PS – Finitude: lindo demais!