Nesta nossa semana da palavra,
com a palavra o poeta Brenno
A palavra do lavrador
caiu na terra arada
e ele, distraído,
passou de novo o arado
e a palavra ficou enterrada…
ou semeada
ou incrustada
ou adormecida.
Se um dia ela germinar
pode crescer
virar discurso
pode virar oração
ou ladainha
ou até reclamação.
Pode ramificar galhos de protesto
ou soltar raízes
de meditação
ou mortificação.
A palavra pode crescer
pode morrer
apodrecer
ou ficar p’ra semente
se ela não for
imediatamente
dita.
As palavras inúteis
iam sendo escritas
na muralha de pedra:
um muro alto, espesso, extenso…
como a Muralha da China,
como o de Berlim.
As palavras de pedra
se incrustavam
entre outras pedras e concreto.
As palavras de plástico
se sobrepunham às palavras de vidro,
às palavras de nuvem,
às palavras de vento,
às palavras de estrela…
Milhões de palavras
se aglomeravam
no intransponível muro.
Palavras de fogo,
palavras de gelo,
palavras de terra…
milhões de palavras
pintavam o muro.
O muro impassível,
o muro passivo,
o muro infiltrado
por tantas palavras
ganhou rachaduras,
abalos sensíveis
em sua estrutura.
O muro rachado,
o muro alquebrado…
Palavras pesadas,
palavras demais…
O muro ruiu.